Carnaval do passado

Blocos Tudo ou Nada, Vulcão e Sai da Frente nos anos 60 em Maceió

Bráulio Leite Júnior

Quem nasceu de 1940 em diante não pode ter uma ideia do que foi o carnaval de outrora, em Maceió. Outro dia comentarista da imprensa do Recife afirmava, impávido, que “o corso tinha sido usado largamente nos carnavais pernambucanos, sendo um fato tipicamente local, ignorado pelas demais cidades nordestinas”, isto indicando desconhecimento total da história dos nossos carnavais.

Corso no início da Rua do Sol em Maceió

Pena que somente agora se esteja formando uma consciência preservativa dos acontecimentos de outras idades, através da fixação do som e da imagem. Não existia, no passado, essa preocupação. As fotografias são raras e muitas delas foram simplesmente destruídas, enquanto outras se encontram em poder de particulares que lhes não dão valor.

Fazer o corso, uma expressão italiana, na significação de percorrer uma avenida, já foi a expressão alta do nosso carnaval. Era a época dos carros importados cujas capotas de pano se dobravam na traseira, permitindo o desfile de grupos ou famílias inteiras em carros abertos.

Troça em 1953 na Rua do Comércio, com Neco Vital e Natalícia de “Sansão e Dalila”

Apareciam também carros e conjuntos menos luxuosos, exibindo-se em caminhões pintados ou ornamentados de todo jeito. Muitas famílias primavam pela uniformidade dos figurinos: conjuntos de palhaços, tiroleses, roupagens antigas de outros séculos até, ou mesmo fantasias que obedeciam apenas aos ditames de pura imaginação criativa.

Como o corso era em geral um espetáculo noturno, ficamos naturalmente sem o testemunho fotográfico da época. Talvez uma ou outra família ainda possua em seus arquivos, fotos isoladas do grupo fantasiado em carro aberto e batidas como recordação, durante o dia, já que fotos a magnésio eram difíceis.

O corso começava a declinar após as dez horas, porque então começava a retirada gradual das famílias mais importantes que se recolhiam para enfrentar os grandes bailes em clubes privados, aos quais não se tinha o acesso fácil de agora.

A foto de hoje deve remontar à década de 40, infelizmente, não precisamente identificadas pelo doador. O antigo tabuleiro da baiana, com o seu relógio marcando meio-dia e vinte, havia substituído o anterior Relógio Oficial, de pesado perfil. Trata-se de um dia de carnaval em hora de almoço.

A ornamentação é pobre, figuras coloridas, algumas flâmulas e prolongando as calçadas singelo fio de galhardetes. Está armado um estrado não muito elevado, com proteção lateral para a orquestra, à noite.

Palanque para o carnaval de Maceió no Tabuleiro da Baiana

Note-se o uso do paletó e chapéu, mesmo em época descontraída. As lojas estão fechadas — é hora do almoço. No sobrado à esquerda funcionou em outras épocas mais recuadas o Clube de Regatas Brasil. Imagine-se ali o calor dos bailes de outrora.

O movimento de carros é nenhum; apenas um bonde da Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil — C.F.L.N.B. cuja estação ficava na praça Sinimbu, procedente de Jaraguá, Pajuçara ou Ponta da Terra, vai passando pelo outro lado, em direção à praça dos Martírios.

O que vemos é um carnaval em expectativa; tudo está pronto para logo mais à noite. Eram os anos da conflagração mundial; e o carnaval começava a declinar.

* Publicado originalmente no livro “Outras Histórias de Maceió”, em 2004.

1 Comentário on Carnaval do passado

  1. Marilurdes Gomes de Menezes // 3 de fevereiro de 2018 em 03:30 //

    Excelente este documentário sobre o Carnaval de Maceió. E muito orgulho sou sobrinha do casal Neco Vital e Natalícia Menezes Vital , irmã mais nova de meu falecido pai Hugo Costa de Menezes que também gostava muito de Carnaval chegando até formar uma troça onde ele era o noivo. Tenho 78 anos e quando criança papai nos levava para a rua do comércio em frente ao Relógio Oficial na porta do Bar Colombo para assistirmos o Corso e ver nossos Tios desfilando em carro aberto e depois caíam no frevo amarrados com uma corda pra não se perderem junto com o povo. Eles se fantasiaram em outro ano de Cleópatra e Marco Antônio e vários outros personagens da História Antiga em outros carnavais. Eram verdadeiros Foliões… E depois do Corso ainda íam para o Clube Fênix Alagoano, o Clube Aliados ( na rua do Livramento esquina com a Rua da Alegria, hoje Agerson Dantas na parte superior, onde no térreo funcionava a firma Brêda & Irmãos ), Iate Cube Pajussara como convidados de destaque pela linda alegoria.
    Lembro- me também do bloco Bota Fora que saía aquí da residência do Major Olímpio na praça do Pirulito.

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