Jayme Amorim de Miranda, a maior liderança comunista de Alagoas

Jayme Miranda foi sequestrado pela Ditadura Militar no dia 4 de fevereiro de 1975, após sair de casa no bairro do Catumbi, no Rio de Janeiro.

Jayme Miranda e família

Jayme Miranda

O jornalista e advogado Jayme Miranda nasceu em 18 de julho de 1926 em Maceió/AL e era o segundo dos dez filhos do casal Manoel Simplício de Miranda e Hermé Amorim de Miranda.

Ingressou na Faculdade de Direito de Alagoas, mas interrompeu o curso em 1946 para, aos 22 anos, tornar-se 3º Sargento de Engenharia do Exército, no Rio de Janeiro.

Com 23 anos de idade, ainda estudante e também bancário, em 1949, já participava de algumas atividades ligadas ao Partido Comunista. Em sua ficha no DOPSE consta que era um dos distribuidores de “boletins subversivos” em 16 de outubro daquele ano.

Em 1950, Jayme reabriu o jornal A Voz do Povo cujo objetivo, segundo Dirceu Lindoso, era fazer uma crítica ideológica e radical marxista na vivência alagoana do século XX. Por seu trabalho em defesa da classe trabalhadora e das ideias marxistas, A Voz do Povo foi considerado como uma publicação subversiva.

Jayme Miranda foi preso pela primeira vez em 12 de março de 1951, quando participava de um comício operário em Fernão Velho. Em abril daquele mesmo ano estava de volta ao DOPSE, intimado a dar explicações por estar distribuindo a A Voz do Povo.

Ainda em 1951, foi anotado em sua ficha que tinha participado, em junho, da distribuição do boletim do “Movimento Alagoano dos Partidários da Paz“, que atuava contra a participação do Brasil na Guerra da Coreia.

Dois meses depois discursou na reunião e instalação da Frente Juvenil em Defesa do Petróleo e da Economia Nacional, “deixando transparecer a orientação comunista sobre o assunto”, como registrou o DOPSE.

No dia 19 de dezembro de 1951, a Voz do Povo publicou um manisfesto “Em Defesa da Paz, da Vida e da Liberdade“. Jayme Miranda era um dos seus signatários.

Jayme Miranda e sua turma de Direito na formatura em dezembro de 1951 (o segundo acima da direita para a esquerda)

Colou grau em Direito no fim de 1951, graças a seus amigos que o protegeram de mais uma prisão. Somente em 29 de setembro de 1954 foi que prestou compromisso para inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, obtendo o registro nº 354.

Em janeiro de 1952 seu nome estava entre os que assinaram mais um manifesto do “Movimento Alagoano dos Partidários da Paz“. Dois meses depois foi preso com outros companheiros por ser dirigente e divulgar uma “organização subversiva”, o PCB.

Estava em Recife no ano de 1953, quando voltou a ser preso e condenado a 12 meses de reclusão, cumpridas no Presídio de Maceió. Durante sua prisão, foi acusado de liderar um “movimento de caráter subversivo na Penitenciária do Estado”. O inquérito foi aberto no dia 17 de novembro de 1953. Nesse processo também foram incursos José Domingos da Silva e José Luiz dos Santos.

Na verdade, Jayme Miranda, como humanista que era, aproveitou o tempo em que estava detido para orientar outros prisioneiros, que cumpriam pena sem denúncia formal. Indicava que impetrassem habeas corpus para se livrarem das prisões ilegais.

Jayme Miranda 3º Sargento do Exército em 1948

Segundo o DOPSE, em 1959 Jayme Miranda viajou pela Europa, Ásia e África (passaporte nº 279933).

Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros e diante da tentativa de golpe para impedir a posse do vice-presidente João Goulart, ocorreram várias mobilizações políticas para garantir que Jango assumisse. Em Alagoas foi realizado um ato público no dia 7 de setembro, no Parque Rodolfo Lins, atual Praça do Pirulito. Nesse “Comício da Legalidade“, Jayme declarou que “quisera ter a honra de ser comunista“.

Esse pronunciamento já fazia parte da campanha pela legalização do Partido Comunista, que no mês seguinte, no dia 4 e no mesmo local, voltou a realizar comício, com a presença de Jayme Miranda, reivindicando o reconhecimento do partido.

Em janeiro de 1962, também estava presente no ato convocado pelos estudantes secundaristas de Alagoas. O evento não ocorreu por intervenção da Polícia, que argumentou não ter autorizado e agrediu os manifestantes. Por protestarem contra a violência empregada, Nilson Miranda (irmão de Jayme) e Laudo Braga foram presos.

Foi um dos oradores da reunião organizada pelos “Amigos de Cuba” no dia 26 de julho de 1962 na sede do Montepio dos Artistas. Comemorava-se a data da primeira ação revolucionária liderada por Fidel Castro em 1953: o ataque sem vitória ao Quartel de Moncada.

Segundo a ficha do DOPSE, Jayme concitou os presentes a pegarem em armas contra qualquer participação do país em agressões à Cuba, algo que estava sendo planejado pelos EUA.

No início de 1963, viajou para a “América, Europa, Ásia e África” (passaporte nº 372580.

Sua presença em uma reunião realizada na casa do advogado José Moura Rocha em 2 de novembro de 1963, levou a Segurança Pública de então a identificá-la como “de caráter comunista“.

No último comício daquele ano, no Parque Rodolfo Lins, Jayme Miranda voltou a reafirmar a sua condição de comunista e defensor do regime cubano, que indicava como uma referência e que deveria ser adotado no Brasil. Assim anotou o DOPSE.

Na China com Mao Tsé Tung

Em suas viagens internacionais, sempre designado para missões pelo Partido Comunista, esteve em Cuba onde participou de reuniões com Fidel Castro e Che Guevara. Fez parte da primeira delegação do Partido Comunista Brasileiro – PCB à China para reuniões com Mao Tsé Tung.

Casamento de Jayme Miranda com Elza

Um homem de ideais

Jayme casou-se com Elza Miranda e teve quatro filhos: dois nascidos em Alagoas (Yuri e Olga) e dois nascidos do Rio de Janeiro (Jayme e André), para onde se mudou em 1965 para tratar da saúde e dar continuidade aos seus projetos políticos.

Rubens Colaço e Jayme Miranda em um bar de Jaraguá no início dos anos 60

Jayme ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) ainda jovem e suas habilidades logo o alçaram a ocupar os cargos mais importantes daquela organização. Foi considerado o terceiro homem na estrutura do PCB.

Foi ainda suplente de deputado estadual em Alagoas, sendo o mais votado na capital, porém, teve cassado seu mandato após o Golpe Militar de 1964.

Propaganda eleitoral do candidato a deputado estadual Jayme Miranda

Em 7 de abril de 1964, o DOPSE em Alagoas instaurou inquérito contra Luiz Carlos Prestes, Jayme Miranda e outras 72 pessoas. Tinha início a Ditadura Militar.

Novo mandato de prisão contra ele foi lavrado em 3 de novembro de 1965, por solicitação do ministro da Guerra e Exército. Para fugir da prisão, escondeu-se no Rio de Janeiro.

Poliglota, nesse período trabalhava clandestinamente traduzindo textos para os grandes jornais do Rio de Janeiro e São Paulo.

Em fevereiro de 1967, teve seus direitos políticos cassados e passou a ser tratado pela Ditadura como terrorista. Para escapar do cerco da repressão, mudava de residência com sua família periodicamente.

As sequelas das torturas sofridas nas suas diversas prisões obrigaram Jayme a ausentar-se do País, em meados de 1973, para tratar sua saúde na União Soviética, somente retornando no ano seguinte.

Jayme Miranda com sua esposa, Elza Miranda, e filhos

Em 4 de fevereiro de 1975, Jayme Amorim de Miranda saiu de casa, no bairro do Catumbi no Rio de Janeiro, para encontrar um colega de partido, encarregado de entregar-lhe alguns documentos. Nunca mais foi visto.

Foi sequestrado, torturado e morto pela repressão. Segundo o livro Desaparecidos Políticos, de Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, Jayme foi executado em São Paulo e seu corpo jogado de um avião militar no Oceano Atlântico, a 200 milhas da costa.

Na versão do ex-agente do DOI-CODI/SP, Marival Chaves, em entrevista publicada pela revista Veja de 18 de novembro de 1992, Jayme teria sido morto sob tortura e seu corpo jogado no Rio de Avaré, interior de São Paulo. Na página 25 da citada revista, o repórter  questiona o entrevistado: “Voltando ao Rio Avaré. O senhor falou em oito nomes, mas contou só seis”. Em resposta, Marival Chaves revela o nome dos outros dois corpos jogados no Rio Avaré: “Um é Jayme Amorim de Miranda, também preso na Operação Radar, numa das incursões do DOI de São Paulo ao Rio. Foi transferido para Itapevi (…)”.

Jayme Miranda chegando a Madrid talvez na sua última foto

Jayme Miranda chegando a Madrid talvez em sua última foto

Levantamento feito pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, publicado no livro Direito à Memória e à Verdade, também reforça a tese da morte de Jayme por tortura pelo DOI paulista.

Elio Gaspari, em A Ditadura Encurralada, por sua vez, afirma que Jayme, sequestrado no Rio, fora visto do DOPS/SP e assassinado no Centro de Informações do Exército – CIE de Itapevi/SP pelas mesmas pessoas posteriormente responsáveis pelas mortes de Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho.

Segundo Elio, “(…) nesse dia desapareceu, no Rio de Janeiro, Jayme Amorim de Miranda, ex-secretário de organização do PCB. Acabava de voltar de Moscou. Teria sido visto no DOPS de São Paulo. Foi assassinado no aparelho do CIE em Itapevi”.

Veja o excelente documentário Memórias de Sangue produzido pelo IZP, com produção executiva, textos e comentários de João Marcos Carvalho e imagens principais de André Feijó.

(Texto adaptado a partir de material publicado no site Jayme Miranda).

2 Comments on Jayme Amorim de Miranda, a maior liderança comunista de Alagoas

  1. O documentário “Memórias de Sangue – Jayme Miranda, um lutador social,” do jornalista e historiador João Marcos Carvalho, pode ser visto no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=39AdpxZ2k6I

  2. Cícero Romão de Araújo // 26 de abril de 2018 em 10:47 //

    Histórias de nossa terra ,é com orgulho que relembro tempos bons não voltará já mais .

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