Moreira Lima, o polêmico prefeito das grandes reformas de Maceió

Av. Moreira Lima antes da reforma.

José Moreira da Silva Lima nasceu em Capela, Alagoas, no dia 28 de fevereiro em um ano da última década do século XIX.

Não há muitas informações sobre seus pais, mas a pesquisa encontrou no jornal O Orbe de 20 de maio de 1883 um cidadão de nome José Moreira da Silva Lima subscrevendo abaixo-assinado dirigido ao presidente da Província em protesto contra a transferência do professor público João Francisco da Rocha Rijo de Capela para São Braz.

Av. Moreira Lima em 1927

Como em 1912 Moreira Lima ainda era acadêmico de Direito, ou seja, tinha em torno dos 20 anos de idade, é provável que este José Moreira da Silva Lima de Capela seja um parente muito próximo.

Outra citação em jornais sobre alguém com o nome José Moreira da Silva Lima surgiu na edição do Gutemberg de 18 de julho de 1905. Era uma nota dirigida ao comércio “d’esta e das demais praças da Republica e do Estrangeiro”, informando que o sócio Osano Marques deixa de fazer parte da firma Silva & Marques e que todo o passivo e ativo ficavam para José Moreira da Silva Lima.

Av. Moreira Lima durante a reforma no final dos anos 20

Av. Moreira Lima durante a reforma no final dos anos 20

Nova menção aparece no jornal Gutemberg de 17 de dezembro e no Evolucionista de 18 de dezembro de 1905, que publicam notas dos editores agradecendo à “fábrica de cigarros Alliança, do sr. José Moreira da Silva Lima”, por ter ofertado “um chromo muito interessante para servir de calendário do próximo ano”.

No Gutemberg de 27 de agosto de 1908, um cidadão de nome José Moreira Lima fazia parte da comissão organizadora da festa de pose da diretoria do Tiro Alagoano, ostentando a patente de capitão.

Em 20 de setembro de 1908 surgiu outra informação sobre os negócios explorados por José Moreira da Silva Lima. Anúncio assinado por ele no Gutemberg informava o nome do sorteado pelo Club de Roupas da Loja Rainha da Moda.

Um edital convocando assembleia geral do Tiro Alagoano foi publicado no Gutemberg de 7 de julho de 1911 assinado pelo secretário interino José Moreira da S. Lima.

Ativista político

Moreira Lima em 1914, ainda subinspetor da Guarda Civil

Moreira Lima em 1914, ainda subinspetor da Guarda Civil

Na tarde do dia 10 de março de 1912, o acadêmico José Moreira da Silva Lima participou de um comício na Praça Rosa da Fonseca (atual Bar do Chopp), ao lado do comerciante Américo Mello e do dr. Bráulio Cavalcante. Era a campanha em prol das candidaturas de Clodoaldo da Fonseca para governador e Fernandes Lima para vice.

O grupo de manifestantes percorreu as ruas centrais de Maceió e dirigiu-se para a Praça dos Martírios onde pretendia realizar mais um comício. Foi quando aconteceu o desentendimento entre o tenente Brayner — secretário do Interior do governador Euclides Malta — e o jovem advogado pão-de-açucarense Bráulio Cavalcante, que foi baleado e morto pelo militar.

Esse evento consolidou o afastamento de Euclides Malta do poder. Não resistiu às ações insurrecionais da oposição liderada por Fernandes Lima. Clodoaldo da Fonseca foi eleito governador em 12 de junho de 1912.

Em seu livro “Alguns homens do meu tempo“, Alfredo de Barros Lima Júnior descreve Moreira Lima como alguém que “na verde mocidade” não revelara vocação ou qualidade para a vida pública, “gostava do jogo, de vida livre, de mulheres. Não cuidava, desse modo, de instruir-se convenientemente”.

E continua: “Moreira aproveitou uma época em que se faziam preparatórios elétricos, arranjou, às pressas, como outros, o curso de humanidades e formou-se em Direito na Faculdade de Recife. Isso no tempo em que eclodia o movimento pela derrubada dos Maltas das culminâncias do poder”.

Foi nesse período que enveredou pela política, como “leal, bravo e resoluto” aliado de Fernandes Lima, de quem foi amigo fiel e que não esqueceu dele quando assumiu o poder.

Guarda Civil

No dia 3 de julho de 1912, Clodoaldo da Fonseca publicou o Decreto nº 564 criando a Guarda Civil para cuidar do policiamento de Maceió. Cinco dias após, Moreira Lima, ainda estudante de Direito, assumiu a subinspetoria da corporação até ser promovido a inspetor em 14 de junho de 1915, quando já havia concluído o curso de Direito (1914).

Não se tem a data em que Moreira Lima deixou a Inspetoria da Guarda Civil, mas em 7 de dezembro de 1920 foi citado em jornais como sendo o administrador da Recebedoria Central do Governo Estadual.

O Jornal do Commercio de 3 janeiro de 1923 publicou que José Moreira da Silva Lima foi exonerado do cargo de segundo suplente de juiz federal e que o sr. João Craveiro Costa foi nomeado em sua substituição.

Neste mesmo ano, no governo de Fernandes Lima, assumiu a Secretaria do Interior e continuou no mesmo cargo no governo de Costa Rego. Deixou a função em novembro de 1924.

Prefeito de Maceió

Prefeito Moreira Lima

Prefeito Moreira Lima

No dia 7 de janeiro de 1925, Moreira Lima assumiu a Prefeitura após a gestão de Crisanto de Carvalho, o último intendente de Maceió. No mesmo dia o vice-prefeito Fernandes Lima Filho e os conselheiros municipais tomaram posse.

Eram conselheiros: Barretto Cardoso, Hebreliano Wanderley, Anphilophio Melo (Jaime d’Altavila), Francisco Rocha, Amâncio França, Alípio de Carvalho, Astrogildo Oliveira, Annibal Lima, Pedro Rocha, Jonas Feitosa e José Ovídio.

No início de fevereiro de 1925, Moreira Lima divulgou nos jornais que iria alargar a Rua 1º de Março e que já havia desapropriado 34 casas para tal fim. Com esse anúncio teve início umas gestões públicas que mais alterou a feição urbana do centro de Maceió.

Ainda no dia 25 de janeiro de 1925 ocorreram as eleições para renovação de um terço dos senadores estaduais e Moreira Lima foi eleito. Assumiu no dia 17 de junho, deixando a prefeitura.

Quem assumiu a Prefeitura em seu lugar foi o presidente do Conselho Municipal, Barretto Cardoso. O vice-prefeito Fernandes Lima Filho estava impedido de tomar posse por estar no mandato de deputado estadual. No dia 23 de junho de 1925, Moreira Lima reassumiu a prefeitura.

A então Rua 1º de Março  — recebeu essa denominação por decisão do Conselho Municipal em 28 de junho de 1876, lembrando a data do fim da Guerra do Paraguai em 1870 —, antes denominada como Rua da Vala e depois Rua do Açougue, foi a primeira grande obra a ser iniciada na gestão de Moreira Lima.

Outros melhoramentos ocorreram nas ruas Ladislau Neto, 15 de Novembro, Praça Deodoro, Barão de Maceió, Cirilo de Castro, Prudente de Morais, Cincinato Pinto e Melo Moraes.

Uma das mudanças importantes de Maceió ocorreu em outubro de 1925, quando o lixo, até então recolhido por carroças, passou a ser coletado por caminhões.

Em março de 1926, Moreira Lima patrocinou e participou da fundação da Sociedade de Proteção aos Animais, sendo seu presidente de honra. No mês seguinte encaminhou ao Conselho Municipal a proposta de alteração do nome da Rua 1º de Março para Avenida Arthur Bernardes.

Esquina da Rua 1º de Março (Av. Moreira Lima) com a Rua da Alegria, onde depois foi a Padaria Francesa. Esta via começou a ser alargada em 1925. A foto é anterior a esta obra

O Diário de Pernambuco publicou uma nota, em 23 de junho de 1926, com as seguintes informações sobre Maceió:

PARQUE DE MACEIÓ — O operoso prefeito desta capital dr. Moreira Lima, está envidando os maiores esforços para transformar a Levada num bairro higiênico e aprazível.
Visando esse intento já tem calçado diversas ruas, promovendo em outras a drenagem das águas.
No mesmo bairro está s. exc criando um elegante parque, fazendo aterros, plantando árvores, endireitando ruas notáveis pela sua tortuosidade e promovendo outros melhoramentos dignos de registro, os quais têm contribuído muito para a valorização dos prédios existentes ali”.

Além de aterrar várias ruas e o Porto da Levada em 1925, algumas pontes também foram construídas em Maceió nesse período.

Em 7 de janeiro de 1926 realizaram-se algumas atividades comemorativas à passagem do primeiro ano de Moreira Lima na prefeitura, sinal da aprovação do seu governo.

Três anos depois, em 1º de fevereiro de 1929, o Diário de Pernambuco informou que o prefeito em exercício, José Carneiro de Albuquerque, ainda tocava a obra da Avenida Presidente Bernardes. Na mesma nota há a informação que o prefeito tinha a intenção de restaurar o antigo nome de 1º de Março.

“As obras da mesma avenida, que em breve será a mais elegante de nossas artérias urbanas, foram iniciadas pelo dr. Moreira Lima, e a sua terminação representa uma necessidade urgente e imperiosa, retardada como foi por escassez de recursos”, explicou a nota.

Até o início dos anos da década de 1930 a avenida era conhecida como Presidente Bernardes, quando passou a ser Av. Nilo Peçanha.

Em 26 de novembro de 1937, por decisão do prefeito Eustáquio Gomes de Melo, que governou Maceió entre 1937 e 1941, foi denominada como Av. Moreira Lima. O ex-prefeito de Maceió, José Moreira da Silva Lima, havia dois dias antes.

Deposição

Av. Moreira Lima nos anos 50

Av. Moreira Lima nos anos 50

Fernandes Lima, o “Caboclo Indômito”, era senador federal pelo Estado e o chefe do Partido Democrata, no poder desde 12 de março de 1912.

Governou Alagoas por dois períodos, sendo substituído, em 12 de junho de 1924, pelo correligionário e jornalista Costa Rego, um nome imposto pelo presidente da República, Dr. Arthur Bernardes, derrotando a indicação de Fernandes Lima, que era a de José Moreira da Silva Lima.

Mesmo com as relações estremecidas com Costa Rego, Fernandes Lima promoveu alguns gestos de aproximação.

Na tarde do dia 30 de janeiro de 1926, o Partido Democrata realizou convenção no Teatro Deodoro, decidindo que Fernandes Lima deveria continuar como chefe do partido. A indicação foi do prefeito Moreira Lima.

Fernandes Lima propôs, e a convenção aprovou, a ampliação dos membros do diretório e a participação do governador Costa Rego neste colegiado. Costa Rego aceitou e ocupou a vaga deixada por Santos Pacheco, que havia falecido dias antes.

Durante o ano de 1926, o governador Costa Rego e o senador Fernandes Lima foram se afastando politicamente até que no dia 11 de agosto, o senador chegou a Maceió voltando do Rio de Janeiro e após ser recebido pelo governador e amigos em Jaraguá, foi para sua casa da Rua do Uruguai.

Lá, acintosamente e diante de vários correligionários, Costa Rego foi provocado pelo senador a explicar o que era classificado como transgressão partidária, desapreço aos companheiros e traição. O governador se controlou e calmamente lhe respondeu:

— Nada disso tem importância, Fernandes Lima. O que tem importância é que sou teu amigo.

— Mas eu já não sou seu —, respondeu o senador.

O rompimento foi consumado quando tiveram que discutir a montagem da chapa de candidatos a deputado federal para as eleições de março de 1927.

Repetia Fernandes Lima o mesmo comportamento que o fizera se afastar do governo de Baptista Accioly, com quem também rompeu por ser impedido de utilizar o governo como desejava.

No final de dezembro de 1926 ocorreu o episódio que envolveu o vice-prefeito de Maceió, filho do ex-governador Fernandes Lima, em uma tentativa de assassinato ao governador Costa Rego.

O fato aprofundou a crise política entre os dois grupos. O vice-prefeito José Fernandes Lima Filho foi preso temporariamente e Moreira Lima lhe emprestou solidariedade. Como retaliação, o Conselho Municipal ordenou uma imediata tomada de contas do prefeito.

Em janeiro de 1927, o vice-prefeito José Fernandes Lima Filho foi afastado do cargo e as contas do prefeito foram impugnadas pelo Conselho Municipal, que abriu processo de responsabilidade contra o gestor.

Moreira Lima renunciou e no dia 1º de fevereiro assumiu Jayme d’Altavila, presidente do citado colegiado.

Contrabando

Av Moreira Lima anos 60

Av Moreira Lima anos 60

No dia 15 de março de 1927, o Jornal do Brasil publicou notícia informando que o primeiro escriturário da capital, dr. Benedicto Nunes Leite, havia denunciado a firma Rodrigues Cardoso & Cia como envolvida em uma operação de contrabando de cimento em comum acordo com o ex-prefeito Moreira Lima.

Segundo a nota, o cimento era importado de Hamburgo para a Prefeitura e por isso tinha um abatimento de 75% na taxa de direito de importação. Entretanto, as quase quatro mil barricas do produto que desembarcaram em Maceió durante o governo de Moreira Lima foram conduzidas para casas comerciais.

A firma Rodrigues Cardoso & Cia se explicou argumentando que somente guardava o cimento para o município. O prefeito em exercício Jayme d’Altavila publicou nota esclarecendo que a Prefeitura não tinha cimento estocado em “nenhuma casa comercial, desta ou de outra qualquer praça”.

O jornal informou ainda que para evitar qualquer agressão ao dr. Benedicto Nunes Leite, o governador do Estado forneceu-lhe “diversas garantias”.

Derrota política

Esse episódio trouxe desgaste à imagem do político Moreira Lima, que foi vítima dos embates entre Fernandes Lima e Costa Rego.

Em abril de 1930, Moreira Lima fez sua última tentativa de permanecer com um mandato. Disputou uma vaga ao Senado, mas foi derrotado por Clementino do Monte.

Contestou a vitória sendo representado na ação pelo senador Fernandes Lima. Clementino do Monte teve como defensor Costa Rego. A contestação estava fundada na denúncia de fraude eleitoral.

Clementino assumiu em maio e ficou até outubro, quando a Revolução de 30 dissolveu todos os órgãos legislativos do país.

Segundo Alfredo de Barros Lima Júnior, quando Moreira Lima faleceu em 24 de novembro de 1937 na capital, era um homem pobre, esquecido, doente e ignorado. Foi vítima de um “insulto congestivo”. Morava na Rua Santa Cruz no Farol.

Deixou viúva D. Didia Moreira Lima, que foi beneficiada com uma pensão no valor de Cr$ 500,00, estabelecida pela Lei Municipal nº 63, de 22 de abril de 1949. Foi corrigida para Cr$ 2.000,00 em 1º de dezembro de 1961, pela Lei Municipal nº 848. Não tiveram filhos.

4 Comments on Moreira Lima, o polêmico prefeito das grandes reformas de Maceió

  1. Edmilson Teixeira // 22 de junho de 2020 em 18:42 //

    O cara era meu conterrâneo rapaz!

  2. Alagoas tem uma história
    Triste
    E ao mesmo tempo bonita amo minha terrina.

  3. Fernando Augusto de Araújo Jorge // 31 de dezembro de 2020 em 04:40 //

    Estou realizando pesquisas quanto ao embate Dr. Afranio Jorge X Fernandes de Lima..tem como ajudar com algo escrito a época?

  4. Witelbo Santiago // 2 de abril de 2021 em 19:45 //

    Grande Ticianeli

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*