Costa Rego, o jornalista que governou Alagoas

Presidente Washington Luiz, em visita a Alagoas, é recebido pelo governador Costa Rego
Pedro da Costa Rego nasceu no Pilar

Pedro da Costa Rego nasceu no Pilar

Pedro da Costa Rego nasceu no Pilar em 12 de março de 1889. Era filho de Pedro Costa Rego e de Rosa de Oliveira da Costa Rego. Seu pai era negociante e empregado público municipal e sua mãe uma mulher retraída e católica praticante.

Aprendeu as primeiras letras e cursou o primário com sua tia, Ana Oliveira e Silva, que era proprietária de uma escola particular. Em Maceió, frequentou o Liceu Alagoano até a morte do pai em 1897.

Logo em seguida, em 1899, também perdeu mãe. Aos 11 anos de idade e com cinco irmãos — Rosalvo, Rosina, Rosália, Rosana e Rosalba — Costa Rego foi acolhido por seis meses na casa da tia Ana Oliveira e Silva.

Após esse curto período em Maceió, Costa Rego e seu irmão Rosalvo foram morar no Rio de Janeiro, na casa do tio e jornalista Antônio José de Oliveira e Silva, que era redator da Gazeta de Notícias. Em Maceió, Ana Oliveira e Silva ficou com a guarda de suas irmãs.

Partiram de Maceió em junho de 1900.

Quando homenageou no Correio da Manhã o primo Rodolfo Motta Lima em 10 de março de 1948, dois dias após a sua morte, Costa Rego recordou do dia de sua partida de Maceió ainda criança:

“Há quarenta e oito anos, quando em uma tarde fria de junho, meu irmão Rosalvo e eu vinhamos para o Rio, a começar os encargos de nossa vida, havia, presentes no nosso bota-fora, no embarcadouro de Maceió, dois garotos cuja atitude me ficou sempre gravada na retina: um mais velho que nós ambos, já taludo, era Carlos Pontes, a cabeça ligeiramente inclinada, como se meditasse na sorte vária dos meninos pobres: o outro, a boca aberta em pranto, mais moço que eu, era o nosso primo Rodolfo Morra Lima”.

Após sete anos de estudos no Mosteiro de São Bento, Costa Rego concluiu o curso ginasial em 1906. Seu irmão Rosalvo seguiu a carreira religiosa e foi ordenando padre no Colégio Pio Latino Americano, em Roma, realizando a previsão da avó materna, Francisca Bellarmina de Viveiros e Silva.

O Jornalismo

Governador Costa Rego e o presidente Washington Luiz

Governador Costa Rego e o presidente Washington Luiz

Contando com a ajuda do tio, Costa Rego começou a trabalhar no jornalismo. Cumpria uma tradição da família que já tinha na profissão os tios Pedro Amâncio da Costa Rego e Oliveira e Silva, os primos Zadir Índio, Otávio Brandão, Luiz Viveiros Costa (Lucas Viveiros), Rodolpho, Paulo e Pedro Motta Lima.

Costa Rego fundou a Revista Ventas, onde também escrevia. Trabalhou no jornal O Século, de Brício Filho. Em abril de 1906, aos 17 anos de idade, foi admitido no jornal Correio da Manhã como auxiliar de revisor.

“Alcancei dessa maneira um modesto posto no jornal. Eu tinha a profissão que as circunstâncias me escolhiam, pois estava crescendo entre originais e provas de tipografia, bem como – quando ainda não havia para os rapazes o futebol e a praia – na meia sombra da biblioteca do meu tio, lendo Taine e Brunetiére”, deixou registrado Costa Rego.

No Correio da Manhã, além de auxiliar de revisor, foi revisor, repórter-policial, auxiliar de Redação, cronista parlamentar e redator-chefe. Com o pseudônimo de Bárbaro Heliodoro, passou a escrever a coluna Para ler no bonde. Tempos depois escrevia Traços da semana e posteriormente passou para os editoriais, crônicas e artigos assinados. O reconhecimento dos leitores o colocou entre os principais jornalistas do país.

Por um curto período, Costa Rego se afastou do Correio da Manhã, para fundar A Lanterna. O empreendimento jornalístico não deu certo. Afastou-se somente mais uma vez, quando assumiu o governo de Alagoas.

Redator-chefe

Escrevia com igual competência sobre vários assuntos: Economia, política exterior, História, Literatura e Arte, Agricultura, mas também tratava com o mesmo cuidado temas mais triviais. Essa experiência profissional e a dedicação aos estudos possibilitou que tenha se tornado o primeiro professor de Jornalismo no Brasil na hoje extinta Universidade do Distrito Federal. Isso sem nunca ter estudado nenhum curso superior.

Costa Rego se considerava um discípulo de Gil Vidal (Pedro Leão Veloso Filho), redator-chefe do Correio da Manhã, a quem começou a auxiliar aos 20 anos. Com a morte de Gil Vidal, Costa Rego passou a ocupar a função de redator-chefe a partir de 18 de setembro de 1934. Posição que manteve até a sua morte no dia 6 de julho de 1954.

O escritor

Pedro da Costa Rego, sua filha Rosinha, o marido dela, Dr. Sylvio Caldas e seus filhos Fernando e Nilson. Foto de 1935

Pedro da Costa Rego, sua filha Rosinha, o marido dela, Dr. Sylvio Caldas e seus filhos Fernando e Nilson. Foto de 1935

Era dono de um estilo quase literário, que não o impedia de escrever para os jornais com clareza e objetividade. Seu texto era reconhecido e aclamado por todos.

Publicou seu primeiro livro em 1928. Na Terra Natal reunia diversos discursos e algumas mensagens enviadas ao Poder Legislativo de Alagoas, do período em que governou o Estado. Em 1944 foi a vez de Economia mal dirigida, uma coletânea de artigos reunidas por amigos em um livro.

Em 1952 chegou às prateleiras das livrarias Águas passadas, um livro organizado por Aurélio Buarque de Holanda com o objetivo eleitoral de preparar Costa Rego para as eleições da Academia Brasileira de Letras. Costa Rego morreu sem conquistar a imortalidade acadêmica.

Atividade política

Costa Rego chegou à política navegando a onda das “Salvações” iniciadas pelo marechal Hermes da Fonseca na presidência da República. O objetivo era o de enfraquecer politicamente oligarquias que insistiam em permanecer no poder durante a Primeira República.

Essa política em Alagoas conduziu o cel. Clodoaldo da Fonseca ao poder, após expulsar Euclides Malta. Clodoaldo era primo e cunhado do presidente da República e tinha sido Chefe do seu Gabinete Militar.

Costa Rego, então com 23 anos, teve participação decisiva na campanha contra Euclides Malta, destacando-se por seus escritos nos jornais cariocas, sendo considerado como um dos colaboradores mais eficientes do projeto político/eleitoral liderado por Clodoaldo da Fonseca e Fernandes Lima.

Fruto desse envolvimento, quando Clodoaldo se elegeu governador, Costa Rego foi nomeado, por decreto publicado em 7 de julho de 1912, secretário da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria, Comércio e Obras Públicas, órgão criado pelo mesmo Decreto que o nomeou.

Assumiu em 19 de julho, mas seu temperamento forte e princípios políticos não o deixaram no cargo por muito tempo. Se desentendeu com o governador por não concordar com o apoio defendido por Clodoaldo à candidatura de Pinheiro Machado à presidência  da República. O senador gaúcho era seu inimigo no Rio de Janeiro.

Além disso, como havia assumido interinamente também a Secretaria do Interior (Segurança) e a orientação recebida era para perseguir adversários e facilitar a vida para os correligionários, pediu exoneração do cargo em 20 de setembro e voltou a trabalhar no Correio da Manhã, mas não se afastou da política.

Com o apoio de Clodoaldo da Fonseca, que não guardou mágoa do seu afastamento, foi eleito deputado federal em Alagoas pelo Partido Democrata nas eleições de 30 de janeiro de 1915.

Em sua primeira legislatura na Câmara Federal foi eleito segundo secretário da Mesa. Chegou à primeira secretaria da casa e foi reeleito deputado federal por quatro períodos: 1915-1917, 1918-1920, 1921-1923 e de 19-10-1928 a 31-12-1928.

Renunciou ao cargo em 1929 após ter sido eleito senador para a vaga deixada por Batista Acioly. Foi reeleito senador ainda por mais duas legislaturas. Nas duas perdeu os mandatos: em uma por força da Revolução de 1930 e na outra pelo golpe de 1937.

Governador de Alagoas

Governador Costa Rego recebe na Ponte de Jaraguá tropas alagoanas que voltavam de São Paulo em 1924

Quando exercia o mandato de deputado federal, foi indicado pelo governador Fernandes Lima para sucedê-lo no governo de Alagoas. Costa Rego comandou o poder executivo alagoano no período de 1924 a 1928. Seu vice-governador foi Luiz Vieira de Siqueira Torres.

Alagoas vivia um período em que as desavenças políticas eram resolvidas na espingarda, o “jogo” era livre e acobertado pelas autoridades, além disso, Lampião e seu bando amedrontavam a população nordestina.

Mesmo encontrando o Estado mergulhado em dívidas, Costa Rego não titubeou e resolveu enfrentar Lampião e seu bando, além de exterminar a praga de mosquitos que tomava conta de Maceió. Mas o seu principal feito foi enfraquecer o prestígio dos coronéis que mandavam na política. Acabou com a jogatina e meteu muitos criminosos na cadeia.

No início do seu governo, para derrotar o movimento sedicioso de 1924 em São Paulo, Costa Rego mobilizou um contingente militar para enfrentar qualquer necessidade de combate. Para tanto, organizou uma força suplementar de mil homens, que foi incorporada à Polícia Militar.

Aproveitou a situação emergencial para reorganizar a Polícia Militar adotando o sistema do Exército. Ampliou a Guarda Civil e introduziu benefícios na corporação. Com estas forças na mão, perseguiu o banditismo com rigor, atingindo adversários e correligionários.

Tentativa de assassinato

Enterro de Costa Rego em 1954 no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro

Enterro de Costa Rego em 1954 no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro

Sua postura rigorosa e independente terminou por levá-lo a um desentendimento com o correligionário e ex-governador Fernandes Lima, que tinha sido padrinho da sua candidatura ao governo do Estado.

O conflito se deu com os filhos de Fernandes Lima, principalmente José Fernandes de Barros Lima Filho, que era deputado estadual e vice-prefeito de Maceió. Ele foi acusado de ter desviado verba estadual destinada à construção do Asilo Santa Olímpia, em Camaragibe.

O deputado não aceitou as acusações e tramou o assassinato de Costa Rego. O plano foi montado com Jonas Feitosa da Cunha Lima, que contratou o guarda-civil Felismino Hugo Jatobá para executar o crime.

Na noite do dia 15 de dezembro de 1926, Felismino Jatobá pulou o muro da casa número 290 da Rua Silvério Jorge e se posicionou junto ao muro, apontando um rifle para Costa Rego.

O governador estava em companhia de Adalberto Marroquim, Diretor de Instrução Pública do Estado, com quem discutia os exames do Lyceu Alagoano.

Na casa vizinha, onde morava o médico Ezechias da Rocha, um casal de gansos, notando a presença do estranho, começou a grasnar. O pistoleiro, preocupado com o alarme dado pelas aves, desistiu do plano e tentou fugir, mas foi preso e condenado a 23 anos e 4 meses de prisão.

O outro envolvido, Jonas Feitosa da Cunha Lima, que estava escondido na casa do senador Fernandes Lima, cometeu o suicídio.

José Fernandes de Barros Lima Filho foi acusado de ser o mandante, mas como era deputado estadual foi protegido por suas imunidades até abril de 1927, quando fugiu para o Rio de Janeiro. Nunca pagou por esta tentativa de assassinato.

Morte

Costa Rego foi casado durante 16 anos com Alzira das Neves Ferreira Lopes (Dadi) (4 de agosto de 1891 e 21 de maio de 1986, natural do Rio de Janeiro), que com a união passou a se chamar Alzira Lopes da Costa Rego. Quando se separaram, em 1923, não houve desdobramentos judiciais.

Dessa relação nasceram as filhas: Rosa da Costa Rego, Alzira da Costa Rego, Fernanda da Costa Rego e Maria de Lourdes da Costa Rego, esta solteira e única sobrevivente das filhas. Dois outros filhos, Pedro e Rosalvo, tiveram poucos meses de vida.

Pedro da Costa Rego faleceu às 9h30 do dia 6 de julho de 1954, no Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, vítima de câncer no baço, tendo sido sepultado no dia seguinte no Cemitério de São João Batista.

Fontes: Pesquisa de Antonio Sapucaia para o Fascículo Memória Cultural de Alagoas de 7 de abril de 2000, encarte da Gazeta de Alagoas e uma produção da Telemar, e jornais da época.

2 Comments on Costa Rego, o jornalista que governou Alagoas

  1. Carlos Alberto de Magalhaes // 14 de junho de 2023 em 13:25 //

    Maravilha saber de meus antepassados… muito bom

  2. Elionado M Rego // 29 de janeiro de 2024 em 20:05 //

    Bonita a história de um grande político de Alagoas.

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