Embaixador Araújo Jorge, de Mata Grande para o mundo

Araújo Jorge fazia parte da equipe do Barão do Rio Branco. Ele é o segundo em pé, ao lado de Euclides da Cunha

Por Etevaldo Amorim
(texto adaptado pela editoria do História de Alagoas)

Membro de tradicional família alagoana, Arthur Guimarães de Araújo Jorge nasceu em Mata Grande (então chamada Paulo Afonso) a 9 de setembro de 1884. Assim se deu porque seu pai, o Dr. Rodrigo Adolpho de Araújo Jorge, exercia, desde 15 de novembro de 1882, o cargo de promotor de Justiça daquela comarca.

Laços com alguma família matagrandense talvez tenha por conta da mãe, Emília Guimarães de Araújo Jorge. Foram seus avós paternos o desembargador Silvério Fernandes de Araújo Jorge e Maria Victória Nascimento Pontes.

Araújo Jorge em foto publicada na revista Fon-Fon de 22 de junho de 1912

Em 1896, já com a família em Maceió, prestou exames de preparatórios, seguindo depois para o Recife, onde ingressou na Faculdade de Direito. Na capital pernambucana, revelando desde cedo seus dotes literários, passa a colaborar com a Revista Jurídica, do Centro Acadêmico Teixeira de Freitas, da Faculdade de Direito.

Aos dezenove anos, e sendo já um dos redatores d’A Cultura Acadêmica, obteve desta a edição, entre 1904 e 1905, de uma coletânea dos seus primeiros ensaios, sob o título de Problemas de Filosofia Biológica, trabalho com quatro títulos: A Biologia e a Físico-química, A Hereditariedade de Influência, Ensaio sobre a Biogênese, e O Gênio, como registrou o Jornal do Recife de 16 de outubro de 1904.

Formou-se em 1904 e já no ano seguinte vai para o Rio de Janeiro. Por influência do senador Bernardo de Mendonça, que o indicou ao seu amigo Barão do Rio Branco, ingressou na carreira diplomática, a 21 de junho de 1905, inicialmente como secretário auxiliar do Tribunal Arbitral Brasileiro-Boliviano, cujo árbitro brasileiro era o Dr. Carlos Augusto de Carvalho.

Araújo Jorge (de branco) ao lado do colega Muniz de Aragão em 1910

Araújo Jorge (de branco) ao lado do colega Muniz de Aragão em 1910

No ano seguinte, era nomeado auxiliar do árbitro brasileiro no Tribunal Arbitral Brasileiro-Peruano. Deixou ambas as funções em agosto de 1907 para se tornar auxiliar de gabinete do Barão do Rio Branco, de quem seria um dos mais próximos e eficientes colaboradores. Inicialmente como amanuense, tornou-se diretor na Seção de Negócios Políticos e Diplomáticos da Europa e, depois, cargo equivalente na Seção da América.

Em 1909, “por sugestão e patrocínio do Barão do Rio Branco“, funda a Revista Americana, concebida como uma publicação internacional voltada ao intercâmbio de ideias e à aproximação entre os países americanos. Era quinzenal e abordava ciência e arte. Os redatores eram Araújo Jorge, Joaquim Viana e Delgado de Carvalho. A partir de 1916, passou a ser dirigida também por Silvio Romero Filho.

Com a morte do Barão, em 10 de fevereiro de 1912, continuou no Ministério das Relações Exteriores, passando a servir sob o comando do Dr. Lauro Muller, primeiro como 2º Oficial e, a partir de 1914, como 1º Oficial.

Naquele mesmo ano, jornais cariocas noticiam seu noivado com Devanaguy Lakmy Silva, ocorrido no dia 6 de maio de 1912. Não se nota, entretanto, registro do casamento com essa jovem que se tornaria bailarina na Escola de Bailados do Teatro Municipal. Casa-se, efetivamente, com a Helena dos Santos Caneco, filha do construtor naval Vicente dos Santos Caneco e de D. Catharina Teixeira dos Santos Caneco. A cerimônia se deu a 27 de outubro de 1917.

Sua carreira segue promissora. Em 1918, passa para a Seção de Negócios Econômicos e Comerciais, como Diretor, exatamente no período que se seguiu à Primeira Grande Guerra. Em 1925, assume a direção da Seção dos Limites e Atos Internacionais. Nesse ano, é designado “enviado extraordinário e Ministro Plenipotenciário em Missão Especial” para representar o Brasil nos festejos do 1º Centenário da Independência da Bolívia, comemorada no dia 6 de agosto.

Araújo Jorge no Palácio Presidencial em Berlim após apresentar credenciais ao Presidente Hindemburg, a 18 de outubro de 1911

Araújo Jorge no Palácio Presidencial em Berlim após apresentar credenciais ao Presidente Hindemburg

E em 1927, foi designado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário para Cuba e América Central, servindo de 9 de junho até 3 de setembro daquele ano. Em 19 de março de 1929 foi removido para a Legação Brasileira em Assunção, Paraguai, servindo de 30 de junho de 1929 a 22 de novembro de 1930.

A partir de 1933 foi Ministro em Berlim, chegando a 7 de outubro daquele ano. Assim que chegou à Alemanha, já na era Hitler, mas anterior à Guerra, instalou a Legação Brasileira e a própria residência num mesmo prédio, na Tiergartenstrasse, nº 25, inaugurando-a a 7 de setembro de 1933, próxima do antigo endereço, no número 4.

Nesse curto período, e a julgar pelas informações e comentários constantes de Cartas ao Ministro das Relações Exteriores (vide Cadernos do CHDD – Centro de História e Documentação Diplomática da Fundação Alexandre de Gusmão, Ano 11, Número 21, segundo semestre de 2012), nota-se uma certa simpatia do nosso ministro pelas restrições impostas pelo governo alemão à presença e atuação dos povos de origem judia naquele país, especialmente no aspecto econômico. O Brasil, àquela época, praticava o que se convencionou chamar de “diplomacia pendular”, definindo-se finalmente pelo apoio aos países liderados pelos Estados Unidos.

Deixando Berlim, em agosto de 1935, foi para o Chile promovido a embaixador. Naquele mesmo ano, foi transferido para Portugal, cuja atuação se constituiu o ápice da sua carreira.

Antes de ir para Portugal, por Decreto de 29 de abril de 1935, foi nomeado Secretário da Presidência da República na vaga deixada pelo Ministro Ronald de Carvalho, período em que acompanhou o presidente Getúlio Vargas em sua viagem aos países do Prata.

Em 7 de dezembro de 1937, com seu apoio, a Sala do Brasil na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra foi reinaugurada, sendo esta uma das muitas ações de intercâmbio entre os dois países. Em 1941, recebeu, na Academia de Ciências de Lisboa, a Palma de Ouro de Primeira Classe. Em 1938, foi condecorado com a Grande Cruz da Ordem Militar de Cristo.

De pé, da esquerda para a direita: Euclides da Cunha, Arthur G. de Araújo Jorge, Graça Aranha, Eduardo Lorena, César Vergueiro,, Pecegueiro do Amaral, Gaspar Líbero, Paulo Quartin e César Tapajós. Sentados: Afonso Arinos, Barão Homem de Mello, Barão do Rio Branco e Gastão da Cunha. Fonte: O Malho, 26 de outubro de 1907

De pé, da esquerda para a direita: Euclides da Cunha, Arthur G. de Araújo Jorge, Graça Aranha, Eduardo Lorena, César Vergueiro, Pecegueiro do Amaral, Gaspar Líbero, Paulo Quartin e César Tapajós. Sentados: Afonso Arinos, Barão Homem de Mello, Barão do Rio Branco e Gastão da Cunha. Fonte: O Malho, 26 de outubro de 1907

Muitos foram os Atos praticados pelo nosso embaixador no sentido da aproximação entre o Brasil e Portugal, entre eles, em setembro de 1942, assinatura do Acordo Postal. A revista A ORDEM, que tinha como diretor responsável Alceu Amoroso Lima (o Tristão de Ataíde), em artigo publicado em sua edição de junho de 1938, intitulado Um Embaixador do Brasil, assim se manifestou:

“A uma sólida formação de inteligência aquele embaixador junta, como ninguém, o senso de oportunidades, o atrativo das maneiras, uma afabilidade sem artifícios que elimina as distâncias entre ele e os que buscam a sua convivência e acentua a graça e suaviza a malícia do seu caráter jovial.”

Atuou como representante do Brasil em diversos congressos internacionais, tais como: 2º Congresso Científico Panamericano, realizado em Washington em 1915, onde apresentou duas importantes monografias: História Diplomática do Brasil Francês e História Diplomática do Brasil Holandês.

Segundo o Embaixador Lafaiete de Carvalho e Silva, Araújo Jorge “aliava as qualidades do espírito às do profissional sério e metódico”. Em 1935, quando chega a Santiago, um jornalista chileno, Abel Valdés, o descreve como “um homem jovem de palavra fácil, semblante um pouco moreno, que expressa suas opiniões e pensamentos com a máxima claridade e com uma franqueza considerada, até agora, como pouco diplomática”.

Profundamente interessado em nossa história diplomática, publicou numerosos trabalhos, notadamente os Ensaios de História Diplomática do Brasil no Regimen Republicano, concluídos em 1908 e editados em 1912, Ensaios de História e Crítica (1916), que englobam estudos sobre a história diplomática do Brasil francês no século XVI, a História diplomática do Brasil holandês (1640-1661), ou ainda sobre temas tão variados como Alexandre de Gusmão, as ilhas Malvinas e o direito da Argentina, Euclides da Cunha ou Guglielmo Ferrero.

Quando o Itamarati decide publicar, na década de 1940, a íntegra da obra do Barão, o nome de Araújo Jorge pareceu a escolha natural para preparar a Introdução que o Senado Federal ora reedita, tornando acessível aos estudiosos de nossa história uma das melhores sínteses sobre a atividade diplomática de Rio Branco.

Em 20 de abril de 1963, no Itamarati, em solenidade presidida pelo presidente João Goulart, Grão Mestre da Ordem, ocorreu a cerimônia de entrega das primeiras condecorações da Ordem de Rio Branco, entre elas, uma foi entregue ao embaixador Arthur G. de Araújo Jorge, junto aos que serviram na Gestão do Barão do Rio Branco. (Diário Carioca, 14 de abril de 1963).

O diplomata Arthur Guimarães Araújo Jorge faleceu a 27 de fevereiro de 1977, com 92 anos, deixando viúva a embaixatriz Helena Caneco de Araújo Jorge, que faleceu no Rio de Janeiro a 21 de dezembro de 1982, aos 85 anos, e o único filho, Raul Caneco de Araújo Jorge, promotor Público atuante no Rio de Janeiro.

*Texto completo aqui: http://blogdoetevaldo.blogspot.com.br/2016/07/embaixador-araujo-jorge.html?m=1

1 Comentário on Embaixador Araújo Jorge, de Mata Grande para o mundo

  1. Fernando Augusto de Araujo Jorge // 15 de julho de 2016 em 21:19 //

    Nome de família que orgulha no passado, presente e futuro.

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