História da Praça D. Pedro II

Praça D. Pedro II em 1950

Considerado um dos primeiros núcleos urbanos da cidade de Maceió, a Praça D. Pedro II tem no seu entorno edificações importantes, além de ter sido palco de acontecimentos relevantes na história de Alagoas.

O palacete da Assembleia Legislativa, sobrado do Barão de Jaraguá, Delegacia do Ministério da Fazenda e Catedral Metropolitana são construções que testemunharam acontecimentos importantes. Mais recentemente, o Parque Hotel também se inseriu neste grupo.

Pintura que retrata a Capela de São Gonçalo e o primeiro núcleo urbano de Maceió

Segundo os principais historiadores, Maceió surgiu a partir de um engenho e de sua Capela, dedicada a São Gonçalo do Amarantes. Estas duas construções ficavam na área hoje dominada pela Praça D. Pedro II.

O engenho e a Capela não mais existem. Foram demolidos há muito tempo. No local ocupado pelo pequeno templo foi erguida a Igreja Matriz de Maceió.

O Liceu Provincial funcionou em um casarão que ficava à direita do casario desta foto. Esse sobrado foi a Casa da Câmara

A futura capital de Alagoas, conforme escritura pública datada de 1609, era uma sesmaria pertencente a Manoel Antônio Duro, que tinha uma casa no hoje bairro da Pajuçara.

O segundo proprietário desta sesmaria foi o capitão Apolinário Fernandes Padilha. Em seu testamento, encontrado por Moacir Santana, afirmou ter construído o engenho, por volta de 1708, no local hoje ocupado pela Assembleia Legislativa.

Plantou cana “em terras apauladas” e moeu por “duas primaveras”. O açúcar produzido foi o retame com baixo teor de sacarose. O engenho posteriormente foi desmontado e vendido.

Nos fins do século XVIII e início do seguinte, exigia-se que um povoado para ser elevado à categoria de vila deveria ter Pelourinho, Cadeia e Casa de Câmara.

Em Maceió, senhores de engenhos e agricultores ricos, que pretendiam esse reconhecimento, tomaram a iniciativa para a construção do Pelourinho e da Cadeia.

Para funcionar a Câmara, o rico proprietário José Elias Pereira cedeu seu sobrado.

Praça D. Pedro II no final da primeira década do século XX

O Pelourinho, a Cadeia e o sobrado da Câmara ficavam no Pátio da Capela de São Gonçalo, que passou a ser conhecida como Largo do Pelourinho, depois Praça da Catedral ou da Matriz e hoje Praça D. Pedro II.

O Pelourinho, de alvenaria de tijolo, foi erguido com recursos de Antônio Firmiano de Macedo Braga nos fins de 1817. Não se sabe se este símbolo da autoridade real e monumento à selvageria chegou a ser usado na punição de algum escravo.

O Largo do Pelourinho abrigou ainda o Armazém do Almoxarifado, Casa da Junta, Hospital e o Calabouço. Os dois primeiros se situavam onde hoje está a Delegacia do Ministério da Fazenda. A Câmara ficava ao lado.

Praça D. Pedro II no final da primeira década do século XX

No outro extremo do Largo do Pelourinho localizavam-se o Calabouço, a Cadeia e o Hospital, que na década de 1840 não mais existiam. Os casebres que ocupara o lugar foram demolidos para a construção do Palacete da Assembleia.

Maceió se desligou da Vila de Alagoas (Marechal Deodoro) em 5 de dezembro de 1815, já com seu núcleo urbano principal contando com os equipamentos necessários para ser a sede da Vila de Maceió. A Câmara começou a funcionar em 29 de dezembro de 1916.

A partir de 1817, com a emancipação política de Alagoas, teve inicio o processo que levaria Maceió a sediar o governo estadual.

Como houve muita disputa com a Vila de Santa Maria Madalena, antiga Vila de Alagoas, por este privilégio, a capital somente se instalou definitivamente em Maceió  em 16 de dezembro de 1839.

As edificações da Praça

Praça D. Pedro II no final da primeira década do século XX

Praça D. Pedro II em 1917 durante as comemorações do Centenário da Emancipação Política de Alagoas

A primeira grande obra no entorno no Largo do Pelourinho foi o sobrado erguido por Lourenço Cavalcanti de Albuquerque Maranhão, que viria a ser o Barão de Atalaia, na Rua 2 de Dezembro.

Este prédio ficou mais conhecido como Sobrado do Camocho — apelido do antigo proprietário, Félix da Costa Moraes — e quando da presença em Maceió da comitiva real, entre o final de dezembro de 1859 e janeiro de 1860, recebeu a imperatriz Tereza Cristina e outras senhoras em um jantar oferecido pela baronesa de Atalaia.

Fachada do Palacete do Camocho, residência do Barão de Atalaia, modificada em 1916 pelo engenheiro José Diniz Silva durante sua adaptação para receber os Correios e Telégrafos

Como havia uma antiga disputa entre o futuro Barão de Jaraguá, José Antônio de Mendonça, que hospedou D. Pedro II e a imperatriz, e o Barão de Atalaia, foi necessário realizar este evento para apaziguar as insatisfações.

Atribui-se à rivalidade entre estes senhores a escolha do local onde José Antônio de Mendonça ergueu seu palacete entre 1844 e 1849. Teria o objetivo de impedir a vista que o Barão de Atalaia teria da enseada de Jaraguá.

Se for verdadeira esta história, o palacete do Barão de Jaraguá foi a segunda edificação mais importante daquele sítio.

Esse edifício, erguido por José Antônio de Mendonça, era divido em duas residências, mas com comunicação interna. Uma para o Barão e sua esposa e a outra para os demais familiares.

Praça D. Pedro II no final da primeira década do século XX

Praça D. Pedro II no final da primeira década do século XX

Com a derrubada da Capela de São Gonçalo para a construção da Matriz, o Largo do Pelourinho ganhou a segunda e a mais importante edificação.

A pedra inicial da construção foi lançada em 1840 e sua inauguração ocorreu em 31 de dezembro de 1859, com a presença do imperador D. Pedro II e sua esposa.

Há indícios, segundo Félix de Lima Júnior em Igrejas e Capelas de Maceió, que a planta da nova igreja tenha sido elaborada em 1838 pelo arquiteto Grandjean de Montigny, um professor da Academia Brasileira de Belas Artes que fazia parte da Missão Francesa no Brasil.

A Missão Debret foi trazida ao Brasil por D. João VI para a construção da Academia Real de Belas Artes e de outros projetos.

Pelo fato de hospedar o imperador, o sobrado do Barão de Jaraguá passou ser chamado de Paço Imperial e o Largo do Pelourinho de Praça da Matriz ou da Catedral.

Administração dos Correios em 1907. Hoje Delegacia do Ministério da Fazenda

Administração dos Correios em 1907. Hoje Delegacia do Ministério da Fazenda

Outra obra do mesmo período e que também atendia ao esforço para mudar a paisagem da agora capital do Estado, foi o palacete da Assembleia Provincial e Tesouraria Provincial, cuja planta e orçamento foram solicitados em 10 de maio de 1850 ao 1º tenente engenheiro José Carlos de Carvalho, inspetor das obras públicas, que dias depois, em 3 de junho, deixou voltou à corte no Rio de Janeiro. Foi substituído imediatamente pelo engenheiro civil Pedro José de Azevedo Schranback.

A Assembleia Provincial autorizou a obra aprovando a Lei nº 130, de 6 de julho de 1850, mas somente em 14 de março de 1851 foi lançada a pedra fundamental pelo então presidente da Província das Alagoas, José Bento da Cunha Figueiredo. A data comemorava o aniversário da imperatriz Teresa Maria Cristina.

Assembleia Legislativa em 1906

A partir de 1853, mesmo com a obra inconclusa, os deputados provinciais passaram a utilizar o palacete. As últimas etapas da construção foram realizadas em 1854 e nesse mesmo ano, após chuvas fortes, o paredão de fundo já apresentava rachaduras. Custou 98.265$370 réis.

A Praça da Matriz também recebeu projeto paisagístico do mesmo engenheiro, que, para protegê-la da entrada de animais, recomendou que a área fosse cercada por gradil de ferro.

Esse primeiro jardim público de Maceió tinha horário de visitação: das 15h até às 18h. No domingo, dia de missa, o horário era das 6h às 18h.

Como resultado dessa preocupação com a boa imagem da cidade, uma Lei de 31 de março de 1857 autorizava as Câmaras a plantarem árvores frondosas nas praças e estradas.

Os dois quiosques sextavados construídos na Praça D. Pedro II para receberem a 1ª Feira de Alagoas, no final da década de 1910.

Os dois quiosques sextavados construídos na Praça D. Pedro II para receberem a 1ª Feira de Alagoas em 1917.

A Praça ganhou também um monumento em homenagem a D. Pedro II. Foi anunciado ainda no governo de José Bento da Cunha, em 1850.

Os recursos para esta construção foram doados por Manoel Pinto de Souza Dantas e a pedra fundamental foi colocada somente no dia 2 de dezembro de 1861.

Foi inaugurado dias depois, em 31 de dezembro, ainda sem a estrutura em mármore branco fabricada em Lisboa e encomendada pelo Barão de Jaraguá. Somente foi instalada 11 anos depois.

Esta obra definiu o nome atual da Praça.

É considerado por alguns historiadores como o monumento mais antigo do país que homenageia pessoas ilustres.estátua equestre de D. Pedro I, na Praça Tiradentes no Rio de Janeiro, somente foi inaugurada em 1862.

No final da década de 1910, o declive da ladeira em frente à Catedral começava mais adiante e as escadarias ficavam projetadas sobre a rua.

No final da década de 1910, o declive da ladeira em frente à Catedral começava mais adiante e as escadarias da igreja  ficavam projetadas sobre a rua.

Em 1870, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior voltou a governar Alagoas pela última vez e construiu mais um equipamento na Praça D. Pedro II.

Para melhorar a distribuição de água na cidade foram instalados dois chafarizes: um na Praça Nossa Senhora da Mãe do Povo, em Jaraguá, e outro na Praça D. Pedro II. Eram de ferro e tinham o desenho de uma silhueta feminina. Um detalhe: a água era vendida a 10 réis o balde.

Outra construção importante na Praça D. Pedro II teve início em 2 de dezembro de 1872, quando o Prédio Nacional, que abrigava o Liceu de Maceió desde 1849, foi derrubado para a construção da sede do Tesouro Nacional. Esse prédio, que pertenceu à baronesa de Atalaia, e mais dois imóveis foram desapropriados em 1875. Era o mesmo espaço que tinham sido ocupado anteriormente pelas casas do Armazém do Almoxarifado e a Casa da Junta.

Sua construção ficou ao encargo do engenheiro Carlos de Mornay e tinha originalmente um pavimento. Somente em meados do século XX foi que o prédio sofreu reforma e ganhou o pavimento superior.

Foi inaugurado em 1878 e em 1884 foi incorporado ao patrimônio do Império. Recebeu a Administração dos Correios (1892) e a Caixa Econômica (1893).

Atualmente, neste edifício, funciona a Delegacia do Ministério da Fazenda, na esquina da Rua do Sol.

Assembléia Legislativa na década de 1940

Assembleia Legislativa na década de 1940

No início do século XX, o sobrado dos herdeiros do Barão de Jaraguá foi ocupado pela Perseverança e Auxílio dos Empregados no Comércio, órgão que promovia atividades educativas e culturais. Durante muito tempo, as conferências da Perseverança eram uma das poucas atividades culturais da cidade.

A parte dos fundos deste sobrado, com acesso pela Praça dos Palmares, era conhecido como Palácio Velho e foi demolido em 1940.

Praça D. Pedro II nos anos 50.

Praça D. Pedro II nos anos 50.

Outra edificação importante do local foi o prédio construído pelo coronel Antônio Maurício da Rocha, um comerciante de tecidos, proprietário da Casa Louvre e de vários imóveis espalhados pela cidade. Seu filho mais conhecido foi o pintor Maurício Virgílio.

O coronel Antônio Maurício da Rocha negociava em Lagoa da Canoa até 1897, quando decidiu investir em Maceió. Chegou ser deputado provincial.

Quando o prédio ainda estava em construção, em 1921, o engenheiro chefe da Secção Técnica da Intendência Municipal avaliou que poderia desabar por falhas no seu projeto. Mesmo assim foi erguido e anos depois era a sede da firma Jota Castro & Cia. Ltda.

Prédio construído pelo coronel Antônio Maurício da Rocha. Foi sede da firma Jota Castro & Cia Ltda

Foi demolido no final dos anos 50 e no início da década seguinte seu terreno e o do imóvel da esquina, onde funcionou a Agência da Panair, receberam o Banco de Londres.

Nesse período, os trabalhadores do entorno da Praça D. Pedro II se alimentavam com café, bolo, grudes, beijus, tapiocas e pães torrados na casa da preta Margarida, na Ladeira da Catedral, ou ainda na Rua do Comércio, no caldo de cana de Francisco Assunção, a 100 réis o copo, como lembra Felix Lima Júnior em Maceió de Outrora.

Praça D. Pedro II anos 60.Foto de Waldemar Neto

Praça D. Pedro II anos 60.Foto de Waldemar Neto

Quando se instalou a primeira linha de bonde, de tração animal, ainda no século XIX, o ramal em direção à Praça dos Martírios, passava pela Rua do Comércio, bem próximo da Praça D. Pedro II.

Como a Praça D. Pedro II foi escolhida para sediar as comemoração do centenário da emancipação política de Alagoas, em setembro de 1917, foram construídos  no local diversos pavilhões onde seriam expostos os produtos agrícolas e industriais e obras de arte.

Estes quiosques, após as exposições do Centenário, foram aproveitados como salas de aula para o então Jardim Infantil.

Em 1923, com a política de alinhamentos de ruas e praças adotada pelo prefeito Ernani Teixeira Bastos, a ladeira em frente à Catedral foi rebaixada, modificando a escadaria da Catedral, afastando-a mais um pouco da Praça.

Outra intervenção importante em meados do século XX foi o surgimento de vias entrecortando a Praça D. Pedro II e separando-a do palacete da Assembleia. Até uma bomba de combustíveis foi colocada na calçada para servir aos veículos da Assembleia.

Praça D. Pedro II nos anos 60, com o Parque Hotel.Foto de Waldemar Neto

Praça D. Pedro II nos anos 60, com o Parque Hotel. Foto de Waldemar Neto

Em 1957 foi construída a última grande obra arquitetônica na Praça D. Pedro II, o Parque Hotel, um projeto da arquiteta Zélia Maia Nobre. É um marco na cidade e a única edificação notável com arquitetura moderna naquele espaço.

Atualmente, a Praça foi reduzida e separada do Palacete da Assembleia por grades. A sua área próxima à Catedral foi transformada em estacionamento do poder legislativo.

Quase sempre sujo e maltratado, o velho Largo do Pelourinho parece não ter o valor histórico que tem, mesmo recebendo o olhar centenário e imponente do velho imperador.

Fontes:
– A história da paisagem da Praça D. Pedro II em Maceió-AL, dissertação de mestrado de Tharcila Maria Soares Leão, 2010. Disponível em http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/handle/123456789/2905.
– A história do meu bairro, fascículo História do Centro de Maceió, do CEFET Maceió em 2002.
– Fallas, Relatórios Provinciaes e Mensagens Governamentais de Alagoas, Volume I. Pesquisa de Luiz Nogueira de Barros
– Fotos do Arquivo do MISA.

Assembleia Legislativa de Alagoas reunida em 1916

Assembleia Legislativa de Alagoas reunida em 1916

 

6 Comments on História da Praça D. Pedro II

  1. Alexandre Márcio Toledo // 2 de janeiro de 2018 em 17:28 //

    Esclarecedora: de Largo do Pelourinho, passando por Praça da Matriz, até Praça D. Pedro II.

  2. JoséCarlosCavalcanti // 15 de junho de 2020 em 04:43 //

    Parabéns Ticianeli. A história de Maceió está contada com riqueza de detalhes. A existência do Pelourinho foi apagada. Na Bahia ainda conservam.

  3. N8lto Cesar Almeida // 2 de janeiro de 2021 em 22:54 //

    Sou pernambucano do Recife. Em Maceió desde 1975. Soube que Maceió foi fundado a patir de um engenho na praça D. Pedro ll, chamado engenho Masssyó. Daí começou a vila de Maceió. Tem fundamento?

  4. Paulo de Oliveira e Silva // 2 de janeiro de 2021 em 23:57 //

    É gratificante rever essas fotografias históricas, principalmente para mim, que vivenciei grande parte desta história.

  5. Vinícius Naia Nobre // 3 de janeiro de 2021 em 12:01 //

    Ticianelii
    Vou lhe enviar gravura do Palacete do Chamorro que é ao meu ver a construção mais bonita da Praça !

  6. Eu sou apaixonado por história eu fico encantado com tudo isso.

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