Mário Lima, o legendário general do povo

Major Kleber, General Mário Lima e o governador Arnon de Mello

Mário de Carvalho Lima nasceu em Maceió no dia 24 de outubro de 1908. Era filho de Américo Araújo Lima e Amélia de Carvalho Lima. Mesmo ingressando na vida militar muito jovem, o que normalmente tenderia a lhe dar uma formação disciplinadora e autoritária, Mário Lima desenvolveu um temperamento conciliador, mais para diplomata que para soldado.

Américo Araújo Lima nasceu no Pilar em 13 de março de 1870 e faleceu em Maceió no dia 29 de maio de 1940. Amélia de Carvalho Lima faleceu em Maceió no dia 20de maio de 1973.

Amélia Alves de Carvalho, mãe de Mário de Carvalho Lima

Além de Mário de Carvalho Lima, Américo e Amélia também colocaram no mundo os seguintes filhos: Virgínia de Carvalho Lima, nasceu em 4 de setembro de 1903; Áurea de Carvalho Lima, nasceu em 1904 e faleceu em 29 de dezembro de 1977; José de Carvalho Lima, nasceu em 21 de dezembro de 1907; Pedro de Carvalho Lima, nasceu em 1910 e faleceu em 18 de agosto de 1980; Nilo de Carvalho Lima, nasceu em 5 de novembro de 1913; Paulo de Carvalho Lima nasceu em 18 de outubro de 1916; Albérico de Carvalho Lima, faleceu em 9 de setembro de 1995; e Maria Alice de Carvalho Lima.

Morava na Rua do Saraiva, nº 18, atual Av. da Paz.

Tenente e Major Mário Lima

Ingressou em 1925 na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro.

Cinco anos após foi declarado aspirante à oficial e designado para o 5º Regimento de Infantaria em Lorena­, São Paulo. Em 24 de dezembro de 1930, o segundo tenente Mário lima deixou o 5º RI e foi deslocado para o 20º BC, em Maceió.

No ano seguinte, em 1931, chegou a 2º tenente e passou a comandar a 2ª Companhia do 20º Batalhão de Caçadores, em Maceió, onde retornou ao convívio da família e dos amigos.

Em 1932, embarcou com o 20º BC com destino a São Paulo, onde participou da mobilização militar que sufocou a chamada Revolução Constitucionalista.

Em um dos combates, ao perceber que um soldado e um coronel feridos, mas continuavam expostos aos tiros, o tenente Mário Lima abandonou sua trincheira e heroicamente rastejou arrastando seus companheiros para uma área segura.

Por este feito, foi convidado para ser Ajudante de Ordem de um general no Rio de Janeiro.

Família Peixoto Lima

Família Peixoto Lima

Em 10 de fevereiro de 1934, foi exonerado do cargo de professor de Educação Física e instrutor militar do Liceu Alagoano. Nessa mesma data foi nomeado instrutor militar da Força Policial Militar de Alagoas. Em julho, quando o comandante dessa Força era o capitão do Exército Heitor Carneiro da Cunha, foi encarregado da instrução do curso de Desenvolvimento Técnico dos Oficiais e Sargentos, criado naquele ano como parte da reativação da Escola Regimental daquela corporação.

Casou-se, em 1934, com Maria José Peixoto Lima (Zeca), que se tornou a sua eterna companheira e com quem teve cinco filhos: Rosita Peixoto Lima, Mario Humberto Peixoto Lima (Betuca), Carlos Roberto Peixoto Lima (Carlito), Américo José Peixoto Lima (Lelé) e Maria do Socorro Peixoto Lima (Socorrinho), que nasceu em Maceió no dia 26 de janeiro de 1941.

Maria José Peixoto Lima nasceu em 26 de janeiro de 1908 e faleceu em 6 de junho de 1993. Era filha do coronel José de Sá Peixoto Neto (1859 – 1941) e de América Machado. Casaram-se em Murici no dia 23 de julho de 1898.

Na Intentona de 1935

No dia 20 de novembro de 1935, os oficiais do 20º BC foram convocados para uma reunião com o comandante do Batalhão, major José Andrade de Faria, em seu gabinete. Lá foram comunicados, com informações sob sigilo, que que havia um movimento comunista naquela unidade. Era articulado com a Aliança Nacional Libertadora, organização liderada pelo capitão Luiz Carlos Prestes que contava com ramificações em várias Guarnições Militares do País.

Disse também que no 20º BC, o movimento era articulado pelo 3º Sargento Josué Augusto de Miranda, com indícios da participação do 2º Tenente Contador Luiz Xavier de Souza e do Sargento-Ajudante João Pimentel de Almeida, e ainda de José Maria Cavalcante, Nildo Pereira Lucena e Vicente Ribeiro Cavalcante.

No dia seguinte, quando a tropa voltava de uma missa de sétimo dia de um companheiro, o Capitão Aguinaldo Valente de Menezes, os conspiradores foram presos.

O competente Inquérito Policial Militar, presidido pelo Major Faria, mal começara a ouvir os acusados quando soube-se, dois dias depois das prisões, que irrompera na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, a revolta contra Getúlio Vargas. Todos os oficiais e praças foram chamados ao Quartel, que imediatamente entrou em regime de rigorosa prontidão., cumprindo ordens da 7ª Região Militar.

Na manhã do dia seguinte, 24 de novembro, o Batalhão foi avisado que deveria se preparar para embarcar quando chamado a agir. A autorização para o deslocamento para Recife chegou às 10 horas por um telegrama enviado pelo Ministro da Guerra, general João Gomes Ribeiro Filho.

Somente ao meio-dia foi que Great Western conseguiu montar a composição com condições de conduzir toda a tropa. O embarque aconteceu às 15h30 horas. Na Estação de Glicério foram avisados que deveriam apressar a viagem e que em Recife já havia combate nas ruas. Chegaram à Estação do Cabo às 17h, onde os aguardava a ordem de seguir para a Estação Prazeres.

De lá, ainda na mesma composição, foram encaminhados para a Usina Muribeca, onde desembarcaram sob a ordem de atacar o Quartel de Socorro, em poder dos revoltosos, fazendo o deslocamento pela estrada Muribeca – Pedreira de Santana – Socorro.

No meio do dia seguinte, iniciaram a marcha sem muitas informações sobre a situação das forças que dominavam aquele quartel. Foram surpreendidos na Pedreira de Santana por fogo cerrado dos insurgentes. Reagiram e os amotinados recuaram para se reagruparem em outro local, onde opuseram novamente forte resistência.

Nesse combate tombou o sargento Jaime Pantaleão de Moraes, que num gesto de bravura se levantou para inspirar a tropa a acompanhá-lo num assalto às trincheiras adversárias. Um tiro atingiu-lhe a cabeça, matando-o imediatamente. Sua morte levou os soldados a um violento ataque, provocando a rendição de mais de 50 combatentes sublevados.

Após passarem a noite nessa última área de combate, na manhã seguinte, marcharam sobre o Quartel de Socorro, já abandonado pelos insurretos, após as ações do 22º BC, da Paraíba, e do Destacamento da Polícia Militar de Pernambuco.

Deixaram Recife em direção a Natal às 4 horas da manhã do dia seguinte (28), em três composições ferroviárias. Já sabiam que no Rio de Janeiro a revolta tinha sido contida no 3º RI e na Escola de Aviação Militar. A missão era restabelecer o tráfego ferroviário interestadual, ocupando em seguida a capital potiguar, assegurando a ordem pública.

Chegaram a Natal no dia seguinte (29) e encontraram a cidade em pânico. Restauraram a ordem garantindo o poder ao governador Rafael Fernandes, que aguardava as tropas escondido em uma corveta mexicana fundeada no porto local.

A maior parte do 20º BC deixou Natal no dia 9 de dezembro. Lá permaneceu apenas uma de suas Companhias.

Também coube ao tenente Mário Lima papel destacado nos inquéritos que buscavam punir os civis envolvidos na revolta em Alagoas, entre eles, o nome mais citado nos inquéritos policiais da época era o do deputado estadual Hildebrando Falcão. Outros que também apareceram nos depoimentos dos militares presos em 21 de novembro estão aqui listados: Sebastião da Hora, Esdras Gueiros, capitão Alves da Mata e Manoel Leal.

Foram todos absolvidos e postos em liberdade pelo juiz federal Alpheu Rosas. O Exército não gostou e o comandante da 7ª Região Militar, general Newton Cavalcante, foi comunicado. Na manhã seguinte, sem avisar a ninguém, ele já estava em Maceió, para onde viajou num avião da FAB. Mandou formar a tropa no 20º BC, discursou e em seguida foi conversar com o govenador Osman Loureiro e com o seu chefe de polícia. Sem meias palavras, ordenou que todos os inocentados fossem novamente presos e indiciados em IPM. Foram detidos mais de 80 pessoas. Algumas levadas para Recife. Mas o deputado Hidelbrando conseguiu escapar a ira do general.

Comandante do 20º BC, coronel Mário Lima

Delegado do DOPS

Em meados de outubro de 1937, o Brasil vivia os dias que precediam a ditadura estadonovista de Getúlio Vargas. Desde 2 de outubro que o país estava sob Estado de Guerra pelo prazo de 90 dias.

Nesse período, o comandante da 7ª Região Militar, general Amaro Azambuja Vilanova, esteve em Maceió e numa conversa com o governador Osman Loureiro, cobrou a organização no Estado de um órgão de repressão aos extremistas. Indicou para sua direção o capitão Mário Lima (promovido em 24 de maio de 1937). O comandante do 20º BC, coronel Oliveira Góes, que acompanhou a reunião, concordou e propôs também que o oficial alagoano assumisse a Secretaria Executiva da Comissão do Estado de Guerra.

O Diário Oficial do Estado do dia 19 de outubro, publicou o Decreto abaixo:

“Decreto nº 2.287 de 18/10/937:

Cria a Delegacia de Ordem Política e Social no Município da Capital.

O Governador do Estado de Alagoas, no uso de suas atribuições e à vista do Parecer favorável da Secção Permanente da Assembleia Legislativa:

Considerando a gravidade do momento por que atravessa o País em face das agitações extremistas e da necessidade de ainda mais incentivar a campanha contra essas agitações;

Considerando que se impõe no Estado uma repartição controladora dos serviços de ordem política e social,

DECRETA:

Art. 1º – Fica criada na Capital do Estado e diretamente subordinada ao Secretário do Estado e Negócios do Interior, Educação e Saúde, a Delegacia de Ordem Política e Social, composta do seguinte pessoal:

1 Delegado,

1 Escrivão

Art. 2º – O pessoal da Delegacia de Ordem Política e Social será nomeado em comissão, ou designada pelo Governador, de qualquer repartição pública;

Art. 3º – O Delegado da Ordem Política e Social perceberá, a título de gratificação, a quantia mensal de quinhentos mil réis (500$000), e Escrivão, a de cem mil réis (100$000).

Art. 4º -Revogam-se as disposições em contrário”.

O mesmo Diário Oficial publicou a nomeação do capitão Mário Lima.

Na solenidade de posse, no mesmo dia às 15 horas, foi assim saudado pelo secretário do Interior de Alagoas, José Maria Correia das Neves:

“Senhor capitão Mário Lima, ao empossar-vos neste momento, no exercício pleno do cargo de delegado da Ordem Política e Social desta capital. Hoje criado pelo governo do Estado para maior eficiência na execução das medidas decorrentes do estado de guerra, seja-me permitido, apresentar-vos os meus fervorosos cumprimentos pelo acerto da escolha. O vosso passado e o vosso presente são, ao meu ver, o penhor mais do que suficiente seguro para que a sociedade alagoana encontre na vossa gestão os elementos necessários e indispensáveis à sua segurança. A missão, por ser delicada e árdua. Só poderá ser exercida por um homem forte e sereno. As qualidades de que vos falo e das quais tanto carecemos no momento, nós a encontraremos na vossa pessoa, na vossa inteligência, no vosso caráter sem jaça e ainda mais no vosso grande amor ao Brasil e sobretudo, à nossa pequena e generosa Alagoas”.

O capitão Mário Lima agradeceu:

“Senhores por circunstâncias especiais, acho-me agora investido das árduas funções de Delegado da Ordem Política e Social do Estado de Alagoas.

Não era lícito recusar o convite que me fora feito para assumir este cargo, justamente no momento em que as forças armadas têm grandes responsabilidades perante a nação.

E como soldado aqui estou. Acostumado aos rígidos princípios da disciplina e devotamento aos meus afazeres da caserna, outra linha de conduta não me caberia neste momento, senão agir, com a máxima energia, dentro da mais perfeita justiça, excluindo em tudo todo e qualquer assunto de caráter político.

Agradecendo pois a confiança em mim depositada pelo exmo. sr. governador do Estado e demais autoridades estaduais, resta-me apenas transmitir à família alagoana, estando para isso devidamente autorizado, que as forças de Alagoas, firmes nas suas convicções do civismo e de cumprimento de dever, agora, mais do que nunca, forma um bloco coeso, unido e forte ao lado das autoridades constituídas, pronto para rechaçar com a máxima energia toda e qualquer perturbação de ordem”.

No dia 1º de novembro já apresentava seu primeiro relatório à imprensa, detalhando as atividades comunistas em Alagoas (Diário da Manhã de 4 de novembro de 1937). Expôs um volumoso dossiê com panfletos, documentos internos dos partidos, fotografias, depoimentos etc. O DOPS contava então com o precioso auxílio do serviço de inteligência do 20º BC.

Suas investigações se estenderam até 1917, quando foram dados os primeiros passos do movimento comunista em Maceió, sob a orientação de Octávio Brandão. A maior parte do material recolhido dizia respeito às articulações em torno do levante comunista de 1935.

Na manhã de 10 de novembro de 1937, o ministro da Justiça Francisco de Campos anunciou que, após reunião com Getúlio Vargas, estava promulgada uma nova Constituição, que, entre outras alterações, dissolvia a Câmara Federal, Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais. Em 30 de novembro, Osman Loureiro foi anunciado como interventor, permanecendo no poder.

No DOPS, em Maceió, logo se instalou o 1º tenente do Exército Luiz Flamarion Barreto, que exercia o cargo de censor da imprensa. Os diretores dos jornais foram convidados, logo no primeiro dia, a conhecer as normas da censura para Alagoas. Vivia-se a ditadura getulista do Estado Novo.

Em 22 de novembro de 1937, em entrevista coletiva à imprensa, o capitão Mário Lima anunciou que havia abortado um movimento de caráter comunista que visava provocar a perturbação da ordem em Alagoas. Revelou que a DOPS já acompanhava a trama desde 9 de novembro e que ela surgiu dentro da própria Guarda Civil.

Era liderada pelo motorista Abel Tenório e por Júlio Gallego. Contava ele com o apoio e a colaboração de cerca de 20 guardas, inclusive alguns fiscais. Foram ouvidas mais de 50 pessoas e, segundo o delegado, todos os depoimentos afirmaram que se tramava assalto aos bancos, Tesouro do Estado etc. Em poder dos detidos foram aprendidos munições, dois rifles furtados da Guarda Civil, além de outros armamentos roubados da companhia GEOBRA, que construía o Porto de Maceió.

Entre os guardas civis presos estavam: Otávio Leite, Antônio Nascimento, José Nascimento, João Coemyra. Antônio Valentim, Josino Sá, Luiz Costa Lima, Zadir Araújo, Antônio Vicente e Isidro Alves. Os dois últimos eram os encarregados de roubar o armamento.

Os presos citaram que Américo Leite, expulso da Marinha em 1936 em virtude de suas atividades comunistas, era um dos envolvidos. Abel Tenório, que liderava o movimento, achava-se com liberdade condicional por cumprir pena imposta pela Justiça Federal. Havia tomado parte da sedição de 1935.

Em 5 de dezembro de 1937, na cidade ribeirinha de Penedo, foram presos vários propagandistas do partido comunista, entre eles David Mendonça, Paulo de Barros (porteiro da Escola Normal) e Sidrack Albuquerque. Em Maceió, no bairro Ponta Grossa, foi invadida a casa do pedreiro Manoel Vieira da Silva, onde, segundo os policiais, foi encontrado um caixão enterrado com cinco quilos de dinamite e “farta documentação das atividades subversivas de Manu, como livros, boletins, jornais etc”. Ainda na Ponta Grossa, na casa de José Feitosa, o Cigano, foram encontrados materiais de propaganda com as últimas instruções do partido, “além de quatro rifles e respectiva munição”.

Na apresentação do material apreendido, o capitão Mário Lima destacou trecho de um dos documentos: “Os comunistas devem ser os democratas mais consequentes e mais combativos de sua localidade. Devemos modificar os nossos métodos de trabalho, rompamos com as formas esquerdistas sectárias, o candidato à sucessão presidencial com quem estiver maior contingente popular, deve merecer o nosso apoio”.

Em 8 de dezembro de 1937, o DOPS anunciava (Diário de Pernambuco) estas e outras diligências policiais que resultaram nas prisões dos indivíduos Abel Tenório, Geraldo Nicodemus, Wilson Rodrigues, Benon Roberto, Antônio Valença e José Carlos de Almeida. Nos depoimentos, segundo o relatório apresentado, revelaram a presença em Alagoas alguns companheiros que vieram de outro Estado para reorganizar o partido comunista. Em 16 de dezembro foi preso Manuel Paraíba. Estava em andamento a Operação Captura.

Disseram ainda que esses militantes se tratavam por pseudônimos e nem entre si revelavam seus nomes ou seus postos no partido. Os nomes utilizados era: Quaresma, Gorki, Cigano, Aymoré e Okrana.

Segundo divulgação do Diário da Manhã (PE) de 24 de dezembro de 1937, os jornais alagoanos reproduziam o “Boletim da Conferência Regional do PCB”, divulgado pelo DOPS, onde informa que esse partido tinha mais de 500 membros em Alagoas. O mesmo documento trazia uma autocrítica do desempenho dos comunistas: “Nada quase realizamos pela concretização da palavra de ordem — UMA REGIÃO DE 500 MEMBROS! — quando tínhamos possibilidades de ultrapassá-la. Eis um exemplo que mostra como ainda marchamos a passo de cágado: existem subcélulas que há meses e meses se mantém, ao menos quatro ou cinco membros”.

No dia 4 de dezembro, o Governo Federal anunciou nova restrição às liberdades políticas, dissolvendo todos os partidos políticos. Permitia que se organizassem em associação civil com fins culturais, beneficentes, desportivos, mas com nome diferente do Partido extinto.

Com essa medida, fechava-se a Ação Integralista Brasileira. Coube ao delegado do DOPS convocar seus dirigentes em Alagoas, ente eles o Chefe Provincial, Julio Ferreira Caboclo, para tomarem conhecimento do Decreto-Lei expedido pelo presidente da República. Entregaram as chaves de suas sedes e disseram que não mais publicariam o jornal A Província.

Entretanto, Julio Caboclo, que era homem de confiança de Plínio Salgado, permaneceu em Maceió, o que chamou a atenção do DOPS, que passou a vigiá-lo, principalmente porque vários jornais divulgavam as suspeitas sobre a preparação de movimento armado por parte dos integralistas. Essa pretensão dos fascistas se confirmou em Alagoas quando o delegado de Polícia de Penedo comunicou à Secretaria do Interior que Julio Caboclo andava por lá em articulação aberta de um movimento que eclodiria a qualquer momento. Em Rio Largo, da mesma forma, as reuniões clandestinas dos camisas-verdes eram cada vez mais intensas.

Contando com essas informações e após uma reunião entre as autoridades policiais e o interventor, teve início no dia 28 de dezembro a “Operação Abafa”, com a DOPS prendeu todos os elementos suspeitos. Foram 40 em Maceió e 25 em Rio Largo, onde foi encontrado, na oficina metalúrgica da Fábrica Cachoeira, um canhão de 15 cm construído ali clandestinamente pelos integralistas encarregados, no município de Santa Luzia do Norte, do levante de 5 de janeiro de 1938 .

Sabendo do envolvimento de alguns dos seus funcionário e das prisões em suas fábricas, o comendador Gustavo Paiva, demitiu imediatamente alguns dos implicados no movimento integralista e suspendeu outros por tempo indeterminado.

Entre os integralistas presos em Maceió, estavam os seguintes militantes: Julio Ferreira Caboclo, Chefe Provincial em Alagoas; Armando Montenegro, da firma Tércio Wanderley e Cia; Salustiano Euzébio de Barros, escrivão de Júri; Carlomano Carneiro, escrevente do Cartório do 6º Ofício; Renato Caldas, comerciante no Mercado Público; Salustiano Cavalcante de Albuquerque, Contador do Fórum; Perypaty Doria, proprietário da Pensão Alemã, à rua João Pessoa; Jeferson Belo, mecânico das Oficinas da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos, sob cuja orientação foi construído o canhão apreendido pelo Comando do 20º B.C.; Juvenal Antenor Ferreira; Fernando Oiticica, engenheiro civil; Mário Marroquim; Afrânio Lages, advogado; José de Araújo Lima, auxiliar do Fórum; e Silva Garcia, comerciante.

No Trapiche da Barra foram presos presos 15 camisas-verdes, mas o chefe distrital, Pedro Alves, escapou. O engenheiro Fernando Oiticica foi recolhido ao Quartel do 20º BC e outros à Penitenciária de Maceió.

Entre os presos em Rio Largo, estavam: Fernando Caldas, José Alfredo de Carvalho, Nilzo Lima, João Camerino, Marcizo Cabral (mecânico) e Antônio Matias, Fiscal da Prefeitura de Rio Largo.

No dia 31 de dezembro de 1937, o capitão Mário Lima viajou ao Rio de Janeiro para se encontrar com o ministro da Justiça e discutir o destino dos presos políticos de Alagoas. O delegado do DOPS explicou à imprensa que a reunião se dava por ter sido extinta a Justiça Federal e que precisava definir como encaminhar os processos contra os detidos, todos recolhidos à penitenciária de Maceió.

Após 10 dias na capital federal, desembarcou em Maceió divulgando que recebera a recomendação de “para agir contra os elementos comunistas com os mais severos planos repressivos”. Informou também que o Tribunal de Segurança Nacional havia designado um juiz para fazer o sumário de culpa dos acusados.

Em 14 de janeiro de 1938, o delegado da Ordem Política e Social deu a ordem para liberar os restantes dos elementos da extinta Ação Integralista. Haviam sido acusados de conspiração contra a ordem e as instituições. Entre os 15 seguidores do fascismo tupiniquim liberados estavam o professor Júlio Pereira Caboclo, Jefferson Belo e Juvenal Arthur Ferreira.

Em 22 de março de 1938, enviou ao Tribunal de Segurança Nacional o inquérito, com mais de 400 páginas, sobre as atividades comunistas em Alagoas, solicitando prisão preventiva para vários implicados.

Nesse mesmo dia, em declaração ao Jornal de Alagoas, o capitão Mário Lima garantiu que a polícia do Estado estava atenta, mas que até aquele momento nada havia apurado de novo quanto a conspiração integralista, parecendo que, com a descoberta a tempo da intentona de Rio Largo, o mal havia sido cortado pela raiz, ficando desarvorados os “adeptos do sigma“.

Dois meses depois, em 21 de maio de 1938, sem maiores explicações, o capitão Mário Lima solicitou sua exoneração do cargo. Um jornal publicou que havia sido extinta a Delegacia. Em suas memórias, o general Mário Lima argumento que o Exército precisava dele para as instruções dos novos soldados.

Capitão Mário Lima

Em 1939, o capitão Mário Lima adquiriu para a família, na Rua Silvério Jorge em Jaraguá, a casa que teria sido de uma amante do governador Costa Rego.

Carlito Lima, seu filho, lembra assim da casa: “sempre festiva e aberta aos amigos, muitas vezes funcionou como uma espécie de exílio de perseguidos políticos  e de boêmios desamparados”.

Em 27 de novembro de 1940, chegou a Maceió, procedente de Recife, como membro da Comissão encarregada da escolha do local para a construção do novo quartel do 20º BC. Com ele, vieram também o coronel José Rodrigues e os majores Castro Nascimento e Isler Vieira.

Em 9 de setembro de 1943, foi selecionado para a Escola de Estado Maior do Exército.

Com esta patente, Mário Lima foi transferido em 1944 do 20º BC para Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro e em 9 de agosto de 1944 foi nomeado Ajudante de Ordens do general de Divisão Newton de Andrade Cavalcanti

Um pouco antes do final da Segunda Guerra, em 1945, foi estagiar no The Infantary School Fort Benning, nos­ EUA.

General Mário Lima

General Mário Lima

General Mário Lima

Em 27 de junho de 1946 foi promovido a major e regressou ao 20º BC em Maceió, quando conseguiu se formar pela Faculdade de Direito.

Em 1946 era subcomandante e em 1948 o comandante do 20º BC e comandante da Guarnição Federal em Alagoas.

Em 27 de setembro de 1951, no governo de Arnon de Mello, assumiu o comando da Polícia Militar de Alagoas e ali permaneceu até assumir o comando do 20º Batalhão de Caçadores (entre 31 de março de 1952 e 6 de dezembro de 1954).

Em 25 de outubro de 1951, o presidente da República assinou a sua promoção a tenente-coronel.

No final do governo de Arnon de Mello, no dia 2 de junho de 1955, lhe foi entregue a Secretaria de Estado dos Negócios do Interior, Justiça e Segurança Pública.

Em 10 de janeiro de 1956 pediu afastamento do comando da Força Pública de Alagoas.

Foi promovido a coronel em 26 de abril de 1957 e em 4 de janeiro de de 1958 tomou posse como comandante da Polícia Militar de Alagoas.

Em 9 de julho de 1957 tomou posse na chefia da 20ª Circunscrição de Recrutamento em Maceió.

Foi ainda comandante da Guarnição Federal em Alagoas.

Em 17 de junho de 1958, foi promovido a general de Brigada e transferido para a Reserva de 1ª Classe. O mesmo ato, o promoveu, já na inatividade, a general de Divisão.

Mário Lima presidente do Orfanato São Domingos

Mário Lima presidente do Orfanato São Domingos

Mário Lima foi também diretor da Telecomunicações de Alagoas S/A (TELASA) e teve participação atuante em outras instituições da sociedade alagoana.

Dirigiu clubes sociais e esportivos, como o CRB e Fênix Alagoana.

Instituições assistenciais, a exemplo do Orfanato São Domingos e Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

Foi presidente da Federação Alagoana de Desportos, juiz de futebol, diretor do Lions e Rotary.

Era também reconhecido como excelente professor de matemática.

Como escritor, era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas e recebeu o Prêmio Jayme de Altavila da Academia Alagoana de Letras.

Mário Lima também foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Maceió

Mário Lima também foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Maceió

O general Mário de Carvalho Lima faleceu em Maceió no dia 5 de janeiro de 1983, vítima de distúrbios circulatórios. Tinha 74 anos de idade.

Obras:
Floriano e Barroso, Maceió, 1939.
Sururu Apimentado, Apontamentos para a História Política de Alagoas, apresentação de Franklin Casado de Lima e Paulo de Castro Silveira, Maceió, EDUFAL, 1979.
A Revolução de 1930 em Alagoas, Revista do IHGA, v. 31, 1974-1975, Maceió, 1975, p. 31-57.
Plácido de Castro o Libertador do Acre, Revista IHGA, v. 32, 1975-1976, Maceió, 1976, p. 135-148.
Participação de Alagoas no “Trampolim da Vitória” – 2ª Guerra Mundial – 1941/1945, Revista do IHGA, v. 33, 1977, Maceió, p. 45-91.
Assembléia Constituinte Estadual de 1935 Agressiva Campanha Política para Eleição Indireta do Governador do Estado, Revista IHGA, v. 36, 1980, Maceió, 1980, p. 43-68.

Fontes:
ABC das Alagoas.
Blog Meninos da Avenida.
Várias entrevistas e crônicas do seu filho Carlito Lima.
Site do 59º BIMtz. http://www.59bimtz.eb.mil.br/index.php/comandantes.
Arquivo pessoal de Américo “Lelé”, seu filho.

Coronel Mário Lima, Théo Brandão e Carivaldo Brandão na operação salvamento do Gogó da Ema em 1955

Coronel Mário Lima, Théo Brandão e Carivaldo Brandão na operação salvamento do Gogó da Ema em 1955

 

 

 

CApa do livro

Capa do livro Diário de um soldado alagoano no front da Revolução de 1932

Capa do livro Sururu Apimentado

Capa do livro Sururu Apimentado

7 Comments on Mário Lima, o legendário general do povo

  1. cidalia silva santos // 1 de julho de 2015 em 05:19 //

    A História de um povo (de um país, de um Estado, de um lugar) é construída pelas ações e intervenções de seus filhos, seus cidadãos. Dr. Mário (General) é parte inconteste da história de Alagoas.

  2. Genival de Lima Cerqueira - Vavá // 16 de junho de 2020 em 09:54 //

    Nasci e cresci ouvindo o nome do legendário General Mario Lima. Meu pai Eduardo Cerqueira e meu tio Ordener Cerqueira eram amigos próximos do Legendário e VENCEDOR. MÁRIO LIMA.

  3. Franklin Gomes // 19 de junho de 2020 em 13:39 //

    Guardo boas recordações do general Mário Lima,foi meu professor de matemática no Ginásio Anchieta em 1960.

  4. Há uma inconsistência de datas em relação à idade de falecimento do general. Com o nascimento em 1908 e o falecimento em 1983, ele não teria 84 ao falecer. Senti falta também da informação de quando ele foi promovido a general. Feitas essas considerações, receba meus parabéns pelo excelente artigo.

  5. Alexandre, somos gratos pelas observações. Já corrigimos.

  6. Maria Lucia Maciel Gomes Neto // 14 de outubro de 2020 em 13:42 //

    Que emoção, encontrar essa página. Meu pai, Rolindino Manso Maciel, também do exército, foi grande amigo dele. Eu e minha irmã caçula nascemos em Maceió onde ele serviu. Saímos de lá ainda crianças e depois voltamos a passeio, já adolescentes onde estivemos com todos eles. Saudades

  7. Caro Ticianelli, as datas estão corretas, pois a data de aniversário é 24 de outubro. Portanto ele tinha 74 anos

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