Nomes de Ruas

Rua Boa Vista que já foi Rua Conselheiro Lourenço de Albuquerque

Por Valdemar Cavalcanti

*Publicado na Revista Novidade nº 5, de 9 de maio de 1931

Os ruídos da civilização, em Maceió, parece-me que apenas têm feito com que se mudem os nomes antigos de nossas ruas.

As placas de esquina de outrora, com uns nomes saborosos, de tão pitoresco, foram substituídos sob a orientação de um literato, amoroso na certa de nossas poucas letras.

Noutro dia, num ligeiro passeio a pé pela cidade, tive a impressão de ser ela um compêndio de literatura ou um manual prático de história política local.

Rua Barão de Maceió, antiga Rua do Hospital

Me parece que esse é o único meio da terra tirar do anonimato os seus homens ilustres. Uns pobres homens cuja obra se restringiu desgraçadamente a um meio e a uma época.

E se há a louvar essa iniciativa das prefeituras pelo seu sentido humano, pelo lado propriamente intelectual bem merece uma censura: é que vem pôr em relevo nomes sem eco, sem coisa nenhuma. Felizmente esse relevo apenas se observa entre os carteiros.

Para mim é que essa retificação ao batismo de nossas ruas assume um caráter muito ruim de antitradicionalismo.

Rua Ladislau Neto, antiga Rua Augusta

Não digo que se deve conservar em todas as ruas e em todas as praças o seu nome primitivo. Ninguém não gosta de ter para cartão de visita o endereço: Rua dos Cachorros, ou: Rua das Vacas. Assim por diante. Além disso há nomes que nada têm de interessante. A rua do Apolo é um exemplo. É tão precioso, tão parnasiano, que instintivamente a gente se lembra de um fim de soneto. Neste caso é bem melhor o novo: Rua dr. Mello Moraes.

Porém há nomes com doçuras de poema. Bem que há um ritmo cheio em Praça de Nossa Senhora das Graças. Dir-se-ia que esse nome entra assim terno no ouvido do povo é para a conquista de mais devotos para a santa. (Hoje é Praça Guimarães Passos; mas parece que a designação não agradou nem nos grêmios de letras). A Praça de São Benedito é Praça dr. Tavares Bastos.

Mais: se se anda pela rua do Comércio tem-se de dizer rua dr. Rocha Cavalcanti; dobra-se pela rua Augusta e estamos na rua Ladislau Neto; quebra-se pelo mercado e andamos na rua Barão de Alagoas; se seguimos pela do Hospital, vamos pela rua Barão de Maceió.

Em Pajuçara, então, as ruas tinham nomes saborosos: rua do Cravo (hoje dr. Antônio Pedro de Mendonça), do Araça (Epaminondas Gracindo), da Caridade (Comendador Almeida Guimarães), do ABC (coronel Pedro Lima), do Gameleiro (Elysio de Carvalho). E a rua do Jasmim, e a rua de São Pedro!

Um bairrismo exaltado por demais quis ter uma avenida. Daí a Avenida Presidente Bernardes. Mas ninguém chama assim. Só se conhece é a rua Primeiro de Março.

Não sei de coisa mais intimamente popular que a designação de certas ruas de gente pobre: Sovaco da Ovelha, Pilão sem Boca, Furna da Onça, Beco do Castola, Beco do Sururu. São coisas gostosas. E, mais que tudo, são nossas.

O que não vai é essa história de uns finos de paladar macio tirarem da boca do povo isso que depende justamente de sua criação fertilíssima.

*A Lei Municipal nº 4072, de 29 de outubro de 1991, de autoria do vereador na época Enio Lins, conseguiu reverter o nome de vária ruas em Maceió.

4 Comments on Nomes de Ruas

  1. roberto albuquerque // 30 de abril de 2017 em 04:51 //

    quem foi o engºMario de gusmão

  2. Uma coisa é certa… a bem da ordem, deveríamos evitar as repetições nos nomes de logradouros e espaços públicos (p.ex.: Avenida, Rua, Travessa, Alameda “Fulano” Palmeira). Deveríamos ter, também, apenas um nome para a mesma via, seja ela uma rua, avenida, travessa… Por exemplo: Avenida Assis Chateaubriand se torna da Paz, que se torna Industrial Cícero Toledo, que se torna Doutor Antonio Gouveia, que se torna Sílvio Carlos Viana, que se torna Álvaro Otacílio… desculpem-me pela grosseria no exemplo, mas não vejo sentido em ter mais de um nome em uma via com uma continuidade óbvia. Tampouco vejo necessidade na alteração de nomes em vias que são interrompidas por um canteiro, como no que se chama de corredor Vera Arruda. As vias transversais ao dito “corredor” tem nomes diversos, ao invés de manter o mesmo nome. Enfim, exemplos são os mais diversos…

  3. Outo absurdo, são os números das casas, a sequência não é obedecida, começa com números altos em seguida os baixos, depois volta os altos, sem uma sequência lógica , em quase todos os bairros. A minha também é assim, tenho que informar ponto de referência e nem sempre ajuda.

  4. Saudades do Grupo Rural Alberto Torres,em Maceió decada de 50 , fotos pf.

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