O Centenário de Maceió em 1939

Parque do Centenário sendo inaugurado no dia 9 de dezembro de 1939

No final dos anos da década de 1930 o Brasil vivia em plena ditadura implantada por Getúlio Vargas. Além da centralização do poder e do anticomunismo, o regime autoritário se caracterizava pela promoção do ideário nacionalista.

Inauguração do busto de D. Antônio Brandão na Praça e Avenida do mesmo nome em 1939, em frente ao atual Colégio Marista

Talvez seja esta última a razão dos interventores Osman Loureiro, no Estado, e Eustáquio Gomes de Mello, na capital, terem resolvido comemorar os cem anos da data em que a vila de Maceió foi promovida a cidade e capital da província. Esse ato foi oficializado pela Resolução Provincial n.º 11, de 9 de dezembro de 1839.

Há de se reconhecer que ascensão à categoria de cidade ou mesmo de capital não é comumente motivo para comemorações.

O mais usual é lembrar as datas de acontecimentos emancipatórios, como é o caso da autonomia que o então povoado de Maceió conquistou em 5 de dezembro de 1815, quando foi desmembrado da vila das Alagoas e promovido à categoria de vila por alvará assinado por D. João.

Participação popular na inauguração do busto de D. Antonio Brandão

Participação popular na inauguração do busto de D. Antonio Brandão

Independente dos motivos e da oportunidade para a comemoração, o fato é que no dia 9 de dezembro de 1939 foi festejado o centenário da cidade de Maceió com uma extensa programação festiva.

Os jornais da época destacavam a presença do prefeito de Aracajú, Godofredo Diniz, apresentado como convidado de honra, e anunciavam que o dia 9, um sábado, seria feriado.

Como no dia anterior também tinha sido o feriado dedicado a Imaculada Conceição, houve reclamação dos comerciantes que reivindicaram a prorrogação do horário de funcionamento dos seus estabelecimentos em 3 horas na segunda-feira seguinte, dia 11.

A Inspetoria do Trabalho autorizou desde de que as horas extras fossem remuneradas.

No sábado, todos os jornais da capital circularam com a edição ampliada trazendo textos laudatórios à data e à cidade. Em Recife, alguns jornais também publicaram homenagens à capital alagoana.

Programa das festas

Inauguração da Praça D. Antônio Brandão, em frente ao Seminário

Inauguração da Praça D. Antônio Brandão, em frente ao Seminário

A primeira atividade realizada no dia 9 de dezembro foi uma missa campal celebrada pelo arcebispo Dom Ranulpho da Silva Farias, que teve início às 8 horas na Praça D. Antônio Brandão (inaugurada naquela manhã), em frente ao Seminário.

Em seguida foi inaugurado o busto de D. Antônio Brandão, que foi homenageado pelo cônego Luiz Barbosa.

Não há registro se a inauguração aconteceu no mesmo evento, mas o logradouro onde estava a praça também recebeu a denominação de Avenida D. Antônio Brandão, antiga Avenida Brennand, Rua do Camelo e Rua do Seminário.

A Praça D. Antônio Brandão perdeu sua identidade como tal e está reduzida a um canteiro da Avenida D. Antônio Brandão.

As outras inaugurações aconteceram a partir das 10 horas no Parque do Centenário, antiga Praça Jonas Montenegro e do Periperipau, para onde foi levada a Estátua da Liberdade, velha inquilina da Pracinha da Recebedoria.

Este parque foi denominado Praça do Centenário no início dos anos 60, quando o prefeito Sandoval Caju urbanizou a área.

Missa Campal na Praça D. Antonio Brandão em 9 de dezembro de 1939

Missa Campal na Praça D. Antônio Brandão em 9 de dezembro de 1939

A Praça Sergipe e o calçamento da Avenida Moreira e Silva foram inaugurados a seguir com discursos do prefeito Eustáquio Gomes de Mello e do tenente Lourival Bitencourt de Almeida, sequenciados por desfiles das forças militares e de estudantes.

A inauguração da Praça Sergipe foi o motivo da presença em Maceió do prefeito de Aracaju, Godofredo Diniz. Essa denominação permaneceu até 1976, quando a Lei n° 2.310, de 19 de novembro, a rebatizou como Praça D. João VI.

No início da tarde o prefeito recebeu a imprensa e convidados em sua residência para um coquetel, de onde saíram rumo ao Teatro Deodoro para ouvirem, às 15h30, a palestra proferida pelo Dr. Guedes de Miranda, além de inaugurarem uma exposição de fotos e de livros de autores alagoanos.

Ainda naquela tarde, às 17h, a comitiva participou de um coquetel oferecido aos jornalistas no Bar Colombo, na Rua do Comércio em frente ao Relógio Oficial.

A saudação aos profissionais da imprensa foi feita pelo secretário da Prefeitura Rui Palmeira.

Exposição de livros no hall do Teatro Deodoro durante as comemorações do Centenário

Durante a noite foi oferecido um banquete ao prefeito de Aracaju, que foi saudado pelo dr. Mário Gomes no salão nobre do Clube Phenix Alagoana. O interventor Osman Loureiro foi saudado pelo deputado Serzedello Correia. Em seguida, todos foram bailar no salão de festas do clube.

Antes, no mesmo local, as autoridades participaram da solenidade de formatura de uma turma da Faculdade de Direito de Alagoas.

Inauguração do Parque do Centenário com o Dr. Eustáquio Gomes de Mello à frente, segurando um jornal

Inauguração do Parque do Centenário com o prefeito, dr. Eustáquio Gomes de Mello, à frente segurando um jornal

No dia seguinte, domingo, aconteceu o Torneio de Futebol do Centenário, sagrando-se campeã a equipe do Sport Club Sergipe. Houve ainda um torneio de basquetebol também com a presença do clube sergipano.

No instituto Histórico ocorreu a apresentação de um conjunto musical feminino composto por Pauline Setton, Eurídice Martins (violinos), Livinha Guerra (piano), Umbertina Fazio (banjo), Lourdes Cerqueira (bandolim). O maestro foi o escritor Luiz Lavenère.

Construção do Parque do Centenário em 1939

Homenagem do Diário de Pernambuco

Em Recife, no dia 9 de dezembro de 1939, o Diário de Pernambuco publicou uma nota saudando o centenário da capital alagoana.

Inauguração do Parque do Centenário com a Estátua da Liberdade

Inauguração do Parque do Centenário com a Estátua da Liberdade

“O Centenário de Maceió

Os nossos vizinhos do sul comemoram no dia de hoje o centenário de sua capital. É uma data, que não só os alagoanos, mas todos os povos nordestinos celebram com igual alegria, de tal modo nos sentimos com eles identificados e unidos.

A cidade alagoana está destinada a ser um dos maiores aglomerados urbanos do Brasil.

Se o Rio de Janeiro tem o cenário empolgante da baía da Guanabara, se a Bahia tem as suas colinas e as suas igrejas, se o Recife tem os rios que o cortam em várias direções, Maceió, situada na extensa restinga ao norte da lagoa de Mundaú, a que os indígenas no seu linguajar simbólico chamavam de “Paranan-guera” (que foi o mar) oferece uma das mais sedutoras paisagens que se pode contemplar neste meridiano.

Conjunto musical feminino que fez apresentação no Instituto Histórico durante o Centenário de 1939

Só para ver a beleza de suas lagoas, sentir a graça de sua paisagem, com os seus infindos coqueirais, valeria a pena se deter nessa cidade, envolta numa atmosfera de tanta poesia e de tanto encantamento.

Nenhuma urbe brasileira nos dá uma sensação tão viva de trópico, como Maceió. E nesse pedaço de trópico brasileiro vem se erguendo uma civilização, que merece nossa mais viva simpatia. O seu movimento associativo, a sua imprensa, o desenvolvimento de seu aparelhamento educativo, as suas obras de assistência, o seu comércio, a sua indústria demonstram a capacidade criadora do alagoano, que com pequenos e limitados recursos, lutando contra circunstâncias desfavoráveis, tendo de enfrentar grandes obras de saneamento e urbanismo, ainda assim pode oferecer em um século uma demonstração positiva do seu esforço.

Maceió merece todos os estímulos: no dia em que se registra o seu primeiro centenário queremos significar-lhe quanto nos interessa o seu destino”.

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