Festival do Cinema Brasileiro de Penedo de 1975

Como todo bom festival vem acompanhado de muita polêmica, o I Festival Brasileiro do Cinema de Penedo não fugiu à regra. Entretanto, não foram os filmes que provocaram celeumas, mas sim o local do evento: a bela e histórica Penedo. Quem era contra realizá-lo à margem do Rio São Francisco argumentava que Maceió oferecia melhores condições para receber o evento.

Entrada do Cine São Francisco em Penedo durante o Festival de Cinema de 1975. Foto de Ayrton Quaresma para a revista O Cruzeiro

Do outro lado, o Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação e Cultura de Alagoas (DAC) — dirigida por Solange Lages — explicava que a opção por Penedo pretendia valorizar o acervo histórico e artístico de Alagoas.

O DAC esclareceu ainda que Penedo estava incluída no Plano de Recuperação das Cidades Históricas do Nordeste, tinha um rico acervo arquitetônico e oferecia infraestrutura para eventos como aquele. Havia uma “vocação natural para o turismo”.

O Festival teve início numa quinta-feira, dia 9 de janeiro de 1975, e se estendeu até o domingo, dia 12. A programação previa a mostra competitiva de Super-8, quase todos produzidos por alagoanos, e a mostra não competitiva dos filmes nacionais de longa-metragem.

Ricardo Cravo Albim, Manoel Diégues Júnior, Roberto Pereira e Nelson Simões. Foto de Ayrton Quaresma para a revista O Cruzeiro

Ricardo Cravo Albim, Manoel Diégues Júnior, Roberto Pereira e Nelson Simões. Foto de Ayrton Quaresma para a revista O Cruzeiro

Enquanto os filmes eram exibidos na tela do Cine São Francisco, em outros espaços diversas manifestações culturais completavam o evento, que teve como ponto culminante a procissão fluvial do Bom Jesus dos Navegantes, no domingo.

Nas ruas, as exposições de cordel dividiam os espaços com os repentistas e as apresentações do Pastoril, Reisado e Guerreiro. O teatro, os corais e as bandas completavam o ambiente festivo da cidade de Penedo naqueles dias.

Programação

Quinta-feira, 9 de janeiro

9h30 – “A Volta pela Estrada da Violência“, no Cine Penedo, com debate.
15h – Retrospectiva do Cinema Novo, no Cine Penedo.
17h – Folguedos Populares na Praça Floriano Peixoto.
19h – “Os Condenados“, de Zelito Viana, no Cine São Francisco, com debate.
20h30 – Show do Compositor Jovem Alagoano (Direção de Élcio Verçoza), na Praça Barão de Penedo.
22h30 – Show “Ame e Seja Gente” (MEC), com Sebastião Tapajós e Heloísa Raso.

Sexta-feira, 10 de janeiro

9h30 – Super 8 no Cine Penedo
15h – Retrospectiva do Cinema Novo, no Cine Penedo.
17h – “O Lobo e as Estrelas” (Associação Teatral de Alagoas), direção de José Márcio Vieira Passos, no Cine Penedo.
17h – Folguedos Populares na Praça Floriano Peixoto.
19h – “A Estrela Sobe“, de Bruno Barreto, no Cine São Francisco, com debate.
19h30 – Pastoril na Praça Barão de Penedo.
22h – “Tributo a Cecília Meirelles“, show musical com Leureny, Many Torres e Neilda Cavalcante, no Cine São Francisco.

Sábado, 11 de janeiro

9h30 – Concurso em Super 8 de Alagoas, no Cine Penedo.
11h – Lançamento do Trabalho “Subsídios da História da Cinematografia em Alagoas“, de José Maria Tenório, no Cine Penedo.
13h – Retrospectiva do Cinema Novo, no Cine Penedo.
15h – Homenagem ao professor Manoel Diegues Júnior. Recital de Flauta e Piano com Eugênio Martins e Marli Muniz (MEC), no Convento N. S. dos Anjos. Pastoril Universitário, também no Convento N. S. dos Anjos.
17h – Coletiva de Autógrafos de Autores Alagoanos, no Convento N. S. dos Anjos.
19h – “São Bernardo“, de Leon Hirszman, no Cine São Francisco, com debate.
19h30 – Danças Folclóricas das Alagoas sob a direção do prof. Pedro Teixeira, na Praça Barão de Penedo.
22h – Aula/Show “Do Chorinho ao Samba” (MEC). História da Música Popular Brasileira, com direção de Ricardo Cravo Albin, com Paulo Tapajós e Altamiro Carrilho.

Domingo, 12 de janeiro

9h30 – Super 8, no Cine Penedo.
10h – Teatro Infantil “A Revolta dos Brinquedos“, direção de Bráulio Leite Junior, no Convento São Francisco.
14h – Retrospectiva do Cinema Novo, no Cine Penedo.
16h – Procissão de Bom Jesus dos Navegantes.
19h30 – “Joana a Francesa“, no Cine São Francisco, com debate.
22h – Recital de Canto com Dalka Azevedo (soprano) e Bruno Monty (tenor), no Convento N. S. dos Anjos.

Durante o Festival foram montadas várias exposições em Penedo:

Revelação Ótica do Barroco Mineiro, no Convento N. S. dos Anjos; Coletiva de Pintores Sergipanos, na Praça Barão de Penedo; Coletiva de Pintores Alagoanos, no Convento N. S. dos Anjos; Penedo Antiga, na Praça Rui Barbosa; Monumentos Históricos e Artísticos de Alagoas (desenhos de Pierre Chalita), na Praça Barão de Penedo; Fotografias de Alagoas, na Praça Barão de Penedo; e Esculturas de Deodato, na Praça Barão de Penedo.

Seis produções alagoanas em Super-8 tomaram parte da mostra competitiva: Crise, de Joaquim Alves; Encontro com Pierre Chalita, de Júlio Simon; Palmeira em Foco, de Edson Silva; Festa de Bravos – Vaquejada, de Denício Calixto; A Maldição de Klemenn, de Mário Jorge Feijó e Reflexos, de Celso Brandão.

Os vencedores foram: Crise, Reflexos e A Maldição de Klemenn. Segundo Elinaldo Barros, o único participante que tinha experiência com o cinema era Júlio Simon, que tinha produzido em 1967 o filme Rosa Pereira da Silva.

O júri do Festival era composto por Roberto Farias, presidente da Embrafilme; Carlos Fonseca, do INC; Silvio Back, do Paraná; Guido Araújo, da Bahia; Celso Marconi e Fernando Spencer, de Pernambuco; Abrahão Berman, de São Paulo; Bruno Barreto, da Guanabara; Imanoel Caldas, de Alagoas; Lucila Avelar, do MEC; Raul de Smandeck, do Itamarati e o jornalista Luís Alípio de Barros.

Dalka Azevedo, Eugênio Martins, Marli Muniz e Bruno Monte. Foto de Ayrton Quaresma para a revista O Cruzeiro

Dalka Azevedo, Eugênio Martins, Marli Muniz e Bruno Monte. Foto de Ayrton Quaresma para a revista O Cruzeiro

A programação distribuiu os filmes de forma que pela manhã eram exibidos os Super-8, à tarde havia uma retrospectiva do Cinema Novo, sempre acompanhada de debates, e à noite eram mostrados os filmes de longa-metragem. Foram exibidos Os Condenados, de Zelito Viana; A Estrela Sobe, de Bruno Barreto e São Bernardo, de Leon Hirszman.

O alagoano A Volta pela Estrada da Violência foi o filme de abertura dos longas. No encerramento foi apresentado Joana a Francesa, de Cacá Diegues, filmado em Alagoas.

A exposição Monumentos Históricos de Alagoas, de Pierre Chalita, também foi destaque ao apresentar 29 desenhos a bico de pena e aguada.

O show de abertura do Festival foi Ame e Seja Gente, com o violinista Sebastião Tapajós e Heloísa Raso. Outro show muito aplaudido foi o da alagoana Leureny, que roubou a cena no “Tributo a Cecília Meireles“.

Além de uma homenagem ao professor Manoel Diégues Júnior, Penedo ainda assistiu às apresentações de Eugênio Martins e Marli Muniz, com um recital de flauta e piano; “Do Chorinho ao Samba“, com Paulo Tapajós e Altamiro Carrilho, direção de Ricardo Cravo Albim, e um recital com os cantores líricos Dalka Azevedo e Bruno Monte, que aconteceu na capela do Convento Nossa Senhora dos Anjos.

Fachada do Cine Penedo durante o IV Festival do Cinema Brasileiro em 1978

Ainda ocorreram mais sete edições do Festival Brasileiro de Cinema na cidade de Penedo. Em dezembro de 1982, quando se preparava a 9ª edição, uma reunião da Comissão Executiva do Festival decidiu pela não realização Festival em janeiro de 1983.

Uma nota pública da Comissão, divulgada pela EMATUR, explicou que faltava infraestrutura na cidade para receber um evento que crescia a cada edição. Além disso, a realização de outros festivais na mesma época e a distância de Penedo a Maceió foram fatores considerados para o fim do Festival de Cinema de Penedo.

Fontes: Panorama do Cinema Alagoano, de Elinaldo Barros; Os Festivais de Cinema de Penedo (1975-1982): impactos para o turismo local, de Sérgio Onofre Seixas de Araújo e Ándelli D’mara Santos da Graça; e Revista O Cruzeiro de 29 de janeiro de 1975.

1 Comentário on Festival do Cinema Brasileiro de Penedo de 1975

  1. Uma política safada tirou o festival de Penedo.

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