Famílias na política alagoana do século XX (6): Mendes

Coreto da Praça da Independência em Palmeira dos Índios, terra dos Mendes

Muniz Falcão, sua esposa Alba Mendes ao lado do seu pai, deputado Humberto Mendes, e de sua mãe Eurídice Mendes. O vice-governador Sizenando Nabuco e esposa completam a foto. Acervo de Marta Margareth Mendes

Recém-eleito deputado em 1950, Louruval de Mello Motta, uma das maiores lideranças políticas de sua terra natal, Palmeira dos Índios, surpreendeu a todos ao apresentar sua renúncia ao mandato na sessão de 21 de dezembro de 1950, 41 dias antes da posse de Arnon de Mello no governo.

No pronunciamento realizado no plenário da Assembleia Legislativa em 21 de dezembro de 1950, historiou sobre sua luta contra os desmandos de Silvestre Péricles e comemorou a vitória da oposição liderada por Arnon de Melo, para em seguida afirmar que assim podia “ensarilhar as armas e dedicar-me aos deveres de minha profissão”.

O que levou o deputado vitorioso a desistir do mandato nunca foi completamente esclarecido.

Humberto Mendes

Independente do motivo, foi a desistência de Lourival de Mello Motta da atividade política que permitiu a ascensão de Humberto Correia Mendes como novo líder político de Palmeira dos Índios.

Até a sua eleição para a Assembleia Legislativa Estadual em 1954, Humberto Mendes era um próspero comerciante que tinha participado das eleições de 1950 apoiando Arnon de Mello, da UDN.

Natural de Palmeira dos Índios, seus pais foram Antero Mendes Guedes e Amélia Correia Paes.

Seu pai era filho de Antônio Tomé Mendes e Maria Leopoldina Guedes.

Uma das irmãs de Humberto Mendes foi Noêmia Paes Mendes, que após o casamento com Antônio Vieira de Barros passou a se chamar Noêmia Mendes de Barros. Foi embora de Alagoas por questões políticas envolvendo seu marido.

Antônio Vieira e Noêmia Mendes eram os pais de Luiz Gonzaga Mendes de Barros.

Os outros irmãos de Humberto são: Demerval Correia Mendes, casado com Adélia Farias; José Correia Mendes, casado com Emídia; João Correia Mendes; Jaime Correia Mendes, Alaíde Paes Mendes, casada com Antônio e Luíza Paes Mendes.

Logo após conquistar o mandato de deputado estadual pelo PTN, em 1954, para a legislatura 1955-58, Humberto Mendes se posicionou politicamente contra Muniz Falcão, que governou Alagoas de 31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961, sendo afastado em 1957 por alguns meses, após o impeachment.

Entretanto, um fato externo à política alterou a relação entre os Mendes e o governador. Logo após a posse, Muniz Falcão iniciou o namoro com Alba Mendes, então funcionária do Palácio do Governo e filha de Humberto Mendes.

No dia 20 de agosto de 1956 foi anunciado o noivado e 19 dias depois, em 9 de setembro, o casamento foi celebrado unindo Muniz a Alba. Como consequência, realizou-se também a união do pai dela com as hostes governistas.

Humberto Mendes baleado no dia 13 de setembro de 1957

Com livre acesso ao poder, Humberto Mendes tornou-se rapidamente uma liderança de grande expressão na política alagoana, incomodando mais ainda aos tradicionais grupos políticos que já se sentiam ameaçados pela ascensão de Muniz Falcão e suas ideias trabalhistas.

A mais famosa delas foi a que pretendia arrecadar mais recursos dos usineiros e grandes empresários.

Jorge Oliveira em “Curral da Morte: o impeachment de sangue, poder e política no Nordeste”, analisou que tal medida atingiria os “que pouco contribuíram para o desenvolvimento econômico e social do estado”.

O novo imposto passou a ser conhecido como “taxa pró-educação, economia, saúde”. Era “um tributo de 2% sobre a produção de açúcar, álcool, tecidos, fumo e arroz, que seria reinvestido nos programas sociais e educacionais, na tentativa de reduzir os bolsões de pobreza e desigualdade social alarmantes de Alagoas”, explicou Jorge Oliveira.

Um ano após a posse de Muniz Falcão, ocorreu o episódio que iria deflagrar um dos embates mais violentos da história de Alagoas: na noite de 7 de fevereiro de 1957 foi executado por pistoleiros, em Arapiraca, o jovem médico e deputado estadual udenista Marques da Silva.

Um prato cheio para a UDN, que rapidamente mobilizou suas forças para atingir o governador, responsabilizando-o pelo crime, que também foi atribuído ao deputado Claudenor Lima, aliado dos Mendes.

Dois dias após o assassinato, o deputado Oséas Cardoso apresentou formalmente denúncia à Assembleia indiciando o governador no assassinato. O presidente da Mesa, deputado Lamenha Filho, acatou o pedido e abriu o processo de impeachment.

Esta ação ganhou repercussão nacional e o apoio das principais lideranças da UDN. O objetivo era afastar a qualquer custo Muniz Falcão do governo.

A oposição, que já vinha ampliando a bancada antes do assassinato de Marques da Silva ao conquistar a adesão do deputado Lamenha Filho — havia sido escolhido presidente da Assembleia por injunções de Muniz Falcão —, passou a ser maioria. Meses depois, o próprio vice-governador, Sizenando Nabuco, também foi cooptado pela UDN.

Alba Mendes em 1957, após o assassinato do pai

O processo de impeachment se arrastou até que foi marcada a sua votação para o dia 13 de setembro de 1957. Naquela sexta-feira aconteceu o confronto anunciado.

Humberto Mendes, que havia dito que a destituição do governador somente aconteceria por cima do seu cadáver, foi a única vítima fatal do tiroteio que aconteceu no plenário da Assembleia Legislativa.

Muniz Falcão foi afastado três dias depois, mas voltou ao poder por decisão da Justiça no dia 24 de janeiro de 1958.

Havia perdido seu sogro e principal escudeiro nos embates políticos com o poderoso grupo oposicionista, mas conseguiu recuperar a maioria dos deputados nas eleições de outubro de 1958 e concluir o seu governo em 31 de janeiro de 1961.

Em homenagem ao deputado assassinado no tiroteio da Assembleia, em Palmeira dos Índios foi construído, em 1960, o Colégio Estadual Humberto Mendes. Antes, em 1958, Muniz Falcão inaugurou a Cidade de Menores Humberto Mendes, no Tabuleiro dos Martins, em Maceió. Hoje é o Complexo Humberto Mendes.

A Av. Humberto Mendes em Maceió, aquela que margeia o Riacho Salgadinho, foi outra homenagem ao líder político de Palmeira dos Índios.

Robson Mendes

Filho de Humberto Mendes e Eurídice Tavares Mendes, Robson Tavares Mendes nasceu em Palmeira dos Índios no dia 1º de junho de 1929. Cursou o ensino primário no Colégio 7 de Setembro, em sua cidade natal. O ginasial e o ensino médio no Colégio XV de Novembro, em Garanhuns, Pernambuco.

Robson Mendes com crianças da família e com o ator Jofre Soares. Acervo de Marta Margareth Mendes

Iniciou o curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, mas desistiu quando assassinaram seu pai no tiroteio da Assembleia Legislativa. Estava no 2º ano da Faculdade em Recife e voltou a Palmeira dos Índios para cuidar da família. Foi casado com Yane Araújo Mendes.

Com a eleição para deputado estadual, em 1958, do médico e prefeito de Palmeira dos Índios Remi Maia, o governador Muniz Falcão indicou seu cunhado, Robson Mendes, para completar o mandato deixado por Remi. A Câmara Municipal aprovou a indicação.

Em 1961, foi o primeiro prefeito eleito do município vizinho, Cacimbinhas, mas não permaneceu no cargo por muito tempo. Foi acusado como sendo o mandante do assassinato do sargento do Exército Fernando Ferreira da Costa, comandante da representação do 20º BC em Palmeira dos Índios.

Uma prostituta, que estava sendo procurada pela polícia, foi avistada por Robson Mendes no centro de Palmeira dos Índios. Ele ordenou a prisão da jovem. O sargento do Exército, que protegia a prostituta, tentou impedir e se desentendeu com os seguranças do prefeito. João Vital, um inspetor de quarteirão, foi quem disparou os três tiros que tiraram a vida do militar.

Deputado Robson Tavares Mendes, governador Sebastião Marinho Muniz Falcão e o deputado Rubens Canuto

Acusado da morte e tendo prisão preventiva decretada pelo Conselho Permanente de Justiça Militar, Robson fugiu para Recife, de onde retornou 15 dias antes das eleições de 1962, quando não podia ser detido.

Numa campanha relâmpago, conseguiu ser eleito deputado estadual pelo PSP com 1.500 votos. Neste mesmo pleito, Muniz Falcão foi eleito deputado federal.

Um fato inusitado aconteceu em maio de 1961, quando Robson Mendes tinha se afastado da prefeitura de Cacimbinhas e estava escondido em Recife.

Assumiu seu vice, José Ferreira de Albuquerque, que foi chamado ao Palácio para conversar com o governador Luiz Cavalcanti. Estava na antessala do gabinete governamental quando sofreu um derrame cerebral e morreu.

Vivendo uma verdadeira guerra com seus adversários, Robson Mendes sofreu um atentado a bala no domingo, dia 28 de fevereiro de 1965.

Pouco depois do meio-dia, quando se deslocava em seu Jeep de Palmeira dos Índios para sua fazenda, ao parar para que o pai do motorista abrisse uma cancela, foi atingido por um disparo de fuzil na clavícula direita, ferindo também sua mão esquerda que naquele momento estava sobre o ombro atingido.

O pistoleiro estava escondido por trás de uma cerca viva e foi identificado pelo governador Muniz Falcão como sendo David Barbosa, um profissional do gatilho que estava há algum tempo escondido no Paraná. O autor intelectual não foi identificado, mas o governador apresentou uma relação de interessados na morte do deputado.

Robson foi levado para o Rio de Janeiro, onde fez implante de platina no omoplata, recuperando-se em seguida e voltando à atividade política.

Robson Mendes se recuperando do atendado sofrido em 28 de fevereiro de 1965. Foto da revista O Cruzeiro de 25 de março de 1967

Teve o seu mandato cassado em 1966 pelo general Castelo Branco. O motivo apresentado pelos militares para retirá-lo da vida política foi o assassinato do sargento Fernando Ferreira da Costa.

Com a morte de Muniz Falcão em 1966 e a intervenção militar em Alagoas (general João José Batista Tubino), o governo foi entregue ao deputado Lamenha Filho.

Estas mudanças enfraqueceram politicamente Robson Mendes, que acossado pelos processos e ameaças se recolheu ao seu sítio em Mata-Burros, de onde somente saía sob a segurança oferecida por Zé Crispim e Zé Gago.

Pai de sete filhos, vivia como um foragido, longe da esposa Yane Araújo Mendes.

Uma das versões do seu assassinato, ocorrido no dia 8 de março de 1967 às 4 horas da manhã na localidade Mata-Burros, entre Palmeira dos Índios e Cacimbinhas, revela que Robson teria contratado estes dois pistoleiros para assassinar o vereador José Fernandes, oferecendo três mil cruzeiros pelo serviço. Sabendo da trama por Enéas Boiadeiro, o vereador propôs pagar quatro mil para inverter o jogo.

Ainda segundo esta versão, Adeildo Nepomuceno, também inimigo de Robson, teria disponibilizado mais quatro mil cruzeiros para a empreitada.

No dia 8 de março de 1967, Zé Crispim e Zé Gago mataram o vigia do sítio. Segundo o advogado Mendes de Barros, o vigia teria testemunhado a conversa dos dois pistoleiros com o emissário de José Fernandes. Quando explicaram o crime a Robson Mendes, inverteram o papel e disseram que eles é que tinha flagrado o vigia conversando com o representante de José Fernandes.

O corpo ficou escondido numa rede até que seguiram os três para desová-lo em Pernambuco. Na volta, pararam o carro a pretexto de colocar água no radiador e fuzilaram o ex-deputado. Segundo Mendes de Barros foram disparados 84 tiros contra Robson e seu automóvel.

Zé Crispim e Zé Gago foram presos dias depois na Bahia e confessaram o crime.

Roberto Mendes, irmão da vítima, acredita que na verdade tinham mais de quinze homens no local da chacina. José Fernandes também confessou ter participado da trama. Adeildo Nepomuceno negou ser um dos autores intelectuais do crime.

Quando foi assassinado, Robson Mendes tinha voltado a estudar Direito e preparava sua defesa contra a prisão preventiva decretada contra ele pela Promotoria de Palmeira dos Índios. Ele era acusado do assassinato de Zeca Leôncio, quando ainda era prefeito de sua terra natal.

Valter Mendes

Valter Mendes em 13 de setembro de 1957, dia do tiroteio na Assembleia

No início da tarde de 13 de setembro de 1957, quando Humberto Mendes entrou na Assembleia portando uma metralhadora para barrar o impeachment do governador Muniz Falcão, ao seu lado caminhava outro parente, também fortemente armado: seu filho Valter Tavares Mendes. Com eles estavam ainda cinco capangas.

Então com 24 anos, o jovem advogado, nascido de Palmeira dos Índios e um dos cinco filhos do deputado assassinado no célebre tiroteio, também teve acesso ao plenário da Assembleia, mesmo sem ter mandato algum.

Cinco dias depois do episódio, em entrevista ao jornal carioca Última Hora, Valter justificava o seu comportamento. “Eu não sou nenhum pistoleiro! Apenas fiz aquilo que qualquer moço faria: fui à Assembleia defender a vida de meu pai!”, explicou.

Mas ele não era exatamente um novato no uso de armas. Anos antes, em legítima defesa, tinha matado em Palmeira dos Índios um parente de Tenório Cavalcanti de nome “Naval”, que estava em Alagoas escondendo-se após assassinar em Caxias, no Rio de Janeiro, o delegado paulista Albino Imparato. “Naval” investiu contra Walter de faca em punho e foi parado à bala.

Imparato havia sido deslocado para aquela região do Rio de Janeiro a pedido do presidente Getúlio Vargas, com a missão de neutralizar o poder de Tenório Cavalcanti, o homem da capa preta.

Mesmo sem ter ocupado nenhum mandato legislativo, Valter era atuante politicamente, sempre trabalhando para fortalecer o poder da família. Assim, também passou a ser tratado pelos adversários como alguém a ser eliminado.

O primeiro atentado sofrido por Valter Mendes ocorreu horas depois do assassinato do seu irmão Robson Mendes, no dia 8 de março de 1967. O advogado se deslocava de Maceió para Palmeira dos Índios, onde pretendia acompanhar o funeral do irmão, quando foi alvejado no queixo, escapando com vida.

No dia 6 de novembro de 1967, quando estava em sua residência na Av. da Paz, ao lado do atual Museu Theo Brandão, dois pistoleiros munidos de metralhadoras dispararam contra ele e de seus familiares. No episódio saíram feridos gravemente, além de Valter Mendes, sua mãe Eurídice, com uma bala encravada na coluna vertebral, e a viúva de Robson Mendes, Yane Araújo Mendes.

Este episódio foi denunciado pelo então deputado Roberto Mendes, irmão de Valter, como um complô para exterminar toda a família. Ele e a irmã Alba Mendes não estavam na casa metralhada.

O autor intelectual deste atentado foi identificado como o jovem Francisco Rogério Maia Costa, de 21 anos de idade e primo de José Fernandes, um dos mandantes do assassinato e Robson Mendes. Os executores foram os pistoleiros Francisco Caduta e Doroteu José Oliveira, alagoanos residentes no Rio de Janeiro e apontados como homens ligados a Tenório Cavalcanti.

Humberto Mendes conduz a filha Alba para o casamento com Muniz Falcão

Mesmo tendo anunciado que queria viver em paz e dedicado à advocacia, Valter Mendes foi eliminado no dia 19 de outubro de 1972, em pleno centro comercial de Maceió.

Com 37 anos de idade, era Consultor Jurídico do Juizado de Menores e no final daquela tarde, saiu do trabalho para conversar com amigos na porta da antiga Mercearia Helvética, ponto de encontro de políticos e intelectuais na esquina da Rua do Livramento ao lado da Igreja.

No momento que recebeu três tiros disparados por um pistoleiro, estava com o promotor de Justiça Virgílio da Rocha Marques e o juiz José Agnaldo Sousa Ramos, que foi ferido em uma das mãos.

O criminoso foi identificado dois meses depois como Doroteu José Oliveira, que agiu em parceria com o irmão Canduta. Os mesmos envolvidos no atentado anterior a Valter Mendes e na primeira tentativa de assassinar Robson Mendes.

Doroteu tinha mandato de prisão decretado pela Justiça do Estado do Rio de Janeiro, acusado de praticar homicídios e assalto à mão armada. Nos primeiros interrogatórios, o criminoso negou a autoria do crime, mas diante das evidências revelou que tinha sido mesmo ele e que agiu por vingança.

A versão apresentada pelo executor do crime foi a de que após o atentado contra Robson Mendes, seu irmão Valter Mendes contratou um grupo de policiais de Caxias, no Rio de Janeiro, para matá-lo.

Como não o encontraram em casa, sequestraram seu pai, Jacinto — mais conhecido como Cintinho —, o irmão Dionísio de Oliveira e o cunhado Francisco Ferro, todos vaqueiros, e os assassinaram na localidade Gramacho, em Caxias.

Roberto Mendes

Ataque do CSA em 1962: Cícero, Roberto Mendes, Clóvis, Bá e Ary. Acervo Museu do Esporte

É o caçula entre os filhos de Humberto Mendes. Roberto Tavares Mendes nasceu em Palmeira dos índios no dia 12 de agosto de 1938. Diferente dos irmãos, destacou-se fora da política. Foi o futebol que o tornou respeitado e reconhecido pelos alagoanos.

Ainda muito jovem, já era atleta no juvenil do CSE como lembrou ao depor para o historiador Lauthenay Perdigão. Depois, em Maceió onde chegou no final dos anos da década de 1950 para estudar no Colégio Diocesano, atuou nas equipes amadoras do Ferroviário e Juventus, este da Praça do Centenário.

Foi Jorge Vasconcelos, técnico do CRB, que o profissionalizou em 1959. Após vê-lo atuar pelo Juventus, levou-o para o time da Pajuçara e já o escalou para a final do campeonato alagoano contra o Capelense, partida realizada no Estádio Severiano Gomes no dia 8 de maio de 1959. O CRB perdeu por 2 x 1 e esta foi a única partida que Roberto Mendes jogou pelo clube praiano.

No ano seguinte já estava no Centro Sportivo Alagoano, o CSA, onde permanece. Lá foi campeão como jogador em 1963 e 1965. Atuou ainda como treinador nos anos 1966, 1967 e 1968. Como dirigente de futebol continuou conquistando títulos por muitos anos.

Em 1965, com a cassação do mandato de Robson Mendes, entrou para a política sendo eleito deputado estadual pelo MDB. Na campanha, contou com a ajuda do irmão, que mesmo perseguido atuou nos bastidores para elegê-lo.

Roberto Mendes continua atuando no futebol alagoano. Foto de Ailton Cruz da Gazeta de Alagoas

Entrevistado pelo repórter Wellington Santos para a Gazeta de Alagoas, explicou as razões da sua candidatura: “Meu irmão teve o mandato cassado, depois sofreu um atentado e morreu. Minha família praticamente exigiu que eu me candidatasse a deputado para honrar o nome do Robson (Mendes). Fui eleito. Tive que acumular as três funções no CSA nessa época – jogador, treinador e deputado”.

Quando foi eleito tinha 27 anos de idade. Segundo Lauthenay Perdigão, ele nunca esqueceu “que foi eleito deputado estadual e teve sucesso como jogador e treinador graças a torcida do CSA. Era muito querido e respeitado por todos, azulinos ou não. A recíproca era verdadeira. Esteve sempre ao lado do torcedor. O CSA foi uma das coisas mais importantes que aconteceu na sua vida de desportista. Quando era deputado também jogava no CSA. Se tivesse que fazer uma opção entre o CSA ou a política ficaria com o clube azulino”.

Mesmo sendo uma estrela do mundo da bola, não escapou da perseguição política sofrida pela família e, em 1968, também teve seu mandato cassado pela Ditadura Militar. Sem mandato e ameaçado, foi morar no Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1982. Já advogado, voltou a Maceió e atualmente continua a ter participação destacada nos destinos do CSA.

Nas eleições de 1986, Roberto Mendes tentou recuperar o seu mandato de deputado estadual, candidatando-se pela coligação PFL, PDC e PDS. Ficou na suplência.

Mendes de Barros

Luiz de Gonzaga Mendes de Barros, Ademar de Barros, Robson Mendes, Muniz Falcão, Abrahão Fidélis de Moura durante a campanha de 1960. Ademar era candidato a presidente e Abrahão a governador

Maceioense, nascido na Rua Jangadeiros Alagoanos em 2 de novembro de 1934, Luiz Gonzaga Mendes de Barros é filho de Antônio Vieira de Barros e Noêmia Correia Guedes Mendes, que casada passou a ser Noêmia Mendes de Barros. Era irmã de Humberto Mendes.

Morando em Palmeira dos Índios, o primeiro trabalho do seu pai foi como Fiscal de Renda. Proprietário da Fazenda Sabiá, não demorou a ser reconhecido como uma das lideranças da política local. “Meu pai se tornou chefe político. Ele tinha suas amizades e seu campo de influência”, revelou Mendes de Barros no livro A Vez da Caça, de Joaldo Cavalcante.

Após vários desentendimentos com Ismar de Góis Monteiro, Antônio Barros resolveu deixar Alagoas. Favorecido pela influência do cunhado, almirante Dário Paes Leme de Castro, ingressou no Banco do Brasil e passou a peregrinar por vários estados do país.

Assim, Mendes de Barros, seu filho, estudou em diversas escolas e após uma passagem pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, ainda menino, preparou-se para o exame de admissão ao ginásio no Colégio Regina Passos, em Araguari, Minas Gerais.

Depois de Santa Catarina, a família foi morar em Recife, Pernambuco, onde Mendes de Barros estudou no Colégio Nóbrega, no Ateneu Pernambucano e na Faculdade de Direito de Recife.

Mendes de Barros entrou para a política por acaso. Vinha para Maceió acompanhando um amigo e passando por Palmeira dos Índios se hospedou na casa de seu primo Robson Mendes e participou de algumas reuniões que lá ocorriam.

“Eles estavam avaliando as consequências de um fato que haviam descoberto fazia pouco tempo. Ele [Robson Mendes], sendo cunhado do governador, não poderia ser candidato a deputado estadual, como estava sendo decidido”, recordou Mendes de Barros no livro A Vez da Caça.

Candidato a senador Mendes de Barros, em Anadia, Alagoas, em 1970

Na hora, sondaram Mendes para saber se seu pai, Antônio Barros, aceitaria ser o candidato. Ele concordou em informá-lo das pretensões da família e seguiu viagem. Na volta a Recife, ouviu do pai a negativa. Como alternativa ao seu nome, propôs que o filho fosse o candidato.

Dias depois, Robson Mendes esteve em Recife e aceitou a indicação. Os prazos eram exíguos para regularizar a candidatura e tinham somente 45 dias para a campanha.

Mendes reconhece que os votos que lhe elegeram representaram o prestígio político da família. “Eu não tinha como pedir votos. Ninguém me conhecia no Sertão. Nasci em Maceió, de onde saí com oito anos de idade, e não havia como as pessoas me conhecerem”, explica.

Eleito pelo PSP, Mendes se tornou o deputado estadual mais jovem do Brasil. Em 1961, quando ainda exercia o mandato, foi aprovado em concurso público e assumiu a procuradoria geral do Poder Legislativo.

Nas eleições de 1962, Robson Mendes foi eleito deputado estadual e Mendes de Barros tentou uma cadeira na Câmara Federal pelo PSD, sem sucesso. Já filiado à Arena, faz nova tentativa em 1966, ficando na suplência.

Além de procurador geral da Assembleia Legislativa, também ocupou a Assessoria Técnica do Ministro da Agricultura no período 1963-64.

No início de junho de 1969, a Polícia Federal e soldados do 20º BC invadiram sua residência em busca de bebidas contrabandeadas. Mendes explicou que as duas caixas encontradas lhe foram presenteadas pelo encarregado do banquete oficial oferecido pelo Governo do Estado ao presidente Costa e Silva e ao ministro Gama e Silva. Nesse mesmo dia, os agentes também vasculharam a residência de Valter Mendes, seu primo, em busca de armas de porte proibido.

Em 1970, disputou uma cadeira no Senado. Eram duas vagas e os eleitos foram Arnon de Mello e Luiz Cavalcanti. Mendes de Barros e Aurélio Viana, ambos do MDB, foram derrotados. Nesta eleição Mendes teve 52.106 votos.

Foi ainda Consultor Geral do Estado entre 1979 e 1982.

Voltou a disputar mandatos a partir de 1986, quando concorreu, sem êxito, ao Senado por uma sublegenda da Coligação PFL-PDC-PDS; a deputado estadual em 1990, pela Coligação PDT-PT-PMDB-PSC-PFL-PMN-PSDB e PT do B; em 1994, a deputado federal, pelo PTB; e em 1998, pelo PSD, também a deputado federal. Ficando na suplência em todas elas.

Foi o último dos Mendes de Palmeira dos Índios a ter participação na política alagoana.

Murilo Mendes

Murilo Mendes em campanha para a Câmara dos Deputados

O advogado Murilo da Rocha Mendes nasceu em Maceió no dia 15 de agosto de 1934. Era filho de Luiz dos Reis Mendes e Ana da Rocha Mendes. Seus avós paternos foram Basileu Mendes Guedes e Cândida Omena. Basileu era irmão de Antero, pai de Humberto Mendes.

Foi aluno do Colégio Batista, formou-se pela Faculdade de Direito de Alagoas em 1958 e no ano seguinte foi nomeado procurador chefe do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Estado.

Teve uma breve passagem como comissionado da Secretaria de Estado dos Negócios do Governo, no final da gestão de Muniz Falcão.

Em 1967, assumiu a Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda e da Produção, que após 1970 passou a denominar-se Secretaria da Fazenda do Estado de Alagoas, permanecendo no cargo até 1971, quando se concluiu o governo de Lamenha Filho.

Assumiu novamente uma secretaria de Estado em 1975, sendo empossado pelo governador Divaldo Suruagy na Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Cultura.

Após presidir, entre 1965 e 1966, a comissão estadual de Reforma Tributária, candidatou-se a deputado federal pelo MDB em 1978. Eleito, participou da Comissão de Educação e Cultura, e em 1981, presidiu a Comissão de Redação.

Em 1982, tentou a reeleição, mas ficou na suplência, voltando ao serviço público nas suas funções de chefe do Ministério Público, junto ao Tribunal de Contas.

Faleceu em Maceió no dia 13 de agosto de 2017.

15 Comments on Famílias na política alagoana do século XX (6): Mendes

  1. Muito bom o documentário! !! ! Parabéns ao grupo…

  2. Francisco Marques // 1 de março de 2018 em 23:29 //

    Muito bom

  3. Marta Margareth Mendes // 3 de março de 2018 em 14:04 //

    Gostaria que nas fotos que foram publicadas por mim fosse citadas como do meu acervo.Grata.

  4. André José Soares Silva // 6 de março de 2018 em 09:40 //

    Formidável. Espero com muito entusiasmo mais uma publicação. Parabéns pelo valoroso trabalho.

  5. Muito bom, aguardando os próximos. Grande Família Mendes

  6. Severina Ferreira da Silva // 24 de março de 2018 em 17:08 //

    Minha vó contava que a avó dela era irmã da avó do Róbson Mendes, conheço uma histórias de pessoas de bom coração.

  7. Quando da inauguração da cidade de menores Humberto Mendes( não me recordo a data fui o segundo aluno a chegar nessa unidade lá pelos anos de 1958 que tinha como diretor o padre Antônio Cabral Gomes. Meu nome é Antônio Gomes Filho. Hoje já com 71 anos e gostaria de saber de internos daquela época.

  8. Meu avô ainda pouco contava a história! Obrigada por contar com detalhes e imagens.

  9. Quando criança ouvia de amigos de meu pai e irmãos, muitas histórias dos Mendes. Hoje com mais riqueza de detalhes comprova a veracidade.

  10. ARLINDO CAVALCANTE DE LIMA // 25 de junho de 2020 em 08:43 //

    A história está contada de forma tendenciosa, eu vivi esta época e não foi exatamente assim, a família Mendes era extremamente violenta

  11. Otto Lopes // 29 de junho de 2020 em 07:06 //

    A muto tempo acompanho esta história. Infelizmente perdi o texto que alguém da Bahia contou com muitos detalhes momentos de Zé crispim e Zé gago…
    Queria ver o artigo da TV a cores na feira , que o jornalista falou assim
    Ele que o primo estava mais p. S Pedro do que pá Cristo..

  12. Jorge mendes // 21 de outubro de 2020 em 20:54 //

    Meu nome Jorge sidney Mendes ,adorei a nossa história da familia,hoje eu moro em Praia grande e tenho saudades que morei em Palmeiras dos índios com meus avós Estella Mendes ,Jose Maria Mendes, e meus pais Maria do Carmo Mendes e Sidney Cavalcanti.(falecidos).

  13. Angela Maria // 20 de dezembro de 2020 em 10:05 //

    Muito kntetyedtd documentário,ao assim fiquei sabendo um pouco da historia do meuj marido,filho de Robson mentes, fora do casamento,hj ele só conhece um pouco Roberto Mendes,o pai ele só teve contato ainda criança.

  14. Regina Mendes // 29 de junho de 2021 em 11:39 //

    Eu tinha 7 anos qdo mataram Humberto Mendes na porta da Assembleia de Maceió. E meu pai José Mendes Ferreira Filho estava lá, e ele mandou avisar a minha mae que nao saisse de casa, porque a coisa estava pegando fogo.

  15. Júnior Mendes // 23 de outubro de 2022 em 04:33 //

    Família de bem qual eu tenho muito respeito sou feliz de ser quem sou júnior Mendes

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