O majestoso Hotel Bella Vista

Hotel Bella Vista
Boca de Maceió no final do século XIX. Hoje é a Praça dos Palmares

Boca de Maceió no final do século XIX. Hoje é a Praça dos Palmares

Quando a Estação Ferroviária se instalou na Rua Barão de Anadia em Maceió, no ano de 1884, fez surgir no seu entorno várias hospedarias e hotéis. O principal deles foi o Hotel Universal, instalado logo acima do largo conhecido como Boca de Maceió, na ladeira de acesso à Rua do Comércio. Pertenceu à sociedade entre Aureliano Braz Pereira e José Correia da Costa. Este se retirou da firma em 21 de abril de 1899.

Essa entrada na parte central da cidade abrangia uma área que hoje está ocupada pela Rua do Comércio (trecho que foi Rua da Ladeira e Ladeira do Palácio),  Praça dos Palmares e a Rua Barão de Anadia. Em alguns registros, o largo que deu origem à Praça Sinimbu também é citado como sendo Boca de Maceió.

Em 10 de outubro de 1910, o Hotel Universal foi adquirido por João Gomes, passando a se chamar Hotel Petrópolis, o “único que não tem mosquito“. Tinha na gerência Antônio Brandão.  No ano seguinte incorporou a pensão vizinha, de Roberto Nobre, e passou ater dois endereços: Rua Barão de Anadia, nº 16 e 18.

Foi demolido para a construção da residência do penedense Arsênio Fortes, um comerciante bem-sucedido em Maceió. Entretanto, durante a construção seu proprietário resolveu utilizar o palacete como hotel e organizou uma companhia para explorá-lo, a Sociedade Anônima Bela Vista Palácio Hotel. O capital inicial foi de 600 contos de réis.

O projeto de adaptação do prédio residencial para um hotel foi do arquiteto alemão Guilherme Jâgerfeld. Tinha três andares, com 30 metros de altura, ocupando uma área de 1.400 m2. Dispunha de 40 quartos e cinco terraços mosaicados e artísticas balaustradas. Um detalhe: a frente do hotel sempre foi voltada para a Ladeira do Palácio, da mesma forma que o Hotel Petrópolis, aquele que se orgulhava de não ter mosquitos.

A autorização para tal modificação foi solicitada ao governador Fernandes Lima em 31 de janeiro de 1922. Arsênio Fortes pretendia ter isenção de impostos por 15 anos, isenção de impostos para as suas importações para construção e decoração do prédio. Pretendia vê-lo inaugurado no dia 7 de setembro de 1922, quando se comemoraria o centenário da independência. Somente foi inaugurado às 13 horas do dia 21 de junho de 1923.

Na inauguração, com presença do governador Fernandes Lima e de outras autoridades, foi oferecido um banquete. As músicas ficaram por conta das bandas da Polícia Militar, do 20º Batalhão de Caçadores e da Orquestra do Cinema Floriano.

No livro Memórias, Discursos, Artigos e Rimas, de A. C. Simões, há uma referência a existência de um “elevador-gaiola” no hotel, e a informação que este teria sido o primeiro edifício de Maceió a utilizar tal recurso.

Hotel Bella Vista na década de 30

Hotel Bella Vista na década de 30

Possuía energia elétrica fornecida por um gerador a gás. A água consumida no hotel era própria, retirada por bomba elétrica de um poço tubular artesiano de 46 metros de profundidade.

Bráulio Leite Júnior, no seu livro Outras histórias de Maceió, revelou que o embaixador português e escritor dramaturgo Júlio Dantas hospedou-se no Bella Vista em 1924 e deixou o seguinte comentário: “Tenho a impressão de que estou numa terra de príncipes, pois este hotel é um dos mais bonitos do Brasil”.

O Bella Vista em 1950

O Bella Vista em 1950

Revelando a sua importância para a cidade e para a sociedade local, no dia 11 de junho de 1924, no salão do restaurante do Bella Vista Palácio Hotel, o dr. Homero Galvão, representando a Associação Comercial, fez a saudação ao governador Costa Rego, que estava sendo empossado.

Mesmo com todo o reconhecimento da sua beleza arquitetônica, o empreendimento parecia não estar dando os resultados esperados. Dois anos depois de inaugurado, no dia 31 de março de 1925, o hotel fechou as portas. Somente reabriu no dia 15 de março de 1926, após alguns melhoramentos, ainda sob a gerência de Arsênio Fortes. Voltou a fechar no dia 15 de março de 1928.

Em 1929 foi à leilão. Arrematado pela empresa de seguros Aliança da Bahia, passou a ser administrado por Romeu dos Santos e depois foi negociado com Adib Robay, quando passou a se chamar Bella Vista Palace Hotel.

Em agosto de 1952 o hotel foi posto à venda e anunciado no Diário de Pernambuco. Tinha “50 quartos, aluguel baratíssimo, aparelhado para banquete de 200 talheres“.

Em 8 de janeiro de 1955, o jornalista Umberto Peregrino publicou na revista carioca Careta o Guia do Excursionista Incauto, com críticas ao Bela Vista, que foi indicado a ele como o principal hotel da cidade. “Seria talvez uma maravilha 50 anos passados”, observou.

“Ocupa casarão antigo, de nobre e imponente aspecto, ao qual conduz suntuosa escadaria. Ao galgá-la lentamente, que é longa e digna de admirar-se, a gente tem a sensação de estar ingressando em autêntico palacete imperial, em cujos salões dourados surgirá a qualquer instante algum Barão de fartas suíças grisalhas… Mas, em vez disso, o que se depara é o Sr. Adib Rabay, um sírio de mesureira amabilidade e, no fundo, simpático sujeito.

Quanto ao palacete por dentro é apenas uma hospedaria meio sórdida, meio atraente. Gosta-se do quarto enorme, com espaçosa sacada espiando o mar à distância, mas são detestáveis as divisões e passadiços internos, a escada escura, o salão de imobiliário híbrido, os cheiros indefiníveis.

Também não se confia na limpeza. Dos móveis, da roupa de cama, das toalhas, do aspecto dos empregados, de tudo só vem impressão de relaxamento e de sujeira.

As refeições são fartas e variadas, sobremesa é à vontade. Entretanto o serviço do refeitório é péssimo. Garçons sem traquejo, manifestamente improvisados e postos a funcionar sem a menor orientação. A comida é servida fria, todos os pratos trazidos de uma vez. Enfim, falta de nível”.

Segundo Roland Benamor, que morou com seu pai por muitos anos no hotel, Adib Robay era um turco que tinha o costume de ir dormir às 17h e acordar às 4h da manhã para que os viajantes não deixassem o hotel sem pagar a conta.

Benamor informou ainda que Adib, “apesar de ter sido dono de três hotéis em Maceió, ficou pobre e os antigos viajantes que se hospedavam no Bella Vista se cotizaram para que ele pudesse voltar para a Turquia“.

O Bella Vista fechou as portas definitivamente no início dos anos 60 e começou a ser demolido no final daquela década. Suas ruínas só foram retiradas em 1969 para dar lugar ao prédio do INAMPS, atual INSS, que foi inaugurado em 1974.

O economista Eduardo Lima lembra quando começou a retirada dos escombros em 1969. Segundo ele, “foram comprados pelo comerciante Murilo Nogueira, dono da loja A Tartaruga. Os restos do Bella Vista serviram de aterro do mangue onde hoje é o mercado (antiga CEASA)”.

Em 1969, o local onde onde existia o Bella Vista foi limpo para a construção do prédio do INAMPS

Em 1969, o local onde existiu o Bella Vista foi limpo para a construção do prédio do INAMPS

11 Comments on O majestoso Hotel Bella Vista

  1. ROLAND BENAMOR // 12 de junho de 2015 em 10:54 //

    Ediberto,

    Sai de Maceió, indo para o Rio no início de 1966. Até então – e acabei de confirmar com uma minha irmã, que até essa data o Bella Vista continuava “intato”, pelo menos externamente. Tenho absoluta certeza de que sua demolição ocorreu após essa data.

  2. maria goretti baracho // 25 de junho de 2015 em 10:27 //

    Parabéns pela foto antiga do centro de Maceió.

  3. marcos de farias costa // 17 de outubro de 2015 em 12:10 //

    Foi um crime de lesa-arquitetura a demolição do portentoso Hotel Bella Vista, que foi propriedade do turco Adib Robay (atentem pro nome); e também não menos delituoso, ambos crimes de descaso perante a arquitetura maceioense, foi a demolição da antiga cadeia Pública. Dois belos prédios que foram para as cucuias, vítimas da incúria politíco-administrativa de Alagoas. Amén.

  4. João Henrique Pereira // 30 de março de 2016 em 12:20 //

    Uma simples análise de fotos antigas da região central de Maceió é necessária para constatar que a década de 60 e 70 foi promovida uma campanha de vandalismo arquitetônico em nossa cidade que acabou por a torná-la feia. Antes dessa data seria risível, eu suponho, que nossas campanhas de promoção do turismo se concentrassem nas belezas naturais da capital.

  5. Jamil Gadêlha Zaidan // 13 de junho de 2016 em 21:05 //

    Amigo Historiador EDBERTO TICIANELI. Esta é a razão de postar e de dizer, por inteiradas vezes, que o iminente homem publico, que você é, não pode deixar de mostrar toda esta riqueza cultural e histórica que MACEIÓ TEVE. PARABÉNS. A EDUCAÇÃO E A CULTURA DO POVO QUE AINDA TEM CORAGEM E TEMPO DE LÊ E ESCREVER AGRADECE. MUITO OBRIGADO, PELA AULA DE HISTÓRIA, QUE SEMPRE NÓS DÁ. VAMOS CONTINUAR ASSIM, NÃO VAMOS DEIXA NOSSA HISTÓRIA MORRER.

  6. Manassés Paranhos Prado // 6 de março de 2018 em 15:06 //

    Quando foi demolido o Bella Vista Pálace Hotel, quem era o então prefeito da capital de Maceió?

  7. Ainda vivemos em um país ondem os governantes, fazem vista grossa para nossos monumentos e acervos.

  8. Infelizmente não alcancei o hotel, mas fica aqui o meu repúdio, é muito triste ver fotos de um prédio tão bonito de arquitetura inigualável ter sido demolido, e deixando os alagoanos órfãos de tamanha beleza!

  9. Realmente é lamentável, a história de Maceió foi toda apagada com raras exceções, q se encontram submetidas ao descaso de governantes q n dão valor a história, só pensam em se locupletar dos recursos públicos e ficam impunes pq o STF deixa os processos caducarem e o povo ignorante propositadamente, vendem seus votos .

  10. Que lindo! Amei conhecer a história do hotel e como era belo. Pena que fizeram um prédio sem “presença” no lugar e que há décadas está desocupado.

  11. Luiz Antônio Santos Medeiros // 24 de janeiro de 2023 em 13:10 //

    No prédio do INAMPS, que a Lívia chamou de “sem presença”, havia, na parede direita do salão de entrada, um painel de madeira com três cenas representando momentos da vida de Jesus Cristo: a primeira, referente ao nascimento, um dragão de sete cabeças tentando pegar um bebê (menção ao livro do Apocalipse), a segunda, relacionada a sua vida oculta, Ele transmutando como carpinteiro e, a terceira, da sua vida pública, lembrando o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes.

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