História da Ação Católica em Alagoas

Primeiro Congresso Eucarístico Provincial de Ação Católica em Maceió, em 1945

Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, um dos fundadores da Ação Católica no Brasil

O interesse da Igreja Católica em criar organizações de apostolado leigo foi divulgado ainda no início do século XX, mas somente foi formalizado pelo papa Pio XI em sua encíclica Ubi arcano Dei, tornada pública em 23 de dezembro de 1922.

Teve claramente o objetivo político de disputar as organizações sociais, principalmente as operárias, com os socialistas que ganhavam adeptos após a vitoriosa revolução russa de 1917. Esse princípio é revelado na sua apresentação, colocando-a como “a única força capaz de curar a chaga do materialismo onipresente e de restabelecer as consciências na harmonia e na paz”.

A proposta do papa era que se instalasse nos países núcleos de um movimento mundial denominado Ação Católica. Tinha o objetivo evangelizador e atuava como uma “extensão do braço da hierarquia eclesiástica”.

Somente em junho de 1935 foi que os estatutos da Ação Católica Brasileira, ACB, foram promulgados pelos bispos. No período anterior existiram, ainda na década de 1920, as confederações católicas do Recife e do Rio de Janeiro.

No início dos anos da década de 1930 surgiram diversas associações leigas, como os Círculos Operários, o Instituto Católico de Estudos Superiores, a Ação Universitária Católica e a Confederação Católica Brasileira de Educação.

Mesmo manifestando-se como acima e fora de qualquer organização político-partidária, a ACB recebia forte influência do seu líder maior no Brasil, dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, que expressava simpatia pelo integralismo.

A entidade era presidida nacionalmente por Alceu Amoroso Lima, que também nutria simpatias com a Ação Integralista Brasileira (AIB). Presidia ainda o Centro Dom Vital e era o secretário-geral da Liga Eleitoral Católica. A direção geral da ACB era ainda exercida por uma comissão episcopal composta de cinco membros.

Adotando o modelo italiano, a Ação Católica no Brasil foi implantada com a valorização das dioceses como núcleos básicos e relativamente autônomos dentro da organização, que era constituída de quatro grupos: Homens da Ação Católica e Liga Feminina de Ação Católica, para os maiores de 30 anos ou casados de qualquer idade, e Juventude Católica Brasileira e Juventude Feminina Católica, para os jovens de 14 a 30 anos.

A Juventude Católica, por sua vez, era formada pela Juventude Estudantil Católica (JEC), para os jovens secundaristas; a Juventude Universitária Católica (JUC), para os universitários; e a Juventude Operária Católica (JOC), para os jovens operários.

Eram aceitos somente os católicos que possuíssem “vida exemplar”, observassem a “prática dos sacramentos” e acatassem os “programas da ACB e da respectiva organização”. Segundo Ralph Della Cava, “O mundo da Ação Católica, neste período, em quase todos os países, refletia a natureza elitista, hierárquica e corporativista da Igreja”.

A ACB em Alagoas

Dom Ranulpho em fotografia de 1943 com turma de seminaristas e professores do Seminário Arquidiocesano de Maceió

Em Alagoas, a Ação Católica foi instalada no dia 27 de outubro de 1940 por iniciativa de dom Ranulpho da Silva Farias, então arcebispo de Maceió. Ele havia nomeado, no dia 7 de fevereiro de 1940, o então padre Adelmo Machado para assessor eclesiástico da Ação Católica e responsável pela sua organização.

Adelmo Cavalcanti Machado, que viria a ser arcebispo de Maceió, nasceu em Penedo e cursou Filosofia e Teologia no Seminário de Maceió. Após ser ordenado padre em 1927, foi prefeito de Estudos e professor de Português, Latim, Grego, Francês e Exegese Bíblica do próprio Seminário onde estudou.

Foi ele quem promoveu, em 1945, o Congresso Eucarístico. Realizou ainda as Semanas Ruralistas. Como parte da política de aproximação com os movimentos sociais, estimulou a criação de Sindicatos Rurais. Instalou também a Rádio Educadora Palmares, vinculada ao Movimento de Educação de Base (MEB). Nesse período surgiram os Centros Sociais, formando e treinando agentes sociais.

Em 1942, foram nomeados os assistentes eclesiais responsáveis pelas diversas áreas de atuação da Ação Católica em Alagoas. Assim, por exemplo, Homens de Ação Católica (HAC) recebiam a assistência do padre Teófanes Augusto de Barros e Padre Assunção era assistente auxiliar da Juventude Feminina Católica (JFC).

O Secretariado de Cinema foi instalado em 22 de março de 1942. No ano seguinte foi inaugurada a sede da Juventude Operária Católica (JOC) e a Escola N. S. de Fátima, no Bom Parto, em prédio cedido pela Fábrica Alexandria. Ainda em 1943 foi realizada a 1ª Semana de Ação Católica.

Em 1944, foi criada a Confederação da Associações Religiosas e aprovado os estatutos, em 2 de julho, da Confederação Católica de Maceió. A Liga Eleitoral Católica foi criada em 1945, mesmo ano em que foi realizado o Congresso Eucarístico e de Ação Católica.

Escudo do Primeiro Congresso de Ação Católica realizado em 1945

Com a eleição do monsenhor Adelmo Machado como bispo de Pesqueira, em Pernambuco, padre Hélio Lessa Souza foi nomeado, em 1948, o novo Assistente Geral da Ação Católica em Alagoas. Ainda neste ano, uma portaria do Arcebispo declarava a JOC como “Organização Fundamental da Ação Católica”.

Em 1950, o padre Castenor Pinheiro é nomeado vice-assistente da Juventude Católica e o padre Frei Tito, capuchinho, assume a assistência do Departamento de Cinema, Teatro e Imprensa. Neste mesmo ano tem início o funcionamento da seção feminina da Juventude Universitária Católica, a JUC.

Ainda em 1950, o Arcebispo assina a escritura doando um terreno ao lado da Catedral para a construção da sede da Ação Católica. Dois anos depois, a planta do prédio foi apresentada e anunciado que a igreja recebeu Cr$ 200.000,00 do Governo Federal para as obras do prédio, que somente foram concluídas em 1955.

Naquele ano, o estatuto foi reformado e os 20 departamentos separados da Ação Católica, mas o Arcebispo decide que em Maceió os departamentos continuarão sob a direção de membros da A.C.

No início do ano de 1951, o cônego Hélio Lessa Sousa exonera-se do cargo de Assistente Arquidiocesano da Ação Católica e de várias outras funções que exercia na Igreja. No dia 15 de abril, o arcebispo nomeou o monsenhor Antônio Valente para o cargo.

Em 1955, com a presença de D. Otávio Aguiar em Maceió, ocorreu uma reunião para organizar a Ação Católica Rural. Neste mesmo ano, D. Adelmo Machado foi eleito arcebispo em Maceió.

Nos anos seguintes, a AC continuou a crescer e no início dos anos 60, parte dela passou a adotar um referencial político mais à esquerda.

A orientação progressista

D. Helder Câmara, D. Adelmo Machado e o governador Lamenha Filho

No início dos anos da década de 1940, antes da morte do cardeal Leme, em 1942, a Associação Católica Brasileira já apresentava resultados muito aquém do desejado. A partir de 1943 foi se consolidando uma nova orientação política na entidade.

Adotava-se o ideário já difundido na Europa do padre belga José Cardjin, que pregava a impossibilidade de se promover a mudança de indivíduos sem mudar o meio em que viviam e trabalhavam.

Não concordando com estes princípios, Plínio Correia de Oliveira e seu grupo desligam-se da ACB. No futuro, este católico será o principal fundador e o primeiro presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP).

A ACB vai tomar novos rumos a partir de 1947, quando o padre Hélder Câmara assumiu o cargo de assistente eclesiástico da organização no Brasil. No ano seguinte, a JOC estava organizada nacionalmente, obtendo o reconhecimento oficial da hierarquia eclesiástica.

No pós-guerra, com a derrota do fascismo, a liberação da Europa e a crescente influência de pensadores católicos humanistas – como Emmanuel Mounier, Teilhard de Chardin e Jacques Maritain – além da presença no Brasil, na década de 1950, do Padre Louis Joseph Lebret (1897-1966), dominicano francês ligado ao movimento Economia e Humanismo, o pensamento social católico brasileiro sofreu grandes transformações.

Para a Ação Católica, as principais mudanças organizativas, entretanto, se dão a partir de 1950, com a adoção dos modelos francês, belga e canadense, diminuindo a importância das paróquias e dioceses e abandonando o critério de filiação por idade e sexo, incentivando a formação de grupos representativos de diferentes meios sociais.

Em pouco tempo, além da JOC, foram reconhecidas nacionalmente a Juventude Agrária Católica (JAC) e a Juventude Independente Católica (JIC), ao lado da JEC e da JUC, já organizadas em algumas dioceses mais importantes. Mesmo com essas modificações, a ACB submetia-se à Igreja.

Em 1952, com a criação da CNBB, tendo como secretário-geral dom Hélder Câmara, que continuava como assistente da ACB, foram convocados os dois primeiros encontros da hierarquia eclesiástica. Suas deliberações terminaram por fortalecer a ideia de uma ACB mais autônoma.

A polêmica sobre essa maior independência da ACB se arrastou até 1954, quando a Santa Sé enviou ao Brasil novo núncio, dom Armando Lombardi, que se pronunciou favoravelmente à autonomia relativa da entidade.

Livres para avançar em temas tabus, as diversas organizações da ACB entraram nos anos de 1960 no debate ideológico que acontecia principalmente nas universidades. Não demorou muito para que esses assuntos também estivessem nas pautas dos movimentos de cultura popular e movimento sindical, elevando as mobilizações de classe a um patamar mais elevado.

A mudança do meio onde os homens viviam passou a ser o fator mobilizador para as ações que cobravam alterações estruturais com as devidas transformações sociais. A partir de setembro de 1961, muitos estudantes da JEC e da JUC passaram a trabalhar no Movimento de Educação de Base (MEB), uma ação do governo João Goulart com o objetivo de desenvolver um programa de alfabetização e de conscientização das camadas populares.

Ainda em 1961, o mundo conheceu a primeira encíclica do papa João XXIII, intitulada Mater et magistral, onde a Igreja reconhecia suas responsabilidades perante os problemas sociais contemporâneos, causando um grande impacto nos meios eclesiásticos brasileiros.

D. Helder Câmara na Catedral de Maceió

Com o apoio da encíclica de João XXIII, a CNBB passou a defender publicamente a necessidade de se promover mudanças estruturais no Brasil e pedia a contribuição do MEB e da ACB, bem como dos sindicatos rurais para essa mobilização.

Entretanto, a maior parte da Igreja no Brasil, formada por católicos conservadores, reagiu negativamente a estas propostas. Houve o conflito e em 1962 dom Hélder perdeu o cargo de assistente nacional da ACB.

Como resposta, parte da juventude da ACB organizou a Ação Popular (AP) em 1962, levando segmentos da JUC, JEC e JOC ao afastamento da hierarquia eclesiástica, ficando livre para as tarefas de conscientização e organização das classes populares “contra a dominação do capitalismo”.

Quem substituiu dom Hélder foi o bispo dom Cândido Padim, que em pouco tempo mostrou-se favorável à militância social dentro da organização. No ano seguinte, esta atitude provocou a ruptura dos vínculos entre a ACB e a maior parte da hierarquia da Igreja.

Com a publicação, em 1963, da encíclica Pacem in terris, que estimulava mais ainda o engajamento social da Igreja, a CNBB passou a reconhecer que o subdesenvolvimento do país levava a necessidade de se promover mudanças em quase todos os setores da sociedade a partir do trabalho dos leigos e da própria Igreja.

O golpe militar de 1964 pôs fim a esta crescente politização da CNBB e iniciou a perseguição aos elementos progressistas da Igreja. Dom Padim foi afastado do cargo que ocupava à frente da organização, que passou às mãos dos setores conservadores. Da mesma forma, a CNBB foi entregue a dom Vicente Scherer da ala conservadora da Igreja. As novas orientações da ACB a levaram ao esvaziamento gradativo a partir de 1966.

Ação Popular em Alagoas

Circulistas de Maceió com padre Humberto Cavalcante em 1960 durante uma viagem ao Congresso de Natal, no Rio Grande do Norte

As alterações no ideário católico dos anos de 1960 surgiram a partir de novas teologias, com suas avaliações de que a pobreza era estrutural e somente superada com as lutas sociais e políticas, identificando nos explorados os sujeitos de sua libertação.

Entre os católicos brasileiros, três obras foram fundamentais para a formatação dessas ideias. O livro Teologia da Revolução, do teólogo belga José Comblin, de 1970; Teologia da Libertação, de Gustavo Gutiérrez, lançado em 1971; e Jesus Cristo Libertador, de Leonardo Boff, que surge em 1972. Boff, com o apoio da sua ordem, os franciscanos, foi quem mais conseguiu notoriedade entre os defensores dessa corrente.

Em Alagoas, com a organização da Ação Popular e o fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEB), o método ver-julgar-agir ganha adeptos nas organizações da própria igreja. Assim, muitos jovens vão para a periferia das cidades para olhar a realidade em que viviam (VER), julgá-la com os olhos da fé (JULGAR) e encontrar caminhos de ação impulsionados por este mesmo juízo á luz da fé (AGIR).

A Ação Popular (AP) foi criada em junho de 1962, a partir de um congresso em Belo Horizonte. Entretanto, o congresso de fundação foi realizado em 1963, em Salvador, adotando o “socialismo humanista”.

Após atravessar os anos 60 com grande influência entre os estudantes e trabalhadores, a Ação Popular evolui para Ação Popular Marxista-Leninista do Brasil, aderindo à luta armada. Pouco tempo depois, a maior parte destes militantes foi incorporada ao Partido Comunista do Brasil.

O professor Élcio Verçoza, que foi da Juventude Universitária Católica, avalia que “a realidade exigia mais da JUC. Ela não conseguiu avançar e quem era mais à esquerda foi para a Ação Popular, e quem não foi se perdeu. A Igreja não tinha como manter um movimento universitário, num ambiente confrontado, sem posição e sem musculatura. Faltava coragem para agir. Eles chamavam isso de virtude da prudência, mas na verdade eram os limites efetivos de uma igreja conservadora”.

A Igreja conservadora em Alagoas

Professor e doutor Élcio de Gusmão Verçoza

A intervenção da Ação Católica em Alagoas, mesmo tendo alguns militantes mais progressistas ou mesmo de esquerda nos anos de 1960, foi marcada pelo conservadorismo.

Ostentando entre seus títulos o bacharelado em Filosofia pelo Seminário Regional do Nordeste (1966) e uma participação destacada na Ação Católica dos anos 60, chegando a ser presidente do Diretório Acadêmico de Letras da Ufal em 1968, o professor e doutor Élcio de Gusmão Verçosa revela as razões do conservadorismo da igreja católica alagoana:

“Eu considero a nossa Diocese como muito tardia. Se você considerar que Alagoas ficou independente politicamente em 1817, e só vai ter uma Diocese em 1900, isso já deixa uma lacuna muito grande em um território enorme, porque Alagoas inteira fazia parte da Diocese de Olinda e Recife. A história mostra que de lá para cá, a gente não tem nenhum momento de uma Igreja progressista. O bispo menos conservador teria sido dom Adelmo Machado, que era uma pessoa boa e permitia alguma coisa. Depois dele tivemos dom José Lamartine Soares, que também não era muito avançado, apesar de ter sido bispo auxiliar de dom Hélder Câmara na diocese de Olinda e Recife. Ele foi alguém que segurou administrativamente a diocese enquanto Dom Helder pregava contra a ditadura pelo país e até pela Europa. A gente nunca teve um bispo, que mesmo dentro dos limites da igreja – que são grandes – permitisse, por exemplo, que as Comunidades Eclesiais de Base fossem um espaço de lutas, como aconteceu em Pernambuco”.

Élcio explica ainda que havia muitos conflitos na igreja entre a base mais progressista, que se estruturou dentro do Seminário Regional do Nordeste, em Recife, e a cúpula conservadora. “As pessoas que dão sustentação à Igreja se escandalizam com qualquer bobagem. Quando os padres tentam ser mais progressistas, são boicotados. Teve o padre Silvestre, um holandês que chegou aqui pelo Canadá. Ele era beneditino e os padres que são ligados às ordens religiosas têm uma imunidade maior. Padre Silvestre era habilidoso. Ele fazia as atividades mais avançadas, mas ele não cometia determinadas imprudências”.

Ao tomar como exemplo a atuação do Movimento de Educação de Base (MEB), Élcio avalia que “aqui em Maceió, o mais avançado era menos do que em outros lugares. A JUC aqui sempre foi muito comedida e conservadora. Por causa dessas posições havia um embate acirrado entre JUC e PCB [Partido Comunista Brasileiro]”.

“Eu lembro, quando ainda era seminarista no final dos anos 50 e início dos anos 60, que a igreja tinha um catálogo com os filmes que os católicos podiam assistir e o pessoal da JUC se guiava por ele. Se o filme era considerado como atentatório à moral, aos bons costumes, ou mesmo a alguma questão mais ortodoxa da fé, ele era “queimado”, lembra o professor aposentado da Ufal.

Élcio conclui afirmando que “a igreja sempre teve dificuldade de lidar com tudo que avança, que tenha radicalização. O discurso da igreja é o da fraternidade. Ela entende que tudo que radicaliza rompe com a fraternidade. Ela é incapaz de entender que a fraternidade já está rasgada há muito tempo. A própria iniquidade das relações sociais explorador/explorado já rompe com a possibilidade de fraternidade. A verdade é que a igreja tem medo de uma afirmação humanitária que não passe pela doutrina cristã, que não passe pelo evangelho. É uma questão de hegemonia”.

AP em Pariconha

Um dos trabalhos mais importantes da Ação Católica e do Movimento de Educação de Base em Alagoas aconteceu em Água Branca sob a liderança de José Novaes. Ainda em 1962, foram dados os primeiros passos para a organização sindical a partir da criação de uma Congregação Mariana no povoado de Pariconha.

José Correia era o presidente da Cooperativa de Pariconha em 1969

José Correia, um veterano militante de AP, relata que foi o próprio padre que estimulou a formação do sindicato, ainda em 1962. “Um belo dia, o padre chegou e disse: a vontade de vocês é criar o sindicato? O Julião está criando sindicato aí, a zona da mata de Alagoas; é um comunista. É bom que a gente crie antes que ele crie”.

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Água Branca se fortaleceu rapidamente ao enfrentar o poder político e econômico dominante no município, criando condições para a formação da Cooperativa, outra conquista importante dos pequenos produtores rurais da Região.

Em 1968, o núcleo de Pariconha já estava sob a direção da AP, que tinha adotado o chamado Esquema dos Seis Pontos, abraçando algumas experiências da Revolução Cultural chinesa, entre elas a política de Integração na produção, levando a maioria dos militantes a trabalhar em fábricas ou no campo.

Aldo Arantes, um dos dirigentes nacionais da AP, veio para Pariconha em Alagoas onde dirigiria a Escola de Formação Político-Militar de Quadros Camponeses. Com o codinome de Roberto Ferreira, trouxe sua companheira e também militante, Maria Auxiliadora da Cunha Arantes, a Dodora, e seus dois filhos, André e Priscila.

Em Pariconha já se encontrava outro dirigente da AP, Gilberto Franco Teixeira, o Juarez Johaudes Echeveria, também acompanhado pela esposa Rosemary Reis Teixeira, a Rosa Maria dos Santos e sua filha Rita. Eles chegaram ainda em 1967. Juarez legalmente era o contador da Cooperativa.

Enquanto Aldo Arantes e Gilberto Franco cuidavam da Escola de Quadros e dos treinamentos militares, mesmo que rudimentares, Dodora e Rosa davam aula de alfabetização pelo método Paulo Freire. O trabalho político tinha a participação das lideranças locais, que além de Zé Novaes contava com os irmãos Correia: Zé, Josué e Jayme.

No final de 1968, após um incidente com o governador Lamenha Filho, que participou de um comício em Pariconha, o grupo foi descoberto e praticamente todos foram presos. Aldo Arantes e Gilberto Franco foram protagonistas de uma fuga espetacular da delegacia do DOPSE, na Rua Cincinato Pinto.

Em Alagoas, foram estas as últimas ações políticas resultantes das organizações da igreja instituídas originalmente pela Ação Católica.

4 Comments on História da Ação Católica em Alagoas

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 18 de fevereiro de 2018 em 18:29 //

    Prezado Ticianelli,
    imensamente grato por tuas matérias acerca de nossa Alagoas, com meus parabens.
    Nasci em Fernão Velho, conforme já informei anteriormente, em 11 de dezembro de 1942, e o padre que dirigia a Igreja de S, José era denominado de Pe. Cabral. Se, porventura, tiveres alguma informação acerca dele, com alguma imagem, por gentileza me remeta. Em Fernão Velho, estudei no Grupo Escolar S. José, hoje inexistente.
    Aproveito para comentar que migrei para o Rio de Janeiro aos 14 anos incompletos, mandado buscar por um tio, irmão de minha mãe, e há quase 30 anos resido no interior do Estado do Rio de Janeiro, em Casimiro de Abreu.
    Agradeço a atenção.
    Abraços fraternais,
    Claudio Ribeiro

  2. Caro Cláudio, estou pesquisando a vida do padre Cabral e assim que conseguir material suficiente, vou publicar.

  3. Álvaro Queiroz // 22 de fevereiro de 2020 em 14:17 //

    Excelente texto. Fruto de uma pesquisa de fôlego. Você está de parabéns, Ticianeli! Avante com novas pesquisas arrojadas e acuradas como esta sobre a história das Alagoas. Receba meu abraço fraterno.
    Álvaro Queiroz

  4. Teresa Cristina Teixeir Maia // 30 de outubro de 2020 em 15:10 //

    Faço minhas as palavras de Prof. Alvaro Queiroz!!!
    As futuras gerações certamente agradecerão com o advento de futuros compêndios!

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