Criação da Ufal: uma conquista de muitos

Campus A.C. Simões da Ufal em 1973

O ensino superior em Alagoas se consolidou, tardiamente, nos anos da década de 1970, quando a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), recém-criada em 1961, implantou dezenas de cursos e inaugurou a Cidade Universitária.

Juscelio Kubitschek, em janeiro de 1961, assina o ato que criou a Ufal na presença do Dr. A.C. Simões, Edgar Magalhães, assessor do MEC, e do deputado Padre Medeiros Netto

Para o professor Elcio Verçoza, os primeiros passos desta longa caminhada foram dados em 1902 com a criação da Diocese de Alagoas, instalada provisoriamente no Convento de São Francisco em Marechal Deodoro e responsável pela criação do Seminário Diocesano com os cursos de Filosofia e Teologia.

Mesmo fechado para os leigos, os cursos eram promovidos por “uma instituição educacional com características pós-secundária“, afirmou Verçoza. Dois anos depois, o Seminário passou a funcionar em Maceió.

As Faculdades

Meio século após estas iniciativas da Diocese, surgiu a primeira instituição de ensino superior em Alagoas. A Faculdade Livre de Direito de Alagoas, entrou em funcionamento no dia 24 de maio de 1931. Sua federalização somente aconteceu pela em 24 de dezembro de 1949, por força da Lei nº 1.014. Esta conquista ocorreu graças a mobilização encabeçada por Jayme de Altavila, então diretor da instituição.

Inauguração do Diretório Acadêmico de Engenharia da Ufal no início dos anos 60, vendo-se da direita para a esquerda, Rinaldo Costa Lima (DA de Economia), Moacir Andrade (DA de Odontologia), Agatângelo Vasconcelos (presidente da UEEA), professor Everaldo de Oliveira CAstro (diretor da Escola de Engenharia), Ogelson Acioli Gama (DA Engenharia), Paschoal Savastano Júnior (DA de Direito), Osvaldo Rocha Ramos (DA de de Filosofia), Maria Heliane Barros Coelho (DA de Serviço Social)

Inauguração do Diretório Acadêmico de Engenharia da Ufal no início dos anos 60, vendo-se da direita para a esquerda, Rinaldo Costa Lima (DA de Economia), Moacir Andrade (DA de Odontologia), Agatângelo Vasconcelos (presidente da UEEA), professor Everaldo de Oliveira CAstro (diretor da Escola de Engenharia), Ogelson Acioli Gama (DA Engenharia), Paschoal Savastano Júnior (DA de Direito), Osvaldo Rocha Ramos (DA de de Filosofia), Maria Heliane Barros Coelho (DA de Serviço Social)

Nos anos 50 surgiram novas instituições de ensino superior. A primeira delas foi a Faculdade de Medicina, em 1950. Sua primeira turma só começou a ter aulas no ano seguinte.

Em 1952, começaram as aulas da Faculdade de Filosofia de Maceió, criada por um grupo de educadores com o padre Teófanes Augusto de Araújo Barros à frente. Funcionava no mesmo prédio da Escola Industrial de Maceió, na Praça Sinimbu. Quem dirigia a Escola Industrial era Talvanes Augusto de Araújo Barros, irmão do Padre Teófanes.

A Faculdade de Ciências Econômicas entrou em funcionamento em 1954 e no ano seguinte foi a vez da Escola de Engenharia de Alagoas, que aguardava autorização desde 1951.

Em 1955, o novo arcebispo de Maceió, Dom Adelmo Cavalcanti Machado, propôs a criação da Escola de Serviço Social, entretanto, a Escola de Serviço Social Padre Anchieta só recebeu a autorização do Ministério da Educação e Cultura (MEC) em 18 de março de 1957.

As duas últimas faculdades criadas na década de 1950 eram ligadas à Odontologia. A Faculdade de Odontologia de Alagoas foi oficializada em julho de 1955 e, em janeiro de 1956, surgiu a Faculdade de Odontologia de Maceió. As duas foram unificadas em 1961, por exigência do MEC, para que pudessem compor a Universidade Federal de Alagoas.

Em 1961, a Ufal nasceu apoiada nas já existentes faculdades de Filosofia e Ciências, Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina, Faculdade de Economia, Faculdade de Engenharia Civil e Faculdade de Odontologia.

Surge a Ufal

Em 1967, o Reitor A. C. Simões autorizou o início das obras do Campus da Ufal no Tabuleiro

Em 1967, o Reitor A. C. Simões autorizou o início das obras do Campus da Ufal no Tabuleiro

Depois de várias tentativas de federalização da Faculdade de Medicina num movimento liderado pelo médico A. C. Simões, na última delas, em 1960, descobriu-se que era possível fazer aprovar um projeto criando uma universidade pública em Alagoas, em vez de se tentar federalizar apenas uma faculdade.

Assim, no dia 11 de agosto de 1960, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina de Alagoas, os diretores de cinco das oito escolas superiores em funcionamento no Estado, além de autoridades públicas, assinaram um memorial redigido pelo estudante Adalberto Câmara e endereçado ao presidente Juscelino Kubitschek, reivindicando a criação de uma universidade em Alagoas.

Não assinaram o documento, por razões diversas, os diretores da Escola de Serviço Social, Faculdade de Filosofia e Faculdade de Odontologia. A União Estadual dos Estudantes de Alagoas (UEEA) também não assinou, mas a mobilização para a criação da universidade sempre teve os estudantes à frente. Foi o presidente desta entidade estudantil, Adalberto Câmara, quem entregou ao presidente da República o memorial com a solicitação.

Campus Tamandaré, antiga Escola de Aprendizes Marinheiros no Pontal da Barra, em 1973

Campus Tamandaré, antiga Escola de Aprendizes Marinheiros no Pontal da Barra, em 1973

A UEEA, que tinha realizado em agosto de 1960 o seu II Conselho de Entidades na cidade de Viçosa e o IX Congresso Estadual, mobilizava os estudantes das diversas faculdades reivindicando a constituição da universidade federal.

Ainda em 1960, no dia 1º de novembro, JK enviou o projeto ao Congresso Nacional. Com apoio unânime da bancada alagoana em Brasília, o processo correu célere e, antes do fim do mandato de JK, foi aprovado na Câmara e no Senado em caráter de urgência.

Assim, no dia 26 de janeiro de 1961, a seis dias do fim do seu mandato, o presidente da República assinou o ato que formalizou a existência da Universidade Federal de Alagoas.

Cidade Universitária

Quando assumiu a reitoria em 6 de outubro de 1961, o professor A. C. Simões, ainda em Brasília, comunicou ao Primeiro Ministro Tancredo Neves que o principal investimento da mais jovem universidade brasileira era em infraestrutura, principalmente com a construção de um Campus.

Casa onde funcionou a Faculdade de Economia na esquina da Rua General Hermes com a Praça dos Martírios. Foi derrubada e hoje é a Caixa Econômica Agencia Rosa da Fonseca

Casa onde funcionou a Faculdade de Economia na esquina da Rua General Hermes com a Praça dos Martírios. Foi derrubada e hoje é a Caixa Econômica Agencia Rosa da Fonseca

Considerava que se não fossem as sedes das Faculdades de Direito, na Praça do Montepio, e de Medicina, no antigo quartel da Praça Afrânio Jorge, a Ufal materialmente não existiria: a Reitoria funcionava em uma sala na Faculdade de Medicina; a Faculdade de Ciências Econômicas ocupava o prédio do Sindicato dos Empregados no Comércio, na Rua do Sol; a Faculdade de Odontologia funcionava numa antiga residência da Av. Aristeu de Andrade; a Escola de Engenharia estava instalada no prédio da antiga Escola Técnica de Alagoas, na Praça Sinimbu; a Faculdade de Filosofia funcionava numa extensão do Colégio Guido na Rua Ângelo Neto.

O maior patrimônio veio da Faculdade de Medicina, que recebeu do Ministério do Exército em 1951 o antigo Quartel de Linha do 20º BC na Praça Afrânio Jorge, no Prado. O prédio tinha sido desativado em 1944, quando o Batalhão passou a ocupar o novo quartel na Av. Fernandes Lima.

Em 1962, a Reitoria comprou e alugou alguns prédios e assim distribuiu melhor suas faculdades e os equipamentos universitários.

No ano seguinte, por decreto presidencial (Decreto nº 51.906-A, de 19 de abril de 1963), foram desapropriados três imóveis: o da Praça Sinimbu onde funcionou o Restaurante Universitário e a Residência Universitária; o terreno na Cidade Jardim, com 210 hectares, que seria utilizado para a construção da Cidade Universitária; e o da Avenida Duque de Caxias nº 1.490 (atual Av. da Paz).

Prédio da antiga Faculdade de Odontologia Maceió, na Av. Aristeu de Andrade. Foto Japson

Prédio da antiga Faculdade de Odontologia Maceió, na Av. Aristeu de Andrade. Foto Japson

A estrutura na Praça Sinimbu planejada para receber a Residência, Restaurante, sede do DCE e Fadu e serviços médicos e odontológicos teve sua construção iniciada em 4 de agosto de 1964 e concluída em 11 de setembro de 1965. No local foi erguida uma coluna para receber o antigo relógio (foi importado da Inglaterra em 1917) da Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos (CATU), que teve sua garagem naquele local. A sua inauguração se deu em 14 de maio de 1966.

Após a aprovação do Planejamento Didático (base para o Plano Diretor) em 1965 e a contratação da firma dos arquitetos  Oscar Valdetaro de Torres e Mello e Roberto Nadalluti (tinham construído a Cidade Universitária de Santa Maria no RS), do Rio de Janeiro, em dezembro deste mesmo ano, a construção da Cidade Universitária teve início no primeiro semestre de 1966 (após a aprovação do Plano Diretor).

Em 1970 foram concluídas as obras dos Institutos de Física, Química, Geo-Ciências e de Filosofia e Ciências Humanas. Alguns cursos já estavam em funcionamento nestas novas instalações desde 2 de agosto de 1970. Em 1971 entraram em funcionamento o Instituto de Matemática e o de Letras e Artes. O último dos Institutos Centrais a ficar pronto foi o de Ciências Biológicas. Como ocupava a antiga Faculdade de Medicina no Prado, não houve pressa para sua construção.

Quando A.C. Simões deixou a Reitoria, em outubro de 1971, o Hospital Universitário, das grandes obras planejadas, era a única inconclusa. Entrou parcialmente em funcionamento no ano de 1973.

Em 1972, o reitor Nabuco Lopes conseguiu, em 16 de julho, que a Ufal e o Ministério da Educação e Cultura celebrassem um contrato de comodato com o Ministério da Marinha para utilização do prédio da antiga Escola de Aprendizes Marinheiros, no Pontal da Barra, onde instalou o Campus Tamandaré, inaugurado oficialmente no dia 31 de março de 1973 com os cursos da área de Humanas.

Novos cursos

Em 1972, por solicitação da Arquidiocese, o curso de Serviço Social foi incorporado à Ufal, mas foi a partir de 1973 que a universidade ampliou consideravelmente a sua oferta para o ensino superior.

Nesse período surgiram os cursos de Agronomia, Arquitetura, Enfermagem, Tecnólogo Mecânico, Tecnólogo Industrial de Açúcar-de-Cana, Licenciatura em Física, Matemática, Química, Biologia e Educação Física.

Corpo docente do CCBi em 1975

Corpo docente do CCBi em 1975

Havia ainda a Licenciatura Curta em Pedagogia e os cursos de Tecnólogos em Bovinocultura e Saneamento Ambiental.

Em 1975, a Ufal ganhou o Centro de Ciências Agrárias (CECA), instalado em uma fazenda no município de Viçosa.

Após a instalação da Salgema, em 1977, o funcionamento do Campus Tamandaré passou a depender da adoção de várias condições de segurança exigidas pelos órgãos públicos. O reitor Manoel Ramalho optou por deslocar todos os cursos da área de Humanas, a então Área III, para o Campus A. C. Simões. Essa mudança afetou o funcionamento da Cidade Universitária, forçando a construção de novos prédios.

Estudantes fazem assembleia na rua durante a greve de Engenharia em 1979

Estudantes fazem assembleia na rua durante a greve de Engenharia em 1979

Foi também neste período que o movimento estudantil voltou a se organizar com mais autonomia, passando a enfrentar abertamente o autoritarismo da Ditadura Militar, mesmo ainda estando viva na memória de todos a repressão de 1973, quando houve sequestros e torturas de várias lideranças estudantis da Ufal.

São reconstruídos vários Centros Acadêmicos e o DCE escapa do controle da Reitoria.

No final dos anos da década de 1970, a Ufal viveu um intenso debate sobre a democratização da instituição. As greves estavão de volta com estudantes, professores e servidores lutando por melhores condições de ensino e trabalho. Ao mesmo tempo, várias ações aproximaram a comunidade universitária da sociedade.

Pode-se considerar que em 1980, com três décadas de existência, a Ufal estava encerrando o ciclo inicial da sua história, deixando de ser uma federação de faculdades para se consolidar como instituição madura e responsável por avanços inquestionáveis no ensino superior e na pesquisa em Alagoas.

Fonte: Memória, Discursos, Artigos e Rimas, de A.C. Simões, 1988; Universidade Federal de Alagoas, o livro dos 50 anos, org. de Elcio Verçoza e Simone Cavalcante, 2011; Revista Scientia ad Sapientiam, junho de 1981; Site da Universidade Federal de Alagoas.

10 Comments on Criação da Ufal: uma conquista de muitos

  1. Delma Conceição de Lima // 20 de outubro de 2015 em 00:15 //

    Que maravilha a história da criação da UFAL. E como sempre a igreja católica saindo na frente nos avanços acadêmicos.

  2. Alexander Ferreira // 20 de outubro de 2015 em 16:35 //

    Superinteressante. Essa memoria deve ser preservada na divulgação de todos os fatos e circunstâncias que nós herdeiros desse legado institucional nos obrigamos a manter a chama do conhecimento e pensamento acesssa como parâmetro das futuras gerações e de um mundo melhor livres dos conceitos e ideologias que nada somam, somente subtrai para a humanidade.

  3. Excelente texto
    #SouUFAL

  4. Maria Elza // 7 de março de 2016 em 18:47 //

    Que bom conhecer a história da nossa Universidade, melhor ainda é poder ver o crescimento cada vez mais, quando conclui Pedagogia à distância em 2006 nem imaginava que hoje teríamos um Polo aqui no Sertão e hoje nossos filhos tem o privilégio em estudar em uma Universidade Federal sem sair de casa. Muito orgulho.

  5. André Soares // 28 de junho de 2016 em 11:37 //

    Uma humilde correção, a Diocese de Alagoas, foi criada em 2 de julho de 1900, 1902 é o Seminário.

  6. Sônia Maria de Souza loureiro // 7 de julho de 2016 em 20:27 //

    Fui aluna da turma de Tecnólogo em bovinocultura no período de 1975 a 1977.
    Preciso de um documento que comprove que sou tecnologia em bovinocultura. Como devo proceder para pegar meu diploma ou uma declaração . Obrigada!

  7. Preciso encontrar um reitor ou vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas com sobrenome Macário

  8. José Victor César Batista de Oliveira // 8 de abril de 2019 em 11:40 //

    Bom dia !

    Onde encontro esta fonte – O clínico ?
    Desconheço o lugar, fiz umas pesquisas mas não obtive resultados.

  9. Ticianeli // 8 de abril de 2019 em 17:59 //

    Quem estes exemplares é o Dr. Luiz Nogueira.

  10. Edson Loureiro // 31 de julho de 2019 em 11:24 //

    O CECA/UFAL/Viçosa, foi instalado numa fazenda (São Luís) que pertenceu a meu avô paterno Ernesto Arnaldo Soares de Albuquerque, pai de Macário Loureiro de Albuquerque, Luís Loureiro de Albuquerque, Nelson Loureiro de Albuquerque, Conceição, Nice, Cosete e José Loureiro de Albuquerque, minha avó se chama Lídia Loureiro de Albuquerque.

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