Forte de São João e as baterias reais de Maceió

Atual prédio da 20ª CSM já abrigou um forte e a enfermaria militar da capital

Antiga Enfermaria Militar em 1920; antes foi o Forte de São João

Foi a presença de piratas, corsários e contrabandistas na costa brasileira que levou a coroa portuguesa, no final do século XVII, a elaborar um plano de defesa para suas posses além-mar. As áreas portuárias deste litoral passaram, então, a receber maior fiscalização e proteção militar para sua defesa.

No ainda povoado de Maceió, a primeira fortificação construída para este fim ficava na Ponta de Jaraguá. Sua localização mais exata não pôde ter sido identificada, mas em 1911, quando eram realizadas escavações para o calçamento da Estrada Nova, atual Av. Comendador Leão, foram descobertas duas peças de artilharia das antigas fortalezas de Maceió.

Estavam enterradas no trecho entre a Rua Barão de Jaraguá e a Rua Sá e Albuquerque, antigo Beco do Estrela.

Não se pode afirmar que estavam lá por ser o local da fortaleza, por mais que seja o provável. Há de se considerar a possibilidade de terem sido levadas para este local para serem inutilizadas.

Desenho com base na planta de José da Silva Pinto, de 1820, mostra o Forte de São João

No tempo do Póvoas

Quem ficou encarregado pela corte portuguesa de fortificar Jaraguá e povoá-lo com açorianos foi o governador da Capitania de Pernambuco, capitão general Affonso Furtado de Mendonça, o Visconde de Barbacena.

Destas tarefas do governador se tem somente a informação de que cumpriu a de estabelecer uma fortificação guarnecida na área indicada e que lá não ficou por muito tempo.

A Ponta de Jaraguá voltou a ser ocupada novamente por uma estrutura militar somente após a emancipação de Alagoas, com a chegada do tenente-coronel Sebastião Francisco de Melo Povoas, governador da nova Capitania.

20ª CSM, antigo Forte São João, nos anos 60

20ª CSM, antigo Forte São João, nos anos 60. À sua frente a área denominada como Praça General Severiano da Fonseca, antiga Praça da Agulha, mecanismo utilizado para redirecionar os bondes.

Ao desembarcar em Jaraguá no dia 27 de dezembro de 1818, o governante renovou as preocupações militares com o porto natural e ordenou a construção do sistema defensivo da vila.

Assim foram instaladas, em 1820, as baterias reais de São Pedro e de São João. A primeira na Ponta de Jaraguá e a segunda na Boca de Maceió, local onde atualmente funciona a 20ª Circunscrição do Serviço Militar do Exército Brasileiro e o Museu da II Guerra Mundial.

Enfermaria Militar, hoje é a CSM do Exército

Há registros ainda de que mais duas baterias foram erguidas no litoral de Maceió em 1822, durante a chamada Guerra da Independência. Félix Lima Júnior relata que as construções foram ordenadas pelo coronel Oliveira Belo.

A Bateria da Imperatriz ficava onde hoje está a Rua Sá e Albuquerque, em Jaraguá. A outra foi levantada na Ponta Verde e ficou famosa por ter recebido 50 índios de Viçosa, todos armados e dispostos a guerrear pela independência do Brasil.

Em setembro de 1894, o jornal Gutemberg publicou edital “das autoridades federais” para tomada de preços com o objetivo de contratar serviços para a “construção de dois fortes, sendo um no porto de Jaraguá e outro entre o novo quartel de linha [na atual Praça da Faculdade] e o lugar denominado Três Coqueiros”.

Forte de São João

Capela da Enfermaria Militar concluída em 8 de dezembro de 1876

Capela da antiga Enfermaria Militar, atual 20ª Circunscrição do Serviço Militar. Foi concluída em 8 de dezembro de 1876

Erguido em homenagem a D. João (1816-1826), o Forte de São João tinha sua bateria posicionada para cruzar fogo com o Forte de São Pedro. No início, a construção era apenas de terra elevada, com quatro canhões de 24mm instalados em espaldões sem cobertas.

Sem maiores utilidades, as duas estruturas militares não receberam o tratamento adequado e logo foram sendo abandonadas. O Forte de São Pedro, na Ponta Verde, sobreviveu até 1847, quando foi demolido.

O Forte de São João também não suportou o desprezo e em 1832 já estava arruinado, sem parapeitos, esplanadas e plataformas. Só lhe restava um calabouço, uma casa de guarda, um paiol de pólvoras e dois grandes salões.

Enfermaria Militar

O prédio do Forte de São João ficou abandonado até 1844, quando foi reformado para receber a Enfermaria Militar. Pelos registros, as instalações eram precárias e inadequadas. Para se ter uma ideia, o prédio também foi ocupado pelo depósito de artigos bélicos até 1875, quando foi construído equipamento próprio para esse fim.

São raros os registros das atividades da Enfermaria Militar nesse período, mas sabe-se que em setembro de 1875 quem chegou por lá, designado o presidente da província, foi o padre Antônio José da Costa. Além das obrigações, recomendou-se a ele que administrasse, “com a necessária prontidão os sacramentos e outros socorros espirituais às praças em tratamento na Enfermaria Militar”.

O prédio hoje está ocupado pela 20ª CSM e o Museu da Segunda Guerra

O prédio hoje está ocupado pela 20ª CSM e o Museu da Segunda Guerra

A proteção divina era mais que necessária, considerando principalmente o estado precário da construção. Parte dela desabou em 1876. No ano seguinte a Enfermaria Militar foi reconstruída e o prédio recebeu a configuração que permanece até nossos dias. A capela foi concluída em 8 de dezembro daquele mesmo ano.

Para a Maceió do final do século XIX, a Enfermaria Militar estava situada em uma área com sérios problemas. Ficava muito próxima ao antigo curso do Riacho Maceió (atual Salgadinho) e cercada por alagadiços, como denunciou o leitor “Pai de família” no jornal O Gutemberg de 20 de junho de 1886.

Riacho Maceió e a Enfermaria Militar

Preocupado com as “exalações miasmáticas e deletérias” que existiam nas proximidades da antiga Ponte do Leão sobre o Riacho Maceió (atualmente seria o final da Rua Barão de Anadia), o “Pai de Família” assim descreveu o problema: “Mesmo em frente da enfermaria militar e quartel da companhia de infantaria, um imundo esterquilínio empestando a localidade, contribuindo ainda mais para a insalubridade pública“.

Em sua denúncia, uma informação importante: o prédio também funcionava como Quartel da Companhia de Infantaria. Outros jornais da época confirmaram essa utilização.

No O Orbe de 23 de outubro de 1887, um colaborador opina sobre os estudos solicitados pelo ministro da Guerra sobre a viabilidade econômica de se manter a Enfermaria Militar. A intenção era transferir os militares enfermos para o Hospital de Caridade, a Santa Casa, onde o custo seria inferior.

“Existe aqui uma excelente enfermaria militar, próprio nacional [prédio da União] com linda capela no centro, tendo há pouco a dita enfermaria sofrido grandes reparos e reforma de mobília e outras modificações, prestando-se cômoda e decentemente ao tratamento dos oficiais e praças desta guarnição”, descreveu o anônimo colaborador.

Salgadinho no antigo curso com a Enfermaria Militar do 33º Batalhão de Caçadores, atual CSM

Salgadinho no antigo curso, com a Enfermaria Militar do 33º Batalhão de Caçadores ao fundo, atual CSM

Três anos após a reconstrução do prédio, em 1879, seus alicerces estavam sendo abalados em função das alterações do leito do Riacho Maceió, que estava se aproximando do prédio. Algumas obras foram realizadas para protegê-la.

Em outubro de 1911 a Enfermaria ainda funcionava e era referência para os anúncios dos bondes para o Trapiche, que partiam de um ponto em frente, na Praça da Agulha.

Não se tem a data exata de quando a Enfermaria Militar deixou de funcionar no local, mas em fevereiro de 1917, a comissão encarregada dos festejos do centenário da emancipação de Alagoas anunciou que haveria uma exposição de produtos agrícolas e industriais no prédio “onde funcionava a enfermaria militar”. (Jornal A Pyrausta de 14 de fevereiro de 1917).

Anos depois o prédio recebeu o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva – NPOR, criado em outubro de 1942 e que ocupou inicialmente o casarão da esquina da Praça Sinimbu com a Rua do Imperador, onde posteriormente funcionou o Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas.

Nos anos da década de 1970, a 20ª Circunscrição do Serviço Militar também se instalou na antiga Enfermaria Militar e com a saída do NPOR, passou a dividir o lugar com o Museu da 2ª Guerra Mundial desde 14 de março de 1996.

6 Comments on Forte de São João e as baterias reais de Maceió

  1. Carla Betania de Mesquita Lima // 20 de março de 2021 em 09:25 //

    Muito interessante
    Está aberto para visitas? Quais os horários?

  2. Masalena Vieiea Akvws // 20 de março de 2021 em 14:20 //

    Muito bom saber essas historias

  3. Fernando Dacal Reis // 20 de março de 2021 em 23:23 //

    Parabéns ao historiadealagoas.com.br por trazer a sociedade a história de Alagoas.

  4. Não Oliveira // 21 de março de 2021 em 11:25 //

    Acompanhei meu irmão Dr. DJALMA OLIVEIRA quado ele ia jogar futebol de salão com a turma do Vergel do Lago na quadra em frente à 20°CSM e durante o curso de juiz de futebol da FAF.

  5. Maravilha !!
    👏👏👏👏👏👏👏👏

  6. Fui fazer a alistamento no quartel maior de Maceió, na Avenida Fernandes Lima, em frenta a consecionária Importadora. Mas conheci essa capela se longe, quando fui fazee uma entrega de bolo.
    Att, David

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*