Jânio Quadros contra o Sindicato da Morte em Palmeira dos Índios

Feira na Praça da Independência em Palmeira dos Índios, no ano de 1968

Jânio Quadros candidato a presidente em 1960

A campanha eleitoral de 1960 ficou para a história graças a Jânio Quadros, candidato a presidente pelo Partido Trabalhista Nacional, PTN e que contou com o apoio da UDN. Adotando o slogan “varre, varre, vassourinha, varre, varre a bandalheira”, o ex-governador paulista prometia acabar com a corrupção, equilibrar as finanças públicas e diminuir a inflação.

Professor e vereador em São Paulo, costumava “exibir” caspas nos ombros, andar com roupas amassadas, além de surpreender os amigos ao retirar sanduíches de mortadela dos bolsos.

Enfrentando principalmente Ademar de Barros, Jânio Quadros tinha como vice em sua chapa o advogado mineiro Milton Campos e, em Alagoas, recebia o apoio de Luiz Cavalcanti, principal candidato ao governo do Estado entre os oposicionistas a Muniz Falcão, que trabalhava para eleger Abraão Moura.

Em excursão pelo Nordeste, Jânio Quadros programou três eventos políticos em Alagoas. O primeiro em Penedo, depois em Maceió e por último em Palmeira dos Índios, segunda maior cidade de Alagoas em 1960 e tida como fortíssimo reduto de Muniz Falcão por ter, então, Robson Mendes, seu cunhado, como prefeito.

A revista Mundo Ilustrado de 27 de agosto de 1960 noticiou com estardalhaço este último comício publicando três páginas sob o título “Jânio-Milton enfrentam o Sindicato da Morte”, revelando claramente seu alinhamento político com o candidato paulista.

João Dantas, proprietário da revista desde 1957, era também dono do Diário de Notícias e amigo de Jânio Quadros. A reportagem foi assinada pelo alagoano Luiz Gutemberg e as fotos de Pedro Farias, da Gazeta de Alagoas.

Robson Tavares Mendes,Sebastião Marinho Muniz Falcão e Rubens Canuto

O primeiro assunto destacado pela revista foi a frase proferida por Luiz Cavalcanti em seu discurso: “Não matarei, nem permitirei que matem no meu governo”. O jornalista considerou tal afirmativa como “o mais estranho juramento da atual campanha”.

No texto, Luiz Gutemberg termina por esclarecer as razões do estranhamento. Informa que Palmeira dos Índios “sempre foi centro de violências”, “mas, ultimamente, tornou-se em sede e símbolo do Sindicato da Morte”.

Em seguida diz que por lá se reuniam bandidos assalariados de quase todos os estados do Nordeste, insinuando que estavam sob a proteção e a serviço do prefeito Robson Mendes, que impedia a ação da polícia no município.

Com esta apresentação do palco do comício, a reportagem afirma que seria impossível para a oposição realizar ali sua pregação política. E então apresenta Jânio como o destruidor de barreiras. “Jânio Quadros resolveu quebrar o tabu” e marcou para o dia 4 de agosto seu comício em Palmeira dos Índios.

Na verdade, quem garantiu o comício e o clima tranquilo na noite de 4 de agosto de 1960 foi a presença do Exército com 105 soldados do 20º Batalhão de Caçadores, que foram deslocados para o agreste alagoano ainda na madrugada daquele dia.

No palanque de Jânio Quadros e do Major Luiz Cavalcanti estavam Teotônio Vilela — o vice da chapa governamental — e Arnon de Mello, além de outras lideranças políticas da oposição. Todos discursaram em paz, naquele que foi considerado pela revista como “um ato de libertação”.

Luiz Cavalcanti recebe Jânio em Palmeira dos Índios em 1960. Foto de Pedro Farias

Contando ainda com o apoio dos senadores Freitas Cavalcanti e Rui Palmeira, dos deputados federais Carlos Gomes de Barros e Segismundo Andrade, os dois candidatos, Luiz Cavalcanti e Jânio Quadros, venceram o pleito de 3 de outubro de 1960.

Encerrando a reportagem, Luiz Gutemberg informa que todos saíram ilesos da “visita à sede do sindicato da Morte. Não importa que, no dia seguinte, os populares que compareceram ao seu comício tenham começado a sofrer perseguições e ameaças, apesar da presença do Exército”.

Robson Mendes foi assassinado no dia 7 de março de 1967 pelo pistoleiro Zé Crispim. Seu pai, o deputado Humberto Mendes, foi o único morto no famoso tiroteio ocorrido na Assembleia Legislativa de Alagoas em 1957 durante o processo do impeachment do governador Muniz Falcão.

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