Ladeira do Brito, a antiga Grota do João Cardoso

Sede do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, esquina da Ladeira do Brito, nos primeiros anos do século XX

“Era uma terrível grota”. Assim Pedro Nolasco Maciel definiu em 1876 o local que futuramente seria a Ladeira do Brito.

Em “Traços e Troças“, lançado em 1899, Nolasco conta a história do Tesoureiro da Fazenda Geral, Dr. Francisco das Chagas Muniz, que procurou esta grota para cometer suicídio no dia 6 de outubro de 1876, após ter cometido desfalques na Fazenda Pública.

Cabeça da Ladeira do Brito em meados do século XX

Em uma planta de Maceió datada de 1840, a Grota do João Cardoso é facilmente identificada como a área citada por Pedro Nolasco.

No Jornal de Alagoas de 2 de julho de 1961, o Dr. Luiz Gonzaga Silveira Carvalho traça o retrato da ladeira no início do século XX: “A ladeira era muito estreita, cheia de valetas quase profundas e o terreno de topografia bastante acidentada. Quando chovia então era mesmo que se andar por cima de sabão vermelho, derrapando aqui e ali, e algumas ruas da cidade eram invadidas por água sanguínea em cadatupa que arrastava blocos de barro vermelho, que muito afeiava a cidade”.

Mapa de Maceió de 1840 com a Grota do João Cardoso, onde seria construída a Ladeira do Brito

Mapa de Maceió de 1840 com a Grota do João Cardoso, onde seria construída a Ladeira do Brito

Segundo Félix Lima Júnior em Memórias de Minha Rua, foi o português Luiz de Brito, que chegou à Maceió em meados do século XIX, quem mandou abrir a ladeira ou melhorá-la, facilitando o acesso ao Jacutinga.

Este comerciante veio para Alagoas com o objetivo de explorar pau brasil em União dos Palmares (Imperatriz). Chegou a ser um dos maiores exportadores de madeira do Estado. Brito construiu como residência um sobrado na Rua da Imperatriz (Rua do Sol).

Outro morador deste sobrado foi José Maria da Costa, que ficou mais conhecido como Zé Maria dos Balões por ser um exímio fabricante destes artefatos utilizados nas festas juninas de então. A ele também é atribuída a instalação da primeira feira livre da capital, em 1865.

Após a abertura da ladeira, a área que hoje envolve a Rua Ambrósio Lyra (mirante) e Rua dos Bandeirantes — era o Planalto do Outeiro — ficou conhecida como Alto do Brito. A casa de Luiz de Brito, na Rua do Sol, após a sua morte foi alugada ao Hotel Nova Cintra, que já ocupava o prédio vizinho.

Em março de 1895, na gestão do intendente Coronel Lima Rocha, foram realizadas melhorias na ladeira com escavações para nivelamento do declive e calçamento.

No ano seguinte, os jornais noticiaram que sete presos foram levados para trabalhar na ladeira, preparando o leito para a continuação do calçamento. O Chefe de Polícia oficializou ao governador que precisava pagar a cada um dos presos 200 rs por dia.

Ladeira do Brito sendo alargada em 1915

No dia 11 de novembro de 1899, uma nota publicada no Gutemberg informou que na vala aberta na Ladeira do Brito para a passagem dos bondes surgiram algumas cobras e que no dia anterior o senhor José Maria da Costa, o dos Balões, tinha matado uma jararaca “que media mais de metro e meio“.

Esse mesmo cidadão vendia, na Ladeira do Brito, “os saborosos queijos do sertão de Mucureré”. Ao que tudo indica, os negócios com laticínio não deram certo. No dia 17 de fevereiro de 1907, José Maria da Costa anunciou que estava vendendo as casas de número 24, 26 e 28 na Ladeira do Brito.

Sinal de que a área prosperava foi a publicação, em jornal de julho de 1905, de anúncio informando que a “afamada” Chapelaria de Senhora tinha mudado da Rua da Alegria para a Rua 15 de Novembro (antiga Rua da Imperatriz e atual Rua do Sol), esquina com a Ladeira do Brito.

Em janeiro de 1909, o intendente Antônio Guedes Nogueira, ao apresentar mensagem ao Conselho Municipal, informou das melhorias realizadas na ladeira, principalmente a construção de uma sarjeta para escoamento das águas pluviais e de um pontilhão de madeira.

Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas

Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas

Neste mesmo ano, em 23 de outubro, o Instituto Archeológico e Geográfico de Alagoas conseguiu que o Estado de Alagoas, governado por Euclides Vieira Malta, comprasse o prédio da esquina da Rua do Sol com a Ladeira do Brito para funcionar como sede da instituição.

O edifício pertencia ao despachante Américo Passos Guimarães e custou 35 contos de réis. Foi totalmente reformado e as novas instalações foram inauguradas em 14 de outubro de 1923.

As obras de alargamento da ladeira para melhor receber o serviço de bonde elétrico começaram entre o final de 1914 e início de 1915, como informou o governador Clodoaldo da Fonseca, em seu relatório de 15 de abril de 1915.

A necessidade da reforma dessa Ladeira surgiu quando um bonde elétrico fez a viagem experimental (às 19 horas de 14 de setembro de 1914) da linha que atenderia o Alto do Jacutinga, saindo da Praça Sinimbu, passando pela Ladeira do Brito, Rua Comendador Palmeira, Rua Santa Cruz, Praça Dr. Jonas Montenegro, Rua das Piabas e Av. Tomaz Espíndola.

Ladeira do Brito em 1949 durante a instalação da rede de água de Maceió

A melhoria da Ladeira foi tratada pelo governador como parte da sua política de investimentos nas vias para melhorar os transportes urbanos na capital. Assim, anunciou em seu relatório a construção de “grandes avenidas, uma ligando Maceió ao Farol [Ladeira do Brito], outra ligando a Praça do Hospital [hoje Praça São Vicente] ao Trapiche da Barra e à Beira-Mar, contornando todo litoral e construiu-se mais um trecho do Riacho Maceió”.

As obras da Ladeira do Brito devem ter atrasado muito, como noticia, em 30 de janeiro de 1917, o Diário do Povo, ao publicar nota informando que o intendente, Coronel Firmino Vasconcelos, ainda estava concluindo o processo de desapropriação de casas para o alargamento da Ladeira do Brito.

Outra grande obra interditou a Ladeira por vários dias. Em 1949 recebeu as tubulações do sistema de distribuição de água encanada que tinha origem na caixa d´água que fora construída no alto, ao lado do Parque Gonçalves Ledo.

Rua do Sol e Ladeira do Brito nos anos 50. Acervo IHGAL

Não foi encontrada informação sobre a lei que mudou o nome da Ladeira do Brito para Av. Clodoaldo da Fonseca. É de se supor que quando concluída a reforma da ladeira iniciada em 1915, ano em que Clodoaldo da Fonseca encerrou o seu governo (foi de 12 de junho de 1912 a 12 de junho de 1915), o intendente propôs a denominação como uma homenagem ao ex-governador.

A nova denominação, a exemplo de outras, não foi bem aceita pela população, que continuou a se referir à ladeira como sendo do Brito. Esse descompasso foi resolvido pela Lei nº 4069 de 29 de outubro de 1991, de autoria do vereador Enio Lins, que restabeleceu a denominação de Ladeira do Brito.

Fontes: Maceió de Outrora, de Félix Lima Júnior; Memórias de Minha Rua, de Félix Lima Júnior; Revistas do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, 2008; Traços e Troças, de Pedro Nolasco Maciel; Jornais Orbe e Gutemberg.

11 Comments on Ladeira do Brito, a antiga Grota do João Cardoso

  1. Ronnie Christian // 3 de outubro de 2015 em 18:49 //

    Parabéns pelo belo trabalho, nós só temos que agradecer.

  2. Delma Conceição de Lima // 4 de outubro de 2015 em 06:30 //

    Mais uma história para abrilhantar a iniciativa do criador deste grupo MACEIÓ ANTIGO. Parabéns!!!

  3. Aloisio Melro // 13 de maio de 2017 em 19:08 //

    Mais um brilhante resgate de parte nossa história presenteado por Edberto Ticianeli a todos os alagoanos. Presente inestimável.

  4. Muito interessante e importante trabalho informativo. Adorei, parabéns!

  5. Muito boa a história da ladeira do Brito. Gostaria de saber se vocês tem algumas fotos antigas do bairro jacintinho e história daqui pois morro aqui no bairro.

  6. Ticianeli // 15 de maio de 2017 em 10:41 //

    Cara Mariza, estamos terminando a pesquisa sobre o Jacintinho. em breve publicaremos algumas informações sobre o bairro.

  7. Eu era criança e a ladeira era de areia. o ônibus subia com muita dificuldade.lembrancas maravilhosas.

  8. Muitas lembrancas da ladeira que era dificil a subida de onibus

  9. Vinicius Maia Nobre // 1 de abril de 2019 em 21:03 //

    A Ladeira do Brito me é muito importante pois farolense nascido à Praça Gonçalves Ledo, 258, foi a ladeira escolhida pelos responsáveis pelos bondes da CFLNB para o acesso ao Alto do Jacutinga por ser a de melhor desenvolvimento (menor rampa ou inclinação) do que a da Catedral e Martírios. Ademais existiu uma área (espécie de parque) para fugir da parte mais alta no topo da ladeira! Lembro-me também de um grave acidente com a morte do motorneiro que perdendo o freio “invadiu” uma casa de esquina Sol/Beco São José!

  10. Na década de setenta Maceió começo a ser reproduzida.
    tornou-se uma capital com toques de civilização.
    Morei na Rua da Praia vinte e sete anos. Excelente rua. Apenas era calçada
    Na década de setenta foi feito asfalto. mas não foi melhor.
    O asfalto esquenta muito. só é vantagem para os carros.

  11. Marileide // 14 de maio de 2022 em 13:18 //

    Morei na Rua Comendador Palmeira em frente ao Parque Gonçalves Ledo, quantas lembranças lindas de minha infância e adolescência.

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