Lamenha Filho, o “major Toinho” do Engenho Coronha

Lamenha Filho toma posse no Governo de Alagoas em 1966

Antônio Simeão de Lamenha Lins Filho nasceu no Engenho Coronha em São Luís do Quitunde no dia 28 de agosto de 1919. Filho de Antônio Semeão Lamenha Lins e Olímpia Lins Lamenha, estudou os cursos primário e secundário no Colégio Diocesano.

Aos 17 anos perdeu o pai e voltou a morar no Engenho Coronha, assumindo os negócios da família. Era um período difícil para o setor, que vivia a crise do açúcar banguê no Estado.

Casou-se com a penedense Marina Braga Lamenha e com ela teve cinco filhas e um filho. Sua filha Jane Lamenha foi casada com Manuel Gomes de Barros, governador de Alagoas entre 1997 e 1998.

Em 1946, com 27 anos, foi eleito diretor da Cooperativa dos Banguezeiros e da Associação dos Fornecedores de Cana de Alagoas para a gestão 1946/1948. Neste mesmo ano participou da fundação do Partido Social Democrático – PSD.

Nas eleições seguintes, em 1950, assumiu a Prefeitura de São Luís do Quitunde.

Com o secretário de Educação, José de Melo

Com o secretário de Educação, José de Melo

Quatro anos depois, deixou a prefeitura para assumir o mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa. Foi eleito com 1.439 votos, ficando no 16° lugar. Eram disputadas 35 vagas. Foi reconduzido em 1958 com 1.994 votos. Em 1962 obteve 1.749 votos, ficando em 17° lugar.

Era o presidente da Assembleia quando ocorreu o famoso processo de impeachment do governador Muniz Falcão em 1957.

Por ter sido em Alagoas um dos líderes civis do Golpe Militar de 31 de março de 1964, foi beneficiado quando Muniz Falcão foi impedido de assumir o governo em 1965. No ano seguinte, em eleição indireta foi indicado governador do Estado.

Eleições de 1965

Muniz (PSP) seria o governador do Estado durante quatro anos (derrotou Rui Palmeira (UDN) nas eleições de 3 de outubro de 1965), se os militares no poder não tivessem instituído a Emenda Constitucional nº 13, promulgada em 8 de abril de 1965, que exigia do candidato a maioria absoluta (50% + 1) dos votos, excluídos, para a apuração destes, os em branco e os nulos.

Como não conseguiu, por força da Emenda Constitucional nº 9, de 22 de julho de 1964, cabia a Assembleia Legislativa referendar ou não, em voto secreto, a escolha popular. O mais votado teria que conseguir metade mais um dos votos dos deputados. Caso contrário, haveria nova eleição em até 30 dias entre os dois candidatos mais votados.

No dia 8 de novembro, a Assembleia deixou de homologar a eleição de Muniz por 21 votos contra 11. Houve um voto em branco e dois deputados foram declarados impedidos: Cleto Marques — era o vice da chapa de Muniz — e Arnaldo Paiva — cunhado de Francisco Oiticica, vice de Rui.

Sem o referendo da Assembleia, deveria acontecer novo pleito, como estipulou a Emenda Constitucional nº 9, de 22 de julho de 1964, devidamente incorporada à Constituição Estadual. Entretanto, dias antes da deliberação (27 de outubro de 1965), a ditadura militar baixou o Ato Institucional nº 2, estabelecendo eleições indiretas para a presidência da República, o que levou o Tribunal Superior Eleitoral a suspender todas as eleições no país.

Outro problema criado pelo o AI nº2 foi a extinção dos partidos políticos. Se houvesse nova eleição, Muniz e Rui seriam candidatos de qual partido?

Durante o impasse cogitou-se uma solução negociada com a indicação de um terceiro nome. As especulações incluíam Osman Loureiro, Ismar de Góis Monteiro e Evaldo Inojosa.

Mesmo com tantas indefinições legais, o TSE entendeu que deveria haver nova eleição.  O TRE-AL, que deveria encaminhar o pleito, não o fez, gerando suspeitas de que agia assim por orientação das “forças ocultas“. Alegava inexistência de partidos e falta de garantias.

Depois de várias idas e vindas de resoluções do TSE e TRE e mantido o impasse, o general Castelo Branco determinou intervenção no Estado de Alagoas em 14 de janeiro de 1966. O escolhido foi o general da reserva João Batista Tubino, que assumiu o governo em 31 de janeiro, data em que o governador Luiz Cavalcante concluiu seu mandato. Permaneceria no cargo apenas por seis meses. Deixou o governo no dia 15 de setembro de 1966.

A partir de março de 1966, quando se agravou o câncer que já vinha afetando a saúde de Muniz Falcão desde o ano anterior, foi descartada definitivamente a possibilidade de nova eleição popular. Muniz faleceu em 14 de junho de 1966 no Hospital Português do Recife.

Com a eleição indireta para governador marcada para o dia 3 de setembro de 1966, a Arena, partido do governo, tratou de preparar a lista tríplice dos candidatos a candidato, que seria enviada ao presidente da República.

O partido se reuniu no dia 2 de julho, no Clube do Trabalhador, para escolher entre Lamenha Filho, Afrânio Lages, Benício Monte e Segismundo Andrade os três semifinalistas. O escolhido pelo general Castelo Branco seria confirmado na convenção marcada para o dia 15 de julho.

Rui Palmeira, que era o nome mais cogitado até então para ser o indicado ao governo, “desistiu” da pretensão após uma reunião entre os seus correligionários, general Tubino e general Castelo Branco em Brasília.

Lamenha Filho no Engenho Coronha

A expectativa era grande, por se saber que o escolhido pela Arena seria o governador, considerando que o partido tinha a maioria na Assembleia Legislativa. Lamenha Filho largou na frente com 27 votos. Segismundo Andrade recebeu 18 votos, Afrânio Lages, 8, e Benício Monte, 6 sufrágios.

Um fato chamou atenção durante a reunião partidária presidida por Rui Palmeira: não houve discursos.

No dia 5 de julho, às 11h da manhã, o presidente Castelo Branco anunciou que o escolhido para representar a Arena no pleito indireto era o deputado Lamenha Filho. O deputado Sampaio Luz foi o escolhido para vice da chapa na convenção do dia 15 de julho.

No dia 3 de setembro, no Clube do Trabalhador, onde a Assembleia estava funcionando, Lamenha Filho recebeu 23 votos dos deputados (19 da Arena e 4 do MDB). Três deles não votaram: o presidente da Casa e os dois candidatos (governador e vice).

O jornalista Nilton de Oliveira, em seu livro Eu Fui Testemunha, revela que nessa disputa entre os Arenistas, Rui palmeira era o preferido da quase totalidade das forças dominantes na política alagoana, mas que teve a sua poderosa bancada federal “passada pra trás”.

Revelou o experiente jornalista que Lamenha foi beneficiado por ter um bom currículo político, mas principalmente porque os generais não concordavam a com a indicação de Rui Palmeira. Ele havia sido derrotado por Muniz Falcão menos de um ano antes.

A missão mais complicada de Lamenha foi escolher o deputado Sampaio Luz o seu vice entre os udenistas.

O governador Lamenha Filho

O jornalista Bernardino Souto Maior, em artigo publicado na Gazeta de Alagoas, ressalta o cuidado que Lamenha teve para formar a sua equipe de secretários, escolhendo por critérios técnicos, da mesma forma como agiu na presidência da Assembleia.

Lamenha Filho na Assembleia

Lamenha Filho na Assembleia

Uma das suas escolhas foi o professor José de Melo Gomes, que ele queria como secretário de Educação. O Serviço Nacional de Informação (SNI) vetou o nome por José de Melo ter participação política de esquerda no passado. O governador não recuou e ele foi nomeado, tornando-se um dos melhores secretários de Educação do Nordeste.

O Gabinete Civil foi entregue a Antenor Claudino e ao advogado Carlos Mendonça. A Secretaria de Viação e Obras Públicas ficou sob a responsabilidade do coronel José Anchieta do Vele Bentes. Para a Administração foram dois jornalistas: José Alves de Oliveira e Antonio Sapucaia. A atuação desta secretaria resultou em 15 intervenções em prefeituras que apresentaram irregularidades em suas contas.

Para o Banco do Estado de Alagoas foi nomeado Carlos Ramiro Bastos e na Ceal o empresário Benedito Geraldo do Vale Bentes. Como Secretário do Planejamento a escolha recaiu sobre o experiente Ib Gatto Falcão.

A assessoria jurídica foi ocupada pelo jurista Marcos Mello, que logo transformou essa função na Procuradoria Judicial, hoje Procuradoria Geral do Estado. Na Agricultura ficou o engenheiro agrônomo Antonio Marcias e na Saúde o médico Aderbal Jatobá.

Governador Lamenha Filho, Pelé e Napoleão Barbosa na inauguração do Trapichão

Governador Lamenha Filho, Pelé e Napoleão Barbosa na inauguração do Trapichão

Durante o seu governo houve a ampliação da eletrificação do estado e do abastecimento de água encanada nas cidades do interior. Implantou o Conselho Estadual de Cultura e criou o Instituto de Tecnologia e Pesquisa Aplicada e a Companhia Beneficiadora do Lixo – Cobel.

Inaugurou obras importantes como o Estádio Rei Pelé, o Matadouro Frigorífico de Satuba, a sede do Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal e da Secretaria de Saúde, além de implantar a Escola de Ciências Médicas, a Fundação TV Educativa e criar a Secretaria de Planejamento.

Ib Gatto Falcão, que foi secretário de Planejamento de Lamenha Filho, narra um episódio que revela os cuidados que ele tinha com a preservação da autoridade: “Um dia, recebendo uma visita interessada em prestar serviços rodoviários ao Estado, insistente, em meio à discussão dos aspectos técnicos, administrativos e financeiros, resolveu ofertar uns litros de bom uísque ao governador. Polidamente, rejeitou a gentileza, mas ante a insistência do visitante, suavemente, chamou o chefe do Gabinete Militar, apresentou-o ao ofertante e tranquilamente determinou que recebesse o presente e o inscrevesse no ativo do almoxarifado do Palácio”.

Lamenha Filho deixa o Palácio no fim do governo

Lamenha Filho deixa o Palácio no fim do governo

Concluiu seu período governamental no dia 15 de março de 1971. Segundo José Carlos Maranhão, saiu do governo em situação difícil, sem ter sequer um automóvel.

Em 1974 colocou seu nome à disposição da ARENA como candidato ao Senado, mas foi preterido em função da candidatura de Teotônio Vilela.

Após ter influenciado na escolha do nome de Divaldo Suruagy para ser o governador que sucederia a Afrânio Lages, entrou em divergência com o diretório nacional do seu partido, o que o levou a pedir afastamento da legenda. Em seguida, resolveu abandonar a política e a partir de então dedicou-se exclusivamente ao Engenho Coronha.

Muitas vezes foi procurado para voltar à política. Não aceitou, mas recebia sempre os amigos para conversar sobre os destinos de Alagoas.

Faleceu em Maceió no dia 3 de janeiro de 1997.

Fonte principal: Memória Legislativa nº 6. Pesquisa do professor Ib Gatto Falcão.

2 Comments on Lamenha Filho, o “major Toinho” do Engenho Coronha

  1. Meu pai era chefe de gabinete de José de Melo. Prof Jose Damasceno Lima

  2. Patrícia Lamenha // 20 de maio de 2022 em 09:31 //

    Ele era primo do meu avô Oscar Mendonça Lamenha.

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