História do Asilo das Órfãs Desvalidas Nossa Senhora do Bom Conselho

Escola Estadual Nossa Senhora do Bom Conselho, em Bebedouro

O orfanato feminino foi fundado sob a evocação de N. S. do Bom Conselho pela Lei nº 748 de 13 de junho de 1877 e sua instalação ocorreu em 8 de dezembro de 1877, na administração do presidente da Província Antônio dos Passos Miranda, que teve uma breve passagem pelo governo alagoano — de 16 de maio de 1877 a 8 de fevereiro de 1878.

Órfãs do Asilo de Nossa Senhora do Bom Conselho em 1905, com o coronel Firmo Lopes

Os recursos para a construção do prédio vieram de doações de “associações e particulares com avultados donativos para se montar um asilo de órfãs, porque assim o desejava um poder presidencial. Contribuição pesada e dura na situação em que nos achávamos então, mas que, entretanto, foi satisfeita, só porque, cumpre dizê-lo imparcialmente, era o primeiro funcionário público da província que assim o exigia”, criticou O Orbe em sua edição de 16 de março de 1879.

As pesquisas históricas indicam que o Asilo das Órfãs Desvalidas N. S. do Bom Conselho foi criado para receber as órfãs dos soldados alagoanos que morreram na Guerra do Paraguai (1864 e 1870), e as menores que perderam seus familiares durante a longa seca que atingiu o Nordeste naqueles anos.

Para sua instalação, contou com a ajuda de recursos enviados pelo imperador D. Pedro II.

Asilo das Órfãs em 1929

O prédio do orfanato em Bebedouro foi construído em 1877 por Manoel Candido Rocha de Andrade, agrimensor formado na antiga Escola Central do Rio de Janeiro.

Coube a ele também a conclusão do Asilo de Santa Leopoldina, além de ter contribuído para o término da obra do prédio dos Correios. Faleceu em 1896.

Dias depois de sua inaugurado, em 8 de dezembro de 1877, o presidente da Província já avaliava que as verbas destinadas pelo monarca não eram suficientes para manter as atividades do Asilo e criou uma Sociedade Beneficente para captar recursos. O Conselho Deliberativo desta Sociedade era nomeado pelo governador.

É provável que as limitações financeiras do início tenham sido as responsáveis pelas poucas órfãs atendidas. Contrastando com a pomposa cerimônia de inauguração, que contou com a presença de diversas autoridades, entre elas o presidente da Província, e de “50 senhoras distintas de nossa sociedade”, somente sete meninas, em dezembro de 1877, estavam abrigadas para receberem aulas de primeiras letras e prendas domésticas.

Outro sintoma da falta de recursos para manter a instituição foi revelado em 1879, quando o então presidente da Província, Cincinato Pinto Sobral, integrou o Asilo à Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

A medida foi tomada oficialmente pela Resolução nº 744, de 23 de junho daquele ano, estabelecendo que o Asilo passava a fazer parte da Santa Casa, considerando que estas instituições tinham a mesma natureza filantrópica e que deviam seguir em suas atividades, mesmo que não houvesse a ajuda financeira do governo.

Aula de Lavanderia, sob a responsabilidade da irmã Clemente, em 1929

No final daquele ano, o terceiro após sua instalação, ocorreu mais uma festa comemorativa da sua fundação, novamente com a presença do presidente da Província e de várias autoridades.

Durante o evento foi anunciado que mais uma jovem órfã seria admitida no Asilo. Maria Joaquina foi a oitava menina a ser recebida.

Em 1882, após serem pagas várias dívidas da instituição, mais três órfãs foram aceitas. Segundo o relatório apresentado, isso somente foi possível por ter se aumentada a arrecadação naquele período.

Entretanto, as dificuldades financeiras já estavam de volta no ano seguinte, deixando de pagar seus 24 funcionários, que mesmo sem receber, continuaram prestando seus serviços, sem prejudicar o ensino de prendas e as aulas na escola primária.

Cinco anos depois o Asilo abrigava 30 menores. Mesmo com o número ampliado em relação aos primeiros anos, o aproveitamento da instituição era considerado inferior às expectativas geradas, deixando um enorme contingente de órfãs sem atendimento.

Em 1894, seis asiladas deixaram o estabelecimento: duas para casar; duas por contrato de locação de serviços e duas recebidas por parentes. Naquele ano, existiam 35 internas.

Em 1929, aula de costura sob a direção da irmã Daniel

Esta desvinculação ao orfanato era prevista no regulamento da instituição, que limitava aos 18 anos a idade de permanência das órfãs.

Normalmente, as educandas deixavam o Asilo para casarem ou para trabalharem em casas de famílias ricas.

Em 1904, o governo assinou contrato com a Congregação do Santíssimo Sacramento para que quatro de suas Irmãs assumissem o Asilo, que recebia naquela data 32 internas. Em 1912 passou para 70 meninas e quatro anos depois já eram 82.

Não se tem informação sobre o que aconteceu com a Sociedade Beneficente instituída em dezembro de 1877, mas em 1912 o governador Clodoaldo da Fonseca aprovou, pelo Decreto de 12 de novembro de daquele mesmo ano, uma proposta de reforma dos Estatutos criando uma “sociedade beneficente e protetora do Asilo de Órfãs desvalidas de Nossa Senhora do Bom Conselho composta exclusivamente de senhoras sob a direção de um Conselho composto de 18 Diretoras-Conselheiras, inclusive a Presidente, Vice-presidente, duas Secretárias, uma Tesoureira e uma adjunta desta”.

Em 23 de setembro de 1914, no final do governo de Clodoaldo da Fonseca, foi criada uma filial do Asilo em Marechal Deodoro. A iniciativa visava melhor acomodar as internas, considerando que as instalações em Bebedouro suportavam no máximo 50 delas, mas já recebia 80.

Grupo de educandas no Asilo em 1929 com a irmã superiora Sophia ao centro e à esquerda as irmãs Vicentina e Isabel e à direita as irmãs Clementina, Clemente e Daniel

Coube ao governador João Batista Acioli Júnior inaugurar, no dia 21 de abril de 1915, o Asilo anexo denominado de Orfanato São José.

Para viabilizá-lo, o governante solicitou ao bispo diocesano, dom Manoel Antônio de Oliveira Lopes, a cessão das antigas instalações do Convento do Convento Franciscano de Santa Maria Madalena, em Marechal Deodoro.

O Orfanato de São José entrou em funcionamento com 20 asiladas e passou a receber os recursos anteriormente destinados ao Orfanato de São José da Lage, que havia sido extinto.

Lá também funcionavam duas escolas em regime de externato — uma atendendo ao curso primário e outra ao secundário — com o intuito claro de arrecadar recursos para a manutenção do Asilo.

Em 1951 ainda funcionava o Asilo das Órfãs naquela cidade histórica.

O Asilo de Bebedouro, em 1919, acolhia 110 órfãs.

Foi sob a direção do comendador Firmo da Cunha Lopes que a instituição viveu o apogeu e graças ao seu empenho as estruturas foram ampliadas e o aporte de recursos permitiu o funcionamento do orfanato nas melhores condições depois da sua criação.

Lembrança da formatura das alunas do Asilo de N. S. do Bom Conselho em 8 de dezembro de 1942, com o arcebispo Dom Ranulpho Farias ao centro e o dr. Ib Gatto de termo branco

Em 1928 o governo Federal instituiu por decreto o Código de Menores e em Alagoas, suas normas foram incluídas na Organização Judiciária do Estado, oficializada pelo Decreto nº 1.243, de 20 de março de 1928.

Coube ao dr. Quintella Cavalcanti estudar a norma legal e apresentar sugestões das medidas a serem adotadas pelos estabelecimentos de menores em Alagoas.

A primeira proposta, publicada em 16 de novembro de 1929, recomendava a “reforma dos regulamentos do Aprendizado Agrícola de Satuba e do Asilo das Órfãs de N. Senhora do Bom Conselho, de modo a destiná-los à preservação de menores abandonados, respectivamente de um e outro sexo, que neles as autoridades judiciárias mandarem internar”.

No ano de 1938, em pleno Estado Novo de Getúlio Vargas, o Asilo foi transformado na Escola Normal Rural Nossa Senhora do Bom Conselho, adotando a decisão estabelecida pelo Decreto Estadual nº 2.298, de dezembro de 1937, o mesmo que criou o Instituto de Educação.

Escola Estadual N. S. do Bom Conselho

O seu artigo 51º determinava que “As Escolas Normais do Asilo das Órfãs de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Bebedouro; de Penedo e Viçosa, serão oportunamente transformadas em Escolas Normais Rurais. Parágrafo Único — Enquanto não for satisfeita a exigência deste artigo, continuarão estas Escolas a obedecer ao regimen (sic) didático que oram se regem”.

Em 1964 passou a oferecer o curso Pedagógico, já então conhecido como Colégio Bom Conselho.

Nos anos 90 foi incorporada à rede estadual de ensino e o seu prédio, pertencente à Sociedade dirigida pelas irmãs, foi alugado ao Estado e passou a ser denominado Escola Estadual Bom Conselho.

Em abril de 2019, o centenário prédio tombado pelo Patrimônio Histórico estadual apresentou rachaduras e os mais de 800 alunos daquela Escola foram alocados na Escola Estadual Professor Afrânio Lages, no Cepa.

Os 180 estudantes do período noturno da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Bom Conselho, que naquela data já tinham sido deslocados para a Escola Estadual Rosalvo Ribeiro, em Bebedouro, também foram estudar no Cepa.

O prédio está na área de instabilidade provocada pela extração de salgema da Braskem, segundo relatório da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).

13 Comments on História do Asilo das Órfãs Desvalidas Nossa Senhora do Bom Conselho

  1. Em 1948 participei de retiro espiritual durante o carnaval.Saudades das Irmãs Sacramentinas.

  2. José Maurício Brêda // 21 de agosto de 2017 em 23:04 //

    Aquele de Branco sentado Entre dois padres é Dr. Ib Gatto Falcão. Era professor na época.

  3. Anne Kelly Martins // 22 de agosto de 2017 em 22:26 //

    Que saudade dos bons tempos do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho…da banda, da disciplina, da biblioteca e das irmãs Sacramentinas que ajudaram em nossa formação profissional. Sou formanda de 1997, de uma geração que respeitava e era respeitada. De bons mestres como Professor Elias Passos Tenório.Hoje me resta recordar

  4. Maria LuizaPessoa // 23 de agosto de 2017 em 17:22 //

    Estudei deste primeiro me formei no ano que o colégio completo 💯 trabalhei 12anos lá tempo bom saudades

  5. Carmen Lidia S P Costa // 30 de dezembro de 2017 em 14:00 //

    Minha mãe foi aluna de desta instituição se formou em 08/12/1949 a pequena orfã desvalida aos 17 anos foi lecionar no grupo escolar da Usina Uruba.

  6. Olá, alguém sabe responder de quem são as fotos desta matéria datadas de 1929? Pergunto porque minha avó paterna foi interna do Bom Conselho até 1933/34, e eu acredito que ela possa estar em alguma dessas fotos – talvez na foto onde aparecem todas. Porém a resolução da foto não permite essa identificação. Gostaria muito de conhecer o dono das fotos, pra talvez pedir um scan em melhor qualidade. Obrigado pela atenção!

  7. Meu pai e minha mãe se conheceram nesse lugar .casados até hoje

  8. Eduardo Sarmento Tenorio // 20 de março de 2020 em 17:03 //

    Meu pai, Professor Elias Passos Tenorio foi diretor dessa instituição durante 30 anos .
    A educação de Alagoas deve muito a esse Colégio.

  9. Boa noite!
    Fui aluna do Bom Conselho, jogava handbol, tocava na Banda e era uma das alunas que era chamada de macaca, kkk pela D Eneida. Que saudades e que tristeza não poder voltar ao lindo casarão das irmãs. Conclui o Ensino Medio em 1985. Seria muito bom ver fotos de todas as épocas do ilustre Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho.
    Obrigada pelas doces lembranças e saudades desse lugar mágico ❤️

  10. Roberta Paes // 18 de outubro de 2020 em 22:49 //

    Quantas saudades do nosso querido e amado Bom Conselho. Fui aluna desde 1983 até 1995. Foram muitos anos de convivência num lugar que traz referências para um Bairros ilustre e áureo como é Bebedouro.
    Lá fui aluna das Irmãs Aurora minha primeira professora alfabetizadora, irmã Leônia, Irmã Madalena, Irmã Luzinete e a irmã Angelica todas fizeram parte da ala do Jardim da infância existente nos anos 80 até 91. Sinto a maior felicidade em ter sido educada com os melhores professores que tínhamos são inúmeros sem falar nos melhores festivais de música, arte , dança que era proporcionado. Os Jogos internos Belíssimo e os famosos festivais de cinema que aconteceram nos anos 92 até 94 um verdadeiro espetáculo.
    Amava as aulas de campo na horta cada semana na minha infância e pre-adolescência era uma aprendizado para vida toda.
    É sem contar as artes de culinárias dos anos 87 a 93 no refeitório coletivo onde tínhamos a Liberdade de escolher uma sexta do mês um prato para fazermos e desfrutar e Irmã Madalena sempre nos apoiando. Irmã Sofia sempre nos moldando com tia Marluce nas aulas de prendas onde as festas das Mães e avós levávamos para casa nossas pinturas, bordados em tecidos e chuviscagem cada um mais linda e nossos familiares quando viam se encantavam.
    Isso sim era educar! Nunca esqueci um hino quer que seja e uma data cívica e como devíamos nos portar neste dia, quê preparar e como está.
    Sem contar as presenças marcantes nos corais, aulas de canto e a Banda onde ensaiavamos para nos apresentar de forma rudimentar e sempre com a presença marcante de nossa Diretoria.
    Inesquecível tudo e toda aprendizagem onde que passou nesta fase jamais esquecerá de cada detalhe vivido.
    Bom Conselho ficará eternamente em nossas vidas e nossa memória!

  11. Jozicleide Maria Lopes Mergulhao // 19 de outubro de 2020 em 05:16 //

    Como parte da sociedade pobre de da Capital de Alagoas, tive a oportunidade do acesso as artes, como d. Maria José Morais, ao esporte com d. Josie e prof Radjalma, incentivo à leitura com as professoras Eneida, Salete, Ivonete e Wal, todos precursores da cidadã que me tornei. Guardo registrado em memória os melhores momentos do ” recreio”, das aulas de técnicas para o lar e agrícolas com minhas eternas amigas: Elenice, Waldiza, Luzia Cristina, Kátia, Cristina.
    Hoje, estabelecida em Pernambuco, minha história tomou rumo bem sucedido, o qual, boa parte, agradeço com o registro aberto agora.
    As lições verdadeiramente aprendidas pelo convívio com todos que fizeram parte da minha infância e parte da juventude na instituição Bom Conselho, e especialmente nas pessoas das irmãs : Leônia , Cristina, Luzinete e Jailde, como também a inesquecível irmã Antônia, são referências de valores que resultaram no indivíduo que me tornei.
    E por tantos outros registros e aprendizados, que exponho o meu pesar, em ter que incoformadamente , assumir emocionalmente que minha história de vida, foi drenada sem o mínimo RESPEITO, em favor de um “progresso ” do qual sou história viva, pela indústria química Braskem, para obtenção de produtos diversos, mesmo às custas de impactos ambientais aos ecossistemas marinhos e grande problemas de saúde pública, resultante do abalo emocional aos moradores do bairro de Bebedouro, Mutange, Pinheiro e tantos outros bairros que virão compor .
    Registrando aqui, que história não se paga com dinheiro, por maior que seja a quantia; se paga com respeito, pois é isso que dá dignidade ao componente da mesma, visto que as construções coloniais edificadas, têm junto à história de um povo.

  12. Ana Flávia Torres Amaral // 19 de outubro de 2020 em 13:39 //

    Fui aluna/interna do colégio São José em Marechal e no Bom Conselho. Infernizava a vida da irmã Elizabeth e morria de medo da irmã Cristina. Adorava fazer ginástica rítmica. Vendo esse matéria lembrei de quanto era divertido ficar na arquibancada assistindo os jogos de vôlei dos professores, o Gilson era o colírio para nossos olhos e no basquete tinha um loirinho (aluno) chamado Kleber que jogava muito!!! Que saudades do jogos internos e das competições externas. Saudades…

  13. Marilene de Mello Pontes // 29 de outubro de 2020 em 05:40 //

    Gostaria muito de obter umas fotos do coral em apresentação do coral na igreja catedral eu Marilene fazia parte do mesmo nao tenho nenhuma foto so lembrancas fui aluna interna por um ano em 1974 ficarei feliz se conseguisse essa foto obg.Marilene de Mello Pontes

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