CEAL, a histórica Companhia de Eletricidade de Alagoas

Posteação da rede elétrica na Rua do Comércio no início do século XX

Maceió foi uma das primeiras cidades brasileiras a receber energia elétrica. Os serviços foram iniciados em 14 de janeiro de 1896. A responsabilidade do fornecimento de energia era da Empresa Luz Elétrica de Alagoas, que utilizava um motor a vapor com três caldeiras de 75 cavalos cada.

Sede de uma empresa elétrica em Traipu, com unidade geradora à diesel

Em 1913, quem assumiu o controle da energia elétrica na capital foi a Nova Empresa de Luz Elétrica (NELE), de propriedade do Comendador Teixeira Basto. Posteriormente passou a se chamar Companhia Força e Luz de Maceió.

Houve nova mudança de nome em 1931. Quem assumiu o serviço foi a Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil, subsidiária do truste internacional Electric Bond and Share Company of New York (Ebasco), uma holding de concessionárias de energia elétrica dos Estados Unidos organizada pela General Electric. Suas empresas no estrangeiro estavam agrupadas também em uma holding, a American & Foreign Power Company (A&FP ou Anforp)

Sede da Empresa Luz Elétrica Alagoas

Sede da Empresa Luz Elétrica Alagoas

Em 1959, sob o governo de Muniz Falcão, Alagoas deu os primeiros passos em suas políticas de desenvolvimento com planejamento.

Para o setor energético surgiu o Plano de Eletrificação de Alagoas, num esforço liderado pelos engenheiros Beroaldo Maia Gomes, José Maurício Pedrosa Gondim, Lenine de Mello Motta, Pedro Humberto Marinho e o bacharel José de Medeiros Tavares.

Beroaldo Maia Gomes Rego, que veio a ser o primeiro presidente da Companhia Energética de Alagoas, carregava no currículo a sua contribuição para a criação da SUDENE. Foi um dos que ajudou a pensá-la ao lado de personalidades como Celso Furtado e Rômulo de Almeida.

Sabendo o que pretendia a Sudene, Beroaldo Maia Gomes não teve maiores dificuldades para elaborar o primeiro projeto apresentado àquela instituição por um Estado da região: o Plano de Eletrificação de Alagoas.

O plano pretendia levar a energia elétrica gerada em Paulo Afonso aos municípios alagoanos. O desafio a ser superado era o conseguir aprovar um projeto que não tinha rentabilidade suficiente para compensar os grandes investimentos, considerando que o consumo inicial de energia pelos usuários seria muito baixo.

Beroaldo Maia Gomes, idealizador e primeiro presidente da Ceal

Beroaldo Maia Gomes, idealizador e primeiro presidente da Ceal

A lógica do plano era a de quebrar o ciclo vicioso. “Se insistirmos em apreciar a conveniência dos investimentos exclusivamente sob o aspecto de uma rentabilidade direta, desprezando a rentabilidade social indireta, estaremos, por muitos anos, adiando a utilização da energia de Paulo Afonso no interior do Nordeste”, argumentava Beroaldo no Plano.

Na época da apresentação do Projeto, Alagoas tinha quatro municípios recebendo energia elétrica da Chesf: Maceió, Penedo, Delmiro Gouveia e Paulo Afonso. Os demais municípios tinham como fonte de energia pequenas usinas a diesel, que eram insuficientes e obsoletas.

Foi para viabilizar a execução deste Plano que o governo de Alagoas criou uma sociedade de economia mista, a Companhia de Eletricidade de Alagoas, vinculada ao Departamento de Águas e Energia.

Os recursos utilizados vieram do Governo Federal por meio da Chesf-Codeno (Companhia Hidroelétrica do São Francisco e Conselho de Desenvolvimento do Nordeste), CVSF (Comissão do Vale do São Francisco), DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e Ministério da Agricultura.

Do Governo Estadual participaram recursos via o DAE-CEAL (Departamento de Águas e Energia – Companhia de Eletricidade de Alagoas).

Equipe de manutenção da antiga Ceal

Equipe de manutenção da antiga Ceal

Na execução do Plano, a primeira cidade do interior a receber eletricidade de Paulo Afonso foi Viçosa, no dia 19 de novembro de 1961.

A etapa inicial foi concluída no dia 13 de maio de 1969, com a inauguração do fornecimento de energia elétrica em Porto de Pedras.

Não era somente Alagoas que criava uma empresa para ampliar o fornecimento de energia elétrica. O Governo Federal, que já vinha desde 1954 tentando constituir a Eletrobrás, conseguiu colocá-la em funcionamento a partir de 1962. Com essa medida, a Chesf passou à condição de subsidiária da holding federal, juntamente com a Central Elétrica de Furnas, criada pelo governo Juscelino Kubitschek, e duas empresas de menor porte.

A Eletrobrás recebeu a atribuição de realizar pesquisas e projetos de usinas geradoras assim como linhas de transmissão e subestações, suprindo assim a crescente demanda de energia elétrica enfrentada pelo Brasil.

Mesmo com a crescente intervenção do Estado no setor, alguns serviços de distribuição nas capitais permaneceram com seus antigos detentores, a American & Foreign Power Company (Amforp), que atuava em Recife, Salvador, Maceió e Natal. Passaram a ser subsidiárias da Eletrobrás. A histórica CFLNB, companhia da Amforp, somente passou a ser controlada pela CEAL em 1968.

Os serviços de Penedo, União dos Palmares e Arapiraca também foram absorvidos pela CEAL e, em 1971, após a incorporação das redes de distribuição de Mata Grande, Água Branca e Delmiro Gouveia, a Companhia de Eletricidade de Alagoas passou a ser a única concessionária de distribuição de energia elétrica em Alagoas.

Em 1973, outro passo importante foi dado pela empresa com a absorção da rede de subtransmissão em 69.000 volts, com todas as subestações de 69.000/13.800 volts, que eram da Chesf.

A partir do início dos anos 80, a CEAL começou a ampliar a sua área de atuação, voltando-se também para as pequenas centrais hidroelétricas, o bagaço da cana e o gás natural.

Em 1983, por força da Lei 4.450, a Companhia de Eletricidade de Alagoas passa a denominar-se Companhia Energética de Alagoas, mantendo a sigla CEAL. A mesma lei permitia que a empresa produzisse e distribuísse qualquer tipo de energia em Alagoas. Foi ainda em 1983 que a empresa criou o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, que em 1986 passou ser a Diretoria de Desenvolvimento Energético.

Engenheiro Marcello Barros esteve durante 15 anos no comando do Ceal

Engenheiro Marcello Barros participou da instalação da Ceal em 1963 e depois presidiu a empresa nos governos de Divaldo Suruagy e Geraldo Bulhões

Com a confirmação da existência de expressivas reservas de gás natural em Alagoas, principalmente no Pilar, o Conselho de Administração da empresa, em novembro de 1984, autorizou a constituição de uma subsidiária para distribuir e comercializar o gás. Somente em 1988 é que surge a CEALGÁS.

No governo de Geraldo Bulhões, foi a criada uma nova empresa de economia mista para explorar a distribuição de gás canalizado em Alagoas. A Gás de Alagoas S/A, Algás, foi criada pela Lei nº 5.408, de 14 de dezembro de 1992. A empresa começou a funcionar no dia 2 de setembro de 1993.

A CEAL permaneceu sob controle do Estado até junho de 1997, quando teve início o processo de federalização, com a compra de 50% das ações pelas Centrais Elétricas Brasileiras S.A – Eletrobras, que passou a ter o controle acionário da empresa.

Em junho de 2008, a CEAL passou a ser controlada diretamente pela Eletrobras a partir de um novo modelo de gestão para as Empresas Distribuidoras da Eletrobras. Foi adotada uma direção única.

No dia 2 de junho, o engenheiro Flávio Decat assumiu a empresa revelando que “a Ceal [tinha] um faturamento de R$ 800 milhões e [perdia] R$ 160 milhões por ano! Nenhuma empresa pode sobreviver a isso!”.

A Eletrobras holding deteve 100% das ações da concessionária alagoana em nome do Governo Federal. Em outubro de 2010, a nova marca da Eletrobras foi padronizada para todas as empresas do Sistema, inclusive a antiga Ceal, que passou a ser conhecida como Eletrobras Distribuição Alagoas.

Em março de 2015, o ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, anunciou que a Eletrobras estudava vender parte ou o total das ações das distribuidoras de Alagoas, Piauí, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima, com o objetivo de “melhorar o serviço para o usuário”.

O ministro explicou que as seis distribuidoras de energia do grupo Eletrobras têm, juntas, valor de mercado entre 1 bilhão e 1,2 bilhão de reais, mas precisam de aproximadamente 3,5 bilhões de reais em investimentos para se adequar aos níveis de qualidade exigidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A partir de 18 de março de 2019, a empresa foi adquirida pela Equatorial Energia, que assumiu cerca de 89,9% do capital social da Ceal. Pagou naquela data integralmente a remuneração devida à B3 e fez o aporte de R$ 545,7 milhões na distribuidora de energia previsto no edital.

Altamiro Silva Júnior, da EXAME, informou em 19 de dezembro de 2012, que “a Equatorial foi criada em 1999, com o objetivo de participar dos leilões das privatizações das empresas de energia elétrica. A companhia é controlada por fundos de private equity da gestora brasileira Vinci Partners, criada em 2010 por um grupo de ex-sócios do BTG Pactual liderados por Gilberto Sayão”.

Fontes: 30 anos de Ceal, de Vladimir Calheiros e Braz de Aguiar, 1991; Site da Eletrobras.

14 Comments on CEAL, a histórica Companhia de Eletricidade de Alagoas

  1. Alexandre Andrade // 7 de janeiro de 2016 em 15:21 //

    Ticianeli, parte do texto ficou fora da ordem cronológica. Os parágrafos 6, 7 e 8 aparentemente deveriam ser no início. Parabéns mais uma vez pelo site.

  2. Alexandre, fizemos as correções. Agradecemos pela ajuda.

  3. José claudio // 7 de janeiro de 2016 em 23:12 //

    Como podemos ver os homens de bem de Alagoas, puderam fazer um bom trabalho em prol do desenvolvimento do estado, parabéns. É só querer que tudo acontece.

  4. Ticianeli, a Sede da “Empresa Luz Elétrica de Alagoas”, apresentada em foto, fica em qual endereço ?

  5. Não consegui localizar, mas era em Maceió.

  6. Amauri Campos Matos // 8 de janeiro de 2016 em 11:48 //

    Parabéns Ticianeli.

  7. Valeria Hora Barros // 9 de janeiro de 2016 em 14:57 //

    Muito boa matéria Ticianeli, meu pai (Marcello Barros) gostou muito. Bem fundamentada fiel a história. Ele gostaria muito de entrar em contato com você. Se possível nos envia seu contato. Obrigada

  8. Gostei da foto do serviço de linha viva… como demonstra a foto não existiam nenhum recurso q existe hoje, e, já era praticado essa atividade.

  9. Jorge Barros // 22 de janeiro de 2016 em 23:28 //

    Excelente matéria, Ticianeli. Fiquei feliz de ver meu pai inserido na história dessa que foi uma grande empresa.

  10. Luiz Fernando Motta Nascimento. // 31 de outubro de 2017 em 08:13 //

    Ticianeli
    Parabéns pelo belo e importante artigo Histórico sobre a CEAL. Sou engenheiro eletricista aposentado da Chesf. Estou escrevendo algumas histórias sobre a Chesf. O engenheiro Lenine de Melo Mota formado na Escola de Itajubá – MG, trabalhou em Paulo Afonso no início das obras. Se não me falha a memória ele nasceu em Palmeira dos Índios. Gostaria, se possível, você me enviasse, via e-mail uma foto de Lenine.

  11. Entre 1976 a 1978 trabalhei como office-boy na Ceal pela empresa Imunilar, tinha 14 anos e conheci muita gente boa. Foi na época da presidência do sr. Napoleão Barbosa. Acredito que o endereço do prédio na foto acima era da antiga sede da Ceal na Rua José Bonifácio que era um edifício muito antigo.

  12. ARAKEN DE MELLO MOTTA // 24 de março de 2019 em 20:48 //

    Sou filho de Lenine de Mello Motta, também de formei em Itajubá, ele é de Palmeira dos índios. Íniciou os trabahos na CHESF em 1951, depois na CEAL. A Cia de Energia de Palmeira era da familia dele , foi comprada pela CEAL. ficava depois ponte, na saída pra Santana.
    Me Orgulho Muito Dele, Obrigado Ticianeli

  13. Eu sor eletrotecnico, fui o chefe de manutencao e prontidao desta linda empresa que na epoca tinha como presidente napoliao barbosa. Tempo em que me traz lindas recordacoes de felicidade e alegria.

  14. Sobre o prédio sede na Av. Fernandes Lima
    Companhia de Eletricidade de Alagoas
    Governo do Estado – Secretaria de Viação e Obras Públicas

    Obra iniciada no governo de DIVALDO SURUAGY
    Secretário de viação e obras Públicas VINICIUS MAIA NOBRE

    Diretores da CEAL
    NAPOLEÃO BARBOSA, ROMILDO LEITE SALLES, DIVANNI SURUAGY, GEOBERTO ESPÍTITO SANTO, JOSÉ CABRAL

    Obra seqüenciada no governo de GUILHERME PALMEIRA
    e concluída no governo de TEOBALDO BARBOSA

    Secretários de viação e obras públicas JOSÉ BANDEIRA E JOÃO SAMPAIO

    Diretores da CEAL
    DILTON SIMÕES, SILVINO BENTES, ABEL C. LIMA, DIVANNI SURUAGY, CORINTO CAMPELO, EUCLIDES BANDEIRA.

    Conselho de administração
    MARCELO BARROS, EGMAR OMENA, JOÃO NOGUEIRA NETO, JOSÉ MAURÍCIO BREDA, NELSON DE FRANCO.

    Conselho fiscal
    BENICIO MONTE, JOAQUIM CORREIA, AUGUSTO PEREIRA DE AZEVEDO

    PROJETO E FISCALIZAÇÕ DA OBRA
    Projeto arquitetônico: Arqtº. IVALDEVAN CALHEIROS
    Calculo estrutural: MASTORELLI M.M.ENGENHARIA
    Fiscalização: Engº MARCOS COTRIM, Engº MARIVALDO COUTINHO, Arqtª MARTA RIBEIRO

    Março de 1983

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