Mercado da Produção e o Complexo Comercial da Levada

Governador Divaldo Suruagy visita as obras do Mercado da Produção com o prefeito Dilton Simões

O primeiro Mercado Público de Maceió começou a ser construído no dia 1º de novembro de 1848, quando era presidente da Província João Capistrano Bandeira de Mello. Foram gastos cerca de 30 contos com a obra. Foi praticamente reconstruído 1901 e, em 1911, esteve prestes a desabar, sendo salvo por obras encomendadas pelo intendente Demócrito Gracindo.

Antigo Mercado de Maceió e Praça Tavares Bastos

Situava-se em frente à Igreja de São Benedito, onde depois foi construído o prédio da Secretaria de Educação. Ao seu lado ficava a Praça Tavares Bastos, mais conhecida como Praça São Benedito, local ocupado posteriormente pelo Instituto de Educação, depois Colégio Estadual de Alagoas.

Em 1939, o prefeito Eustáquio Gomes de Melo inaugurou o novo Mercado Público de Maceió, construção iniciada em 1936, na administração do prefeito Álvaro Guedes Nogueira. Ocupava o aterro da Levada, fato que levou a população a não concordar com a localização do então moderno centro de compras. É hoje o Mercado do Artesanato de Maceió e custou dois mil réis aos cofres públicos.

Mercado Público de Maceió em 1939 no dia da sua inauguração. Acervo FGV

Trinta anos depois, este mercado já não atendia a demanda e tinha atraído para o seu entorno outras atividades mercantis, que ocuparam áreas sem condições de salubridade para receber feiras tradicionais como a do Passarinho.

Em 1975, o prefeito indicado Dilton Simões, sensível a este e a outros problemas semelhantes existentes na capital, criou a Companhia de Urbanização de Maceió – URB, encarregando-a de mapear os problemas urbanos da cidade e de planejar suas soluções. A empresa foi efetivada no dia 18 de setembro daquele mesmo ano.

Para o Mercado e suas adjacências, o objetivo da URB era o de implantar uma infraestrutura capaz de melhorar o sistema de abastecimento e comercialização de gêneros alimentícios para a cidade.

O presidente indicado para a URB foi o coronel José Anchieta do Vale Bentes. Com uma equipe de experientes arquitetos e engenheiros, e ainda com a assessoria da Companhia Brasileira de Alimentos – COBAL, a URB resolveu construir o que passou a denominar de Mercado da Produção, numa referência ao slogan Governo da Produção utilizado pelo governador Divaldo Suruagy. A área escolhida tinha 14.000 m² e era até então ocupada principalmente pela Feira do Passarinho.

Canal da Levada antes do aterramento e a Feira do Passarinho em 1960

Para realizar a obra, foram desapropriadas 370 casas e barracos e o Canal da Levada sofreu mais um aterramento, além das obras de drenagem de suas águas.

No projeto inicial, o Mercado da Produção tinha um setor destinado à comercialização de peixes com capacidade para 50 vendedores; oito lojas para a venda de frangos e produtos afins; 24 lojas para carnes; quatro lojas para laticínios, sete câmaras frigoríficas; 184 estrados para vendas de produtos do mar, miúdos, frangos, etc; 220 lojas para verduras e frutas; 192 estrados para verduras e frutas; 154 lojas para cereais; 44 lojas de atividades atípicas; 152 estrados para cereais; cinco lanchonetes; duas bancas de revistas; quatro estrados para a venda de tapioca, mungunzá; duas pipoqueiras; mercado de flores com capacidade para 12 vendedores.

O planejamento para o que foi chamado de Complexo Comercial da Levada previa o aproveitamento do antigo Mercado para a venda de artesanatos e a definição de áreas destinadas a comercialização de veículos e bicicletas, além da implantação de um grande Parque Folclórico, próximo ao Dique-Estrada, destinado a receber circos, danças populares e um parque de diversão permanente.

Maquete do Complexo Comercial da Levada com o Mercado da Produção

Outra obra importante para a Levada, a construção do Dique Estrada, também teve início neste mesmo período, logo após o prefeito Dilton Simões e o Governo do Estado terem conseguido recursos federais com o DNOS e com o Ministério da Previdência.

Em sua primeira etapa foram investidos Cr$ 64 milhões. A obra de 7 quilômetros foi planejada para proteger a zona sul da cidade das enchentes da Lagoa Mundaú, aterrando 202 hectares de áreas alagadas. Esses terrenos foram utilizados para os programas habitacionais, que receberiam várias famílias, entre elas as 650 desalojadas pelas obras.

Para construir o Mercado da Produção, a Prefeitura de Maceió investiu inicialmente Cr$ 5 milhões com recursos próprios, a URB participou com Cr$ 2 milhões, o Governo Federal alocou pela Sunab mais Cr$ 10 milhões e a Caixa emprestou também Cr$ 13 milhões. Os R$ 30 milhões foram distribuídos entre as obras físicas (Cr$ 22 milhões) e instalações (Cr$ 8 milhões). No final, a obra custou Cr$ 42 milhões.

Obras do Mercado da Produção em fevereiro de 1978

Justificando os benefícios da obra, o coronel José Anchieta do Vale Bentes explicava, em entrevista para o jornal Desafio de fevereiro de 1978, que “no aspecto social, podemos destacar a extinção da favela ali existente as margens do canal da Levada, a higienização da área onde se adquire os alimentos, dando condições higiênicas ao comerciante que negociava dentro da lama, e aos próprios consumidores. No aspecto econômico, creio que a própria lei da oferta e da procura se encarregará de influir na baixa do custo de vida”.

CEASA

Quando a obra do Mercado da Produção teve início, já funcionava ao seu lado a CEASA, outro importante investimento do governo estadual. Medindo 72 x 16 metros, foi inaugurada em 1975, quando Divaldo Suruagy começava seu mandato de governador.

Sua construção foi iniciada durante o governo de Afrânio Lages. Os recursos vieram do BNDE e para realizar a obra vários imóveis foram indenizados e a famosa Boca da Bigorna deixou de existir.

Construção da CEASA no início dos anos 70

Segundo o engenheiro civil Vinicius Maia Nobre, que participou da recuperação da obra de meados de 1974 à 15 de abril de 1975, o planejamento para a construção da primeira central de distribuição de alimentos de Maceió teve inicio ainda no governo de Lamenha Filho (15 de agosto de 1966 a 15 de março de 1971).

Vinicius Maia Nobre, ainda na fase de planejamento, apresentou discordâncias quanto à localização da Ceasa, por ser “vizinha ao centro da cidade que é de longe mais apropriada ao comercio lojista“. Questionava ainda “como trafegariam os veículos que viessem do interior do Estado cruzando a mancha matriz da cidade até o destino de suas cargas”, além de indagar sobre a correta análise da morfologia do solo.

Tempo depois, quando a obra foi paralisada, ele foi sondado para destravar a construção e corrigir os erros desta fase inicial. Como o governador não abria mão dos seus serviços no Estado, mesmo quando solicitado pelo ministro Alysson Paulinelli, a solução foi encontrada com a contratação dos seus serviços pela construtora.

Aceitei o desafio pelo interesse em lidar com um projeto estrutural de rara beleza e leveza“, confessou Vinicius Maia Nobre anos depois.

Quando a obra já estava em sua fase final, se deu a ruptura do solo subjacente ao aterro para o piso da área de estocagem após o recebimento de mercadorias. “Conheci na ocasião o simples e extraordinário engenheiro uruguaio Dieste. Senti-me recompensado após tantas execuções de obras importantes e cito aqui a que chefiei do Estádio Rei Pelé, de ter conhecido profissionais do gabarito de Dieste, Carlos Augusto Vasconcelos e Vitor Melo os quais me deram lições que jamais poderei esquecê-las! Resumindo: meu papel foi restabelecer a estabilidade de uma obra”, recorda Maia Nobre.

Segundo estudo de Juliana Harumi Suzuki, a Ceasa de Maceió era “um grande pavilhão com cerca de 7500 m² de área, coberto com abóbada de dupla curvatura de 27 metros de vão livre e dois balanços laterais longitudinais
de quatro metros. A ele se agrega, de um lado, um volume com duas abóbadas autoportantes e, de outro, um bloco com 13 abóbadas autoportantes com seis metros de vão cada uma”.

O engenheiro e arquiteto Eladio Dieste (1/12/1917 – 20/07/2000) é reconhecido por ter construído silos, fábricas mercados e igrejas, quase todos no Uruguai, com uma elegância de formas excepcional. Criou, entre outras, a técnica denominada cerâmica armada que não encontrou similar a nível mundial na época. Foi considerado como um dos mais emblemáticos projetistas do século 20.

Dieste, em 1956, iniciou sua parceria com Eugenio Montañez (1916-2001), amigo e colega do tempo de estudante. Criaram a fundou a empresa Dieste y Montañez, com sede em Montevidéu. Era especializada na
criação e desenvolvimento de estruturas de cerâmica armada, operando no Uruguai, Argentina, Espanha e Brasil.

Eladio Dieste foi um dos mais emblemáticos projetistas do século 20.

Estas obras eram consideradas tão importantes para Maceió, que, em dezembro de 1975, quando o grupo Bompreço inaugurou sua loja na CEASA, lá estavam o governador do Estado e o prefeito de capital, além de inúmeras autoridades.

A CEASA permaneceu na Levada até 2006.

Mercado da Produção durante sua construção

Entregue à população em agosto de 1978, o Mercado da Produção foi a grande obra do prefeito Dilton Simões. Entretanto, do projetado Complexo Comercial da Levada somente outra parte foi executada: anos depois, o antigo Mercado de Maceió recebeu reformas para funcionar como Mercado de Artesanato.

Repetindo o fenômeno da construção anterior, o entorno do Mercado da Produção foi rapidamente ocupado por feiras e comércio ambulante.

O problema da insalubridade e higiene, lembrados como problemas que seriam corrigidos com a nova construção em 1975, além das inundações nos períodos chuvosos, continuam a fazer parte do maior mercado da capital.

4 Comments on Mercado da Produção e o Complexo Comercial da Levada

  1. Muito bonito o primeiro mercado público de Maceió em conjunto com a praça Tavares Bastos. Pena a insensibilidade das autoridades públicas, demolindo tal patrimônio público, passando uma borracha na história da cidade.

  2. o mercado da produção é um lixo. imundo sem a menor higiene. louco quem compra qualquer coisa lá. o risco de pegar doença é gigante

  3. Cicero Silva // 20 de maio de 2020 em 10:24 //

    E agora já passou do tempo de construir outro na parte alta de Maceio.
    Ate por que este mercado da produção não têm como em chegar insalubridade. E muito imundo este local!!!

  4. Rita de Cássia Eliziario Rodrigues // 6 de junho de 2022 em 14:14 //

    Minha primeira visita a Maceió foi em 2013. Hoje volto (2022) e o Mercado da produção piorou. Condições de higiene extremamente deficientes! Um verdadeiro HORROR. Problema de Saúde Pública. Onde estão os políticos de Alagoas? Capital com um lugar que poderia ser ponto turístico tão desprezado! Que pena!!!!

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