Luiz Jatobá, o alagoano gogó de ouro

Luiz Trimegisto Jatobá nasceu em Maceió, no Alto do Jacutinga, no dia 5 de janeiro de 1915, mas não permaneceu por muito tempo em Alagoas. Perdeu o pai ainda criança e com a família, foi morar com um dos seus tios no Rio de Janeiro. Ainda menino, sua mãe voltou a casar e ele ganhou um segundo pai, um oficial do Exército que logo foi transferido para Valença, no Estado do Rio de Janeiro.

Foi ali que passou toda sua infância e onde recebeu a orientação ao bispo André Arcoverde, no Ginásio Valenciano São José. Com a família de volta ao Rio de Janeiro, continuou os estudos no Colégio D. Pedro II, de onde saiu para o curso de Medicina da Universidade do Brasil.

Quando cursava o 2º ano de Medicina, em 1935, incentivado por sua namorada, foi aprovado seleção de locutores da Rádio Jornal do Brasil, que estava para ser inaugurada.

Luiz Jatobá no início da carreira no final dos anos 30

Às 7 horas da manhã do dia 10 de agosto de 1935 a voz de Luiz Jatobá anunciou o acordo entre a Inglaterra e a Alemanha no cenário de ameaças e conflitos que antecediam à Segunda Guerra Mundial. Era o primeiro noticiário lido na Rádio Jornal do Brasil, ainda em fase experimental. A solenidade de inauguração oficial se deu naquele mesmo dia, no início da noite.

Em 1938, transferiu-se para a Rádio Vera Cruz, no Rio de Janeiro, onde apresentava o Programa da Tarde e o Programa da Noite, além de ser o locutor-chefe da empresa.

A partir de agosto de 1939, com Getúlio Vargas no poder, em plena ditadura do Estado Novo, Luiz Jatobá, passou a trabalhar para o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo Federal, assumindo a locução da Hora do Brasil, substituindo Zolachio Diniz.

Em 1944, com John Boles na CBS em Nova Iorque

Em 1944, com John Boles na CBS em Nova Iorque

A partir de 1940, foi morar nos Estados Unidos, onde dirigiu a Divisão Brasileira da Cadeia das Américas da Columbia Broadcasting System (CBS), além de prestar serviços para várias companhias cinematográficas, incluindo a Metro (MGM), Fox e Paramount.

Mesmo trabalhando como locutor e fazendo uma série de irradiações para o Brasil a partir de Nova Iorque, continuou os seus estudos de Medicina na New York Graduate School of Orthopedices. Tinha a pretensão de regressar ao Brasil após a guerra para trabalhar como médico ortopedista.

De volta ao Brasil, em outubro de 1944, passou a escrever reportagens para vários jornais cariocas e para a Revista Manchete. Em fevereiro de 1945 apresentava O Nome do Dia, crônicas lidas à 21h30 na Rádio Nacional.

Pouco tempo depois, foi contratado pela Metro Goldwyn Mayer e voltou aos EUA, onde permaneceu até 1950.

Retornou ao Brasil para assinar contrato com a TV Tupi de São Paulo, PRF-3, canal 3, ainda em 1950. Passou então a dirigir artisticamente a emissora, que havia sido inaugurada naquele mesmo ano, no dia 18 de setembro. A TV Tupi foi o primeiro canal de televisão do país. Surgiu por iniciativa de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, que já comandava os Diários Associados.

Luiz Jatobá foi convidado por Fernando Chateaubriand, sobrinho de Assis Chateaubriand, que o queria também como o apresentador do primeiro telejornal da TV Tupi do Rio de Janeiro. Somente foi ao ar no dia 20 de janeiro de 1951, data em que foi inaugurada.

Luiz Jatobá foi considerado a melhor voz do Brasil e das Américas

Luiz Jatobá foi considerado a melhor voz do Brasil e das Américas

Além de trabalhar no telejornal, Jatobá também era locutor na Rádio Mayrink Veiga. Depois esteve na Rádio Nacional, onde ficou de 1958 a 1960.

Em 1960 trabalhou como narrador da TV Rádio Clube de Pernambuco, no programa Vale a Pena Contar, produzido pela agência Brasil-Pan.

Na TV Rio, era o narrador do programa O Feijão e o Sonho em 1961. No ano seguinte assinou contrato com a Rádio Mayrink Veiga. Em junho 1963, na TV Tupi, apresentava Os Dez Mais.

Em novembro de 1963 foi para a TV Excelsior como apresentador do Jornal da Cidade, ao lado de César Ladeira, Oduvaldo Cozzi, Roberto Faissal, Cyl Farney, Anik Mavil, Iris, Geraldo Borges, Hilton Gomes e Sargentelli.

Após assumir a direção de jornalismo da Excelsior do Rio de Janeiro em 1963, transformou o Jornal Excelsior, “um show de notícias”, em dos maiores sucessos da televisão brasileiro. Por força do patrocínio, passou a chamar-se Jornal Cássio Muniz. Em 1965 o programa foi levado para a TV Tupi, onde afinal recebeu o nome de Jornal de Vanguarda. Em 1966 foi para a TV Globo, e nos anos seguintes foi apresentador da TV Continental e TV Rio.

Em 1966, comanda o Jornal de Verdade na TV Globo

Em 1966, comanda o Jornal de Verdade na TV Globo

Em abril de 1964 esteve em Maceió, convidado oficial do governo do Estado para visitar sua terra natal. Voltou a Alagoas novamente em 1975, na inauguração da TV Gazeta.

Já na TV Globo, em 1966, participou do Noite de Gala e se reencontrou com o Jornal de Verdade, agora na emissora dos Marinhos. De volta à TV Excelsior, em 1969, apresentou o Telejornal Pirelli.

Na TV Rio, em 1969, foi o entrevistador no programa Primeiro Plano. Em maio de 1971 estreia o programa Globo Especial, diretamente de Washington, dividindo a telinha com Hilton Gomes. Participou ainda do Programa Flávio Cavalcanti em 1971.

Em junho de 1975, voltou à TV para apresentar Realidades na TV Rio. O programa era transmitido de Houston, Texas, e abordava problemas urbanos, arquitetura e transporte.

Luiz Jatobá foi um pioneiro na migração dos locutores de rádio para a televisão

Luiz Jatobá foi um pioneiro na migração dos locutores de rádio para a televisão

Após 45 anos atuando na comunicação, perguntaram a Luiz Jatobá sobre qual foi a melhor notícia que leu. “Foi sobre a descoberta da vacina Salk.”. E a mais triste? “Foi quando tive que noticiar o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima”.

Em outubro de 1961 se divorciou de Betty Hennlly, sua esposa norte-americana e casou-se com a ex-esposa de Humberto Teixeira, a atriz e pianista Margot Bittencourt (Margarida Jatobá). Luiz Jatobá foi pai de quatro filhos: Luiza, Arthur, Herme Luize e Luiz Carlos.

Durante alguns anos, praticamente todos os cinemas brasileiros apresentavam o “Cinejornal Canal 100”, com destaque para o futebol carioca em câmera lenta, narrado por Luiz Jatobá, que colocava sua voz logo após se ouvir as primeiras notas da música “Que bonito é….

Durante a ditadura militar, quando era apresentador dos telejornais da Globo, passou a ser perseguido e ameaçado de prisão e tortura por ter noticiado o péssimo atendimento dos hospitais públicos do Rio de Janeiro. Temendo o pior emigrou para os EUA, onde voltou a emprestar sua voz ao cinema.

Dono de uma voz possante, foi considerado o locutor de melhor voz do Brasil e das Américas. Faleceu aos 68 anos, no dia 9 de dezembro de 1982, na Casa de Saúde Bambina, em Botafogo, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde 28 de novembro. Tinha sido operado da coluna vertebral.

Morava em Nova Iorque, mas retornou ao Brasil para visitar o pai. O agravamento da sua doença foi atribuído à perda do seu filho Luiz Carlos Jatobá, publicitário que foi sequestrado em janeiro de 1981 e nunca mais encontrado.

Aniz Abraão, presidente da Escola de Samba Beija-Flor, teve sua casa de veraneio em Jurujuba arrombada e dela subtraídos Cr$ 400 mil em joias e objetos. Não prestou queixa na Delegacia, mas contratou alguns policiais para punir os ladrões.

Luiz Carlos Jatobá, que sempre passava dias naquela cidade hospedado num hotel em companhia de sua esposa e os três filhos, teve contato com dois conhecidos arrombadores, Cléber e Candy. Essa pode ter sido a causa do seu sequestro e sumiço.

No vídeo abaixo, Luiz Jatobá participa do Programa Abertura da TV Tupi em 1979, ao lado de personalidades se pronunciaram pela abertura política no país.

7 Comments on Luiz Jatobá, o alagoano gogó de ouro

  1. Gostei muito da matéria!!!!

  2. Gustavo Miranda // 16 de fevereiro de 2016 em 19:28 //

    Matéria interessantíssima!!!!! Não é de hoje que pesquiso sobre o grande Luiz Jatobá!

  3. Olá sou Andréa Jatobá neta de Luís jatobá.

  4. Ana Almeida // 1 de dezembro de 2018 em 19:33 //

    Excelente reportagem!!

  5. Olá, gostaria de confirmar se o Jatobá tinha uma irmã que morou em Bauru/sp nos anos 60. Ele esteve aqui na época. De repente a Andrea, sua neta, pode checar essa historia. Obrigado. Abraços.

  6. Gustavo Carvalho Miranda // 15 de junho de 2023 em 02:43 //

    Excelente matéria sobre o extraordinário Luiz Jatobá, do qual meu avô foi amigo, e de cujo filho, o desaparecido Luiz Carlos Jatobá, meu saudoso pai foi grande amigo!

  7. Sou estudante de jornalismo na Fapcom. Luiz Jatobá é minha referência em locução.

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