O cientista social Manuel Diégues Júnior

Grupo Escolar Diegues Júnior em 1924, Rua Epaminondas Gracindo, na Pajuçara. Arquivo IHGAL

O sociólogo, jurista e folclorista Manuel Baltazar Pereira Diégues Júnior nasceu em Maceió no dia 21 de setembro de 1912. Era filho de Manuel Balthazar Pereira Diégues Júnior, o Dr. Diégues Júnior, e Luísa Amélia Chaves Diégues (faleceu em 21 de outubro de 1953).

Seu pai foi diretor de Instrução Pública nos governos de Gabino Besouro, Clodoaldo da Fonseca e Fernandes Lima, além de ser reconhecido como historiador, geógrafo e escritor. Presidiu o então Instituto Archeológico e Geográfico Alagoano por mais de uma década.

Diégues Júnior na formatura em 1935

O dr. Diégues Junior, o pai, foi professor de Geografia do Lyceu Alagoano e da Escola Normal. É de sua autoria o Compêndio de Geographia e Cosmographia, aprovado para uso do Curso Normal e das escolas primárias de Alagoas e publicado em 1890.

Manuel Balthazar Pereira Diégues Júnior, o pai, nasceu em 29 de outubro de 1852 e faleceu no dia 29 de agosto de 1922. Morava no Poço, em Maceió. Era filho do comerciante português Manuel Balthazar Pereira Diégues e da pernambucana Maria Joaquina da Fonseca — casaram-se em Recife em 1851 e chegaram em Maceió em 1852. Tiveram sete filhos.

Estudou o primário e o secundário em Maceió e Direito em Recife, Pernambuco. Foi diplomado em 1877. Ainda na capital pernambucana, iniciou-se no magistério como professor do Colégio Santa Genoveva e do Colégio 2 de Dezembro, neste chegou a vice-diretor. Fundou ali a Escola Filotécnica, que veio a se fundir com outro colégio fazendo nascer o Colégio de Isabel. Era professor de Filologia, História e Geografia.

De volta a Maceió, foi eleito deputado provincial em 1881, ao mesmo tempo que fundava o Colégio Bom Jesus em parceria com o também professor Francisco Domingues da Silva e se dedicava ao Lyceu Alagoano como professor de Geografia. Foi diretor de Instrução Pública em 1886. Voltou a esse cargo mais duas vezes, nos governos de Gabino Bezouro e Clodoaldo da Fonseca.

Foi ainda presidente do Instituto Arqueológico e Geográfico de Alagoas, membro da Academia Alagoana de Letras.

Pai e filho tinham o mesmo nome, o que provocou e ainda provoca confusão entre os historiadores. Quando o Major Bonifácio fundou e dirigiu a Escola Noturna Diégues Junior, em 1907, homenageava o pai.

Rua Epaminondas Gracindo em 1922, com o Grupo Escolar Diégues Júnior

Rua Epaminondas Gracindo em 1922, com o Grupo Escolar Diégues Júnior

Da mesma forma fez o governador Batista Acioli em 1916, quando comprou um terreno na Rua Epaminondas Gracindo, na Pajuçara, para construir um grupo escolar. No ano seguinte, o prédio em construção já era conhecido como Grupo Escolar Diégues Júnior, como continua sendo até hoje.

Quando Diégues Júnior, o filho, iniciou os estudos primários, o fez no Grupo Escolar Diégues Júnior, na Pajuçara. Concluiu o curso secundário no Ginásio de Maceió, após iniciá-lo no Lyceu Alagoano.

Após a perda do pai, quando tinha apenas 10 anos de idade, a família viveu um período de dificuldades financeiras. Sua mãe passou a dar aulas de piano e o jovem Diégues Júnior teve que começar a trabalhar mais cedo.

Com 15 anos de idade já desenvolvia ativa vida cultural. Partiu dele a iniciativa de reunir amigos, entre eles Aurélio Buarque de Holanda, para fundar o Grêmio Guimarães Passos. A reunião inicial aconteceu em sua casa e ele foi escolhido para presidir a agremiação que chegou a ter 42 sócios. O grupo ficou conhecido como “os meninos impossíveis“.

Diégues Júnior em Buenos Aires, 1964

Diégues Júnior em Buenos Aires, 1964

O historiador e professor Douglas Apratto assim avalia o Grêmio Guimarães Passos: “Pode-se dizer que o Grêmio foi um dos pontos altos da renovação cultural da província. Exposições artísticas, festas lírico-musicais, vesperais dançantes. Criou-se o Instituto Rosalvo Ribeiro, destinado ao ensino das Belas Artes, e até a criação da curiosíssima Liga contra Empréstimos de Livros“.

Em 1931 foi estudar em Pernambuco, na Faculdade de Direito do Recife, onde concluiu o curso de Ciências Jurídicas e Sociais em 1935 e divulgou as pesquisas que o situa como um dos primeiros cientistas sociais do Brasil, ao lado de Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, com quem trabalhou em algumas pesquisas quando estudante em Recife.

De volta a Maceió, casou-se com Zaira Fontes em 26 de março de 1948, após 13 anos de namoro. Tiveram quatro filhos: o contra-almirante Fernando Manuel, Carlos José (o cineasta Cacá Diégues), o economista Cláudio Diégues e a antropóloga Madalena Diégues.

Diégues Júnior em uma caricatura de 1954

Diégues Júnior em uma caricatura de 1954

Como professor, lecionou na cadeira de História da Civilização do Lyceu Alagoano, ao mesmo tempo que era funcionário na Delegacia Regional do Trabalho.

Interessou-se pela sociologia e frequentou diversos cursos dessa especialidade, inclusive com os professores estrangeiros que vieram ao Brasil para estruturar o ensino da disciplina nos anos 30 e 40.

Em 1939, foi para o Rio de Janeiro trabalhar no IBGE e no ano seguinte assumiu a direção do órgão no Espírito Santo. Dois anos depois estava de volta a Maceió para assumir cargo idêntico no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Após um ano em Maceió, fundou o Centro de Estudos Econômicos e Sociais, mobilizando personalidades como Aurélio Viana, Rui Palmeira, Melo Mota, Luiz Lavenère, Afrânio Melo, Sebastião da Hora, Luiz Calheiros Júnior e Barreto Falcão.

Voltou ao Rio de Janeiro em junho de 1945 para assumir a função de Chefe de Difusão Cultural do IBGE. Três anos depois, já sendo reconhecido por seus trabalhos, foi designado para a Comissão Nacional do Folclore do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC).

Exerceu ainda a chefia do Departamento de Estudo e Planejamento do Instituto Nacional de Imigração e Colonização.

Rua Epaminondas Gracindo em 1924, com alunos do Grupo Escolar Diégues Júnior Arquivo IHGAL

Rua Epaminondas Gracindo em 1924, com alunos do Grupo Escolar Diégues Júnior Arquivo IHGAL

No Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, foi diretor de 1958 a 1974. Assessorou a Comissão Nacional de Política Agrária de 1961 a 1974. Atuou como diretor de programas especiais do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Brasil.

Foi professor de Etnologia da Faculdade de Filosofia da Universidade Santa Úrsula, membro do Conselho Nacional de Serviço Social Rural, diretor-geral do Departamento de Assuntos Culturais, presidente da Câmara de Ciências Humanas do Conselho Federal de Cultura e depois secretário de Assuntos Culturais do MEC, de 1974 a 1979, e, a partir daquele ano, diretor estadual do Instituto do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro.

Na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, foi professor de Antropologia Cultural e Antropologia do Brasil, além de chefiar o Departamento de Sociologia e Política daquela instituição por vários anos.

Foi ainda membro efetivo do Conselho Técnico da Campanha de Defesa do Folclore, vice-presidente do Conselho do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC) e, finalmente, membro do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio.

Diégues Júnior, autor de O Banguê nas Alagoas

Diégues Júnior, autor de O Banguê nas Alagoas

Em 1960, participou da Comissão de Matéria Social, instituída pela Organização dos Estados Americanos (OEA) com o objetivo de estudar e implementar medidas decorrentes da Ata de Bogotá, no campo social.

Assessorou a Delegação do Brasil nas Conferências Gerais da Unesco em 1962, 1966, 1968 e 1970. Foi delegado do nosso país nas Conferências Gerais de 1974 a 1978.

Ministrou cursos em universidades estrangeiras e pertenceu à Americam Antropological Association e ao Instituto Histórico Brasileiro, entre outras instituições culturais, tendo presidido a Associação Latino Americana de Sociologia.

Faleceu no Rio de Janeiro no dia 27 de novembro de 1991, no Hospital Naval Marcílio Dias, um mês depois de receber do reitor Fernando Gama o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal de Alagoas.

Obras

Evolução Urbana e Social de Maceió no Período Republicano – 1939

Variações Sobre Temas Regionais – 1942

Em abril de 1974 assume o Departamento de Assuntos Culturais do MEC

Em abril de 1974 assume o Departamento de Assuntos Culturais do MEC

O Banguê nas Alagoas. Traços da influência do sistema econômico do engenho de açúcar na vida e na cultura regional – 1949

O Engenho de Açúcar no Nordeste – Introduccion a La Sociologia Nacional – 1952. Manuel Diégues Júnior – Etnias e Culturas

História e Folclore do Nordeste – 1953

O Município e a Valorização das Atividades Locais – 1954

População e Açúcar no Nordeste do Brasil – 1954

Etnias e Culturas no Brasil – 1956

Folguedos Populares de Alagoas – 1958

Estudo das Relações da Cultura no Brasil – 1959. Manuel Diégues Júnior – Ciclos Temáticos

População e Propriedade da Terra no Brasil – 1959

Regiões Culturais do Brasil – 1960

O Brasil e os Brasileiros; ensaios sobre alguns aspectos das características humanas das populações brasileiras – 1964

Região, Desenvolvimento, Cultura – 1964

Science et Nescience -1970

Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel – 1971

Ocupação Humana e Definição Territorial do Brasil – 1971

Literatura de Cordel – 1976

Fonte: Pesquisa do professor Douglas Apratto para o fascículo Memória Cultural de Alagoas, de 16 de junho de 2000, publicado pela Gazeta de Alagoas; site ABC das Alagoas; Jornais O Orbe e Gutemberg, de Maceió, e Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.

10 Comments on O cientista social Manuel Diégues Júnior

  1. Maria da Penha // 21 de outubro de 2015 em 22:06 //

    Que personalidade importante e produtiva. Quanta coisa boa nos brindou!

    Grata!

  2. Dileusa Costa // 4 de maio de 2020 em 19:12 //

    Em algumas pesquisas realizadas percebi que o nome dele está escrito de forma diferente, gostaria de saber qual o correto: Manuel Baltazar Pereira Diégues Júnior ou Manoel Balthazar Pereira Diégues Júnior?

  3. Ticianeli // 4 de maio de 2020 em 19:48 //

    As duas grafias existem. Antigamente se escrevia Manuel, depois foi modificado para Manoel. Hoje é que se mantém o nome registrado, independente de mudanças ortográficas. Mas antes era comum o Manuel passar a assinar como Manoel.

  4. Eduardo dos santos silva // 11 de janeiro de 2021 em 14:12 //

    Eu me chamo Eduardo fui aluno do grupo escolar diegues junior minha mae foi professora e minha professora tambem o nome dela era maria calumbi dos santos silva conhecida como lia saldades da escola tambem as professora ,janete,socorro ,adair,neuza,gorete,margarida,rosa,ivone,
    Sandra,João,jaci,e outros que nao me lembro os nomes quero um dia ir la visitalo e tem mais a minha primeira namora foi do diegues junior em 1990 e hoje tamos casados .

  5. Carlos Manuel Diegues // 29 de janeiro de 2021 em 19:15 //

    Meu nome é Carlos Manuel Diégues, sou neto do Professor Diégues. Emocionante essa cronologia sobre meu avô, q além de ter sido esse intelectual formidável, orgulho do nosso país, era um homem doce, simples e amoroso. Muito orgulho !!
    Obrigado por celebrarem a sua memória.

  6. Ricardo Fontes Braga // 29 de janeiro de 2021 em 21:41 //

    E Alagoas, sua terra natal, pouco valoriza essa figura notável do cenário internacional. Lamentável.

  7. O dr. Manuel Balthazar Pereira Diegues Júnior (PAI), foi diretor da Companhia Progresso Alagoano, junto com Teixeira Basto e Propício Pedroso. Com a morte de Teixeira Basto, continuou fazendo parte dessa diretoria, junto com Gustavo Paiva que assumiu a vaga do sogro Basto e com o Comendador Américo de Almeida Guimarães. Até ver está belíssima matéria, causava-me uma grande confusão por conta dos nomes (PAI & FILHO) serem idênticos. Agora posso concluir as informações no meu site ARQUIVO RIO LARGO, sobre este fato. Sou seu fã Ticianeli.

  8. Prof. Maria das Graças Acioli Silva // 22 de abril de 2021 em 19:51 //

    História muito emocionante.Amei ler essa pesquisa.
    Hoje trabalho na Escola Estadual Manuel Baltazar Pereira Diegues Junior, com.muito orgulho

  9. JOAQUIM THOMAZ P DIEGUES NETO // 1 de agosto de 2021 em 19:44 //

    Sou Joaquim Diegues Neto, moro em Maceió e me sinto muito honrado ao ver o que Manuel Diegues Júnior ( pai e filho ) representaram para o nosso Estado. Pessoas ilustres sim, não apenas em suas produções laborais, mas também em sua maneira de ser. Isso pode ser observado nas diversas referências que podemos encontrar sobre ambos nos jornais antigos de Maceió. Querido primo Carlos Manuel, parabéns mais uma vez pela excepcional ascendência.

  10. Tive o prazer de estudas na Escola Diegues Junior nos anos 70 e até hoje , quando passo pela porta, me vem uma saudade imensa, onde o bairro da Pajuçara era dos seus moradores e todo mundo se conhecia. Hoje, resta apenas o edifício, pois não sei por qual motivo desativaram a escola, que era uma referência na Pajuçara. Simplesmente acabam com nossa história.

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