Carnaval de Maceió na primeira década do século XX

Carnaval de 1906 em Maceió. Foto de Luiz Lavenère

Este foi um período marcado por modificações importantes no carnaval da capital alagoana, a exemplo da sua centralização na Praça dos Martírios e do surgimento do debate sobre presença essencial dos cordões populares numa festa em que predominavam os desfiles dos clubes.

Bonecos gigantes nos antigos carnavais de Maceió

Em Maceió, três destes clubes se destacavam nas nossas festas momescas. O maior e mais antigo era o Clube Fênix Alagoana, então denominado Sociedade Carnavalesca Phenix Alagoana. Fundado em 7 de setembro de 1886, sua sede era na Rua da Igreja, atual Barão de Jaraguá, em Jaraguá. Era considerado o clube da elite econômica de Alagoas.

O Clube Fênix, além de realizar seus tradicionais bailes, promovia até então o maior evento carnavalesco de rua da capital, o desfile de Zé Pereira, que na primeira década acontecia nas noites de sábado e, excepcionalmente em alguns anos, na tarde do domingo de carnaval.

Além da mudança do dia, em 1900 o desfile do Clube Fênix também inovou ao percorrer as “principais ruas da capital, e não como nos anos anteriores nos carros [bondes] da Trilhos Urbanos”, registrou um jornal da época.

Fênix é uma referência a ave mitológica que vivia 300 anos e depois se deixava arder em um braseiro para, em seguida, renascer das próprias cinzas.

Outro grande clube de Maceió neste período foi a Sociedade Familiar Terpsícore Jaraguaense, fundada em 1895, com sede em Jaraguá. Seu nome é uma homenagem a uma das nove musas da mitologia grega e significa a que se deleita na dança. Era a musa da dança e mãe das sereias. Vários clubes no Brasil e no mundo utilizavam esta denominação.

Carnaval de Maceió em 1905 na rua Barão de Jaraguá, antiga sede da Fênix Alagoana

O Clube Familiar Heliotropia Jaraguaense foi outra destacada agremiação a promover bailes de carnaval na capital. Fundado em 7 de setembro de, provavelmente, 1894, tinha sede na Rua do Livramento, mas começou na Rua da Igreja nº 12, atual Rua Barão de Jaraguá. Heliotropia é a propriedade que tem certas plantas de mudar de orientação em resposta à luz solar, a exemplo do girassol.

Inúmeras troças e cordões, que também eram chamados de clubes, estiveram nas ruas de Maceió nesta década. Alguns destes permaneceram por muito tempo participando das nossos folias. Outros tiveram vida efêmera, alguns por apenas um carnaval. Uma pesquisa nos jornais Orbe, Gutenberg e Evolucionista encontrou a citação das seguintes agremiações:

Vassourinhas, Morcegos, Fidalgos do Deus Momo, Estragados, Garças Brancas, Palhaços, Lacradores, Deusas do Oceano, Caiporas, Tic-Tac, Flor do Brasil, Cadavéricos, Pedintes, Amantes da Folia, Linguarudos, Prazeres da Vida, Borboletas, Ostras, Marujos do Ocidente, Veteranos, Costa Rica, Bahianas, Infantil, Flor da Mocidade, Chimarras, Salabatana, Prazer e Canção, Amantes do Porongo, Filhos das Ciganas, Sigamos Netos, Arcanjos, Hebe Olímpica, Girafas, Descarados, Borboletas, Destemidos, Estragados, João Minhoca, Trocistas, Caipiras, Jaraguaense, Gandoleiros Trovadores, Caboclinhas, Bahianinhas, Diamantinos, Preguiçosos, Antigos, Alagoano, Lavradores, Samba dos Matutos, Filhos da Costa Rica, Ciscadores, Porongos, Petronios da Atualidade, Cambinda do Porto, Azucrim, Matutos, Panelas, Paganinis Alagoanos, Jardineiras, Chez Noir, Ideal, Vagabundos, Operários Jacutinguenses, Africanas e Cartomantes.

Do Alto do Farol desciam ainda os Maruins, Parafusos, Ciganas do Egito e Caboclinhos. Na Levada, os mais conhecidos eram Morcegos, Pançudinhos e Veteranos. Da Rua General Hermes, na Cambona, vinham as Camélias e Japoneses. O Clube dos Feras tinha sede na Rua Voluntários da Pátria e os Filhos da Montanha eram do bairro do Poço. Em 1907 surgiram o Cara Dura e, em Jaraguá, os Grevistas.

Anúncios

Anúncio publicado no jornal Gutenberg de 22 de janeiro de 1909

O carnaval de 1900, que aconteceu entre 24 e 27 de fevereiro, foi lembrado já no dia 1º de janeiro por um anúncio no jornal Orbe, oferecendo “variadíssimos sortimentos de confetes, mascaras, bisnagas, serpentinas, etc.”. A publicidade era da Casa Vermelha situada no nº 45 da Rua 1º de Março, atual Av. Moreira Lima.

Um comentário no Gutenberg de 2 de março de 1905 revela que o lança-perfume, que havia surgido no ano anterior no carnaval carioca, havia chegado a Maceió: “O Alberto Pessoa ofereceu ao redator desta seção um pulverizador de essência finíssima para as lides do entrudo, e que ele vende ali na sua caverna carnavalesca quase que por um dez réis de mel coado…”.

No dia seguinte, o Evolucionista publicou anúncio de caráter internacionalista da Livraria Fonseca: “Lenços finos japoneses com ornamentação estilo chinês coloridos com as cores da bandeira russa, simbolizando a fraternidade universal de todas as raças”.

Para o carnaval de 1908, que ocorreu entre 29 de fevereiro e 3 de março, José Cardoso não perdeu tempo e apresentou seus produtos no primeiro dia do ano. Era um anúncio na terceira página do Gutenberg: “Grande sucesso e alta novidade em fantasia para teatro, baile e o carnaval e confetes de cores e dourados, bisnagas rodó bombas, foguetes, fogos de bengalas, salvas, balões a giorno para iluminação, bandeiras, encontra-se na AVENIDA CENTRAL de José Cardoso. Boa Vista nº 87”.

Além destas publicidades, nos colunas reservadas para o carnaval existiam muitas notinhas divulgando as lojas de Maceió e suas mercadorias.

Religião

“Padre” em uma troça no Banho de Mar à Fantasia

A secular polêmica entre o carnaval e o cristianismo continuava viva no início do século XX. As igrejas cobravam das autoridades a proibição das fantasias religiosas e tudo que podia atentar contra o que elas entendiam como moral e costumes vigentes.

Um dos jornais católicos de Maceió, A Fé Cristã, fazia campanha aberta e cerrada contra o carnaval. Em 19 de março de 1904, reproduziu uma nota escrita em Batatais, São Paulo, com claro teor anti-carnavalesco: “No último dia de carnaval, um indivíduo mascarado com hábitos sacerdotais e o cabelo cortado conforme é uso da Ordem Dominicana, saiu pelas ruas munido de um urinol e uma pequena vassoura, aspergindo a torto e a direito a água que continha aquele vaso, Daí a 24 horas já era cadáver em consequência de uma congestão cerebral, tendo todo o crânio se tornado negro e teve de ser cortado a serrote pelos srs. Médicos, justamente onde ele tencionava imitar os frades dominicanos. Este fato causou sensação e grande parte dos católicos o tomaram por um grande castigo”.

No ano seguinte, a Fé Cristã de 4 de março de 1905 continuava a expor suas preocupações com algumas características do nosso carnaval: “CARNAVAL NO PILAR – O comissário de polícia dessa cidade publicou ultimamente n’O Athleta um edital proibindo energicamente as críticas ofensivas, no próximo carnaval, sob pena de serem imediatamente desmascarados os seus autores e dissolvido o grupo; assim como proíbe expressamente, sob pena de prisão, andarem mascarados depois de 8 horas da noite. Boa providência”.

Em 8 de abril, o mesmo periódico trazia notícias do carnaval paulista: “Em São Paulo, por ocasião do carnaval, 2 italianos fantasiaram-se de padre e coroinha: o padre levava uma cruz, e enquanto resmungava macarrônico latim, o coroinha agitava uma campainha. Vendo, entretanto, a polícia o desaforo dos italianos, trancafiou-os no xadrez, onde foram obrigados a despir-se de seus trajes, levando boas pranchadas pelo lombo”.

No dia seguinte ao carnaval de 1905, o Evolucionista publicou texto assinado por alguém que se identificava pelas iniciais J. A. anunciando a quaresma: “Após os perigosos festejos do tão preconizado carnaval, essa fonte de dissipação e época de loucuras sem nome, em que debaixo de trajes simbólicos e duma bela máscara oculta-se uma alma eivada de crimes e a sedução personificada num ente ávido de sensualidade, levando talvez ao seio da família a desonra e a miséria, eis que chega para os fiéis do orbe católico a santa Quaresma”.

Censura, cavalos e outros

Bloco Ferrugem de Fernão Velho e o tradicional mela-mela dos antigos entrudos

O carnaval de Maceió na década de 1910, a exemplo do que ocorria em outras capitais, guardava ainda a cultura do entrudo e o tradicional uso de máscaras, criticadas principalmente quando utilizadas para manter no anonimato possíveis criminosos ou por fazer a crítica de costumes. Essa avaliação dos governantes terminou por levar à proibição do seu uso, dos mela-melas e das troças com críticas às autoridades, provocando a insatisfação de muita gente.

O Orbe, por exemplo, ao avaliar o carnaval de 1900, considerou-o muito desanimado a exemplo dos anos anteriores, “pois foi pouco o número de máscaras que percorreu as ruas da cidade. Era de se esperar um Carnaval bom, pois havia abundância de assunto para o folião espirituoso sair-se bem em sua tarefa carnavalesca, mas o edital da polícia veio tirar a verve, a graça, a pilhéria, proibindo que a população passasse sem um sorriso a estalar nos lábios”.

A proibição das máscaras foi tão criticada que o jornal chegou a afirmar que os clubes sem máscaras faziam “do carnaval a festa do Natal”.

No carnaval de 1905, as fortes chuvas que desabaram sobre Maceió na segunda e terça-feira atrapalharam a festa, mas Dudu Peralta, pseudônimo de alguém que temia o governo de então, identificou como razão para o carnaval desanimado “a falta absoluta de liberdade que sofremos”, acusando a “inquisitorial censura da polícia”.

Em 1908, uma nota do Gutenberg criticava o uso de lança-perfumes, serpentinas e farinha de trigo nas ruas, avaliando que o entrudo havia sido restaurado, indicando que as proibições não conseguiram impedir o tradicional mela-mela popular.

Da esquerda para a direita, Jessie Lavenère, Edith Lavenère e Ruth Guimarães do Clube das Japonesas no carnaval de 1910. O Malho. Foto de L. Lavenère

Por outro lado, os jornais elogiavam quando a mesma manifestação acontecia nas principais ruas da cidade e dela participavam outros segmentos sociais, como foi registrado o que aconteceu em 1908, na tarde do domingo após as 16h, quando começaram os combates de bisnagas e confetes pelas ruas de Maceió, principalmente em frente ao Café Colombo, na Rua Boa Vista, Livramento, 1º de Março e 15 de Novembro. “Grupos de gentis senhoritas, vestidas à fantasia, percorriam as ruas da capital numa alacridade muito garrula, graciosamente, em animadas batalhas com os aguerridos foliões. Os brinquedos prolongaram-se até às 9 horas da noite, sem haver o menor incidente”.

No ano seguinte, o entrudo continuava a ser motivo de reclamações no mesmo jornal: “De todo os lados, em todas as ruas, faz-se às escancaras, o pernicioso jogo d’água sobre os transeuntes incautos. O comércio de seringas de folha e de borracha e dos limões de cheiro asqueroso desenvolve-se, sem que a autoridade embargue-lhe o passo”.

Outro problema dos carnavais da primeira a década era a presença de cavalos nos cortejos ou em desfiles individuais. Além disso eram programadas cavalhadas para o período, como a anunciada para acontecer em 1909, no domingo. Destacando que haviam chegados bons cavalos do Rio da Prata, uma nota no Gutenberg convidava a população a participar de “animadas cavalhadas na Rua Comendador Leão em Jaraguá”.

A presença nas ruas dos cavalos e seus cavaleiros durante o carnaval era tão expressiva que muitas denúncias eram levadas à polícia, expondo que estes faziam “das ruas mais frequentadas raias de prado de corrida de cavalos, com grande inconveniente e perigo para os transeuntes, principalmente para crianças e famílias”.

A nota que denunciou estes “maus hábitos” informava ainda que “ontem (20 de fevereiro de 1909) à tardinha numerosos cavaleiros faziam exibição de suas fogosas cavalgaduras pela Rua do Comércio, atropelando o trânsito!”. De nada adiantou a denúncia: durante o carnaval foram registrados vários acidentes.

Cordões e as raízes africanas no carnaval

Negras da Costa é uma dança-cortejo do carnaval de Alagoas

Em 1909 surge no Gutenberg a discussão sobre as mudanças que estavam ocorrendo no carnaval. O colunista argumentava que alguns diziam que a folia não era mais genuína e criticavam o surgimento de “bandos arregimentados de cordões no rigor da mesma toalete, de clubes da laia de pastoril e chegança, a berrar furiosamente e desordenadamente cantigas extravagantes, toadas ainda mais desconexas”.

Outros, ao contrário, se apossavam dos argumentos do jornalista João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, para quem o carnaval era o “último elo das religiões pagãs” e materializava-se nos cordões. “Cada um desses pretos ululantes, tem por sobre a belbutina e o reflexo discrômico das lantejoulas tradições milenares; cada mulata bêbeda desconjuntada nas tarlatanas amarfanhadas os quadris largos recordam o delírio das procissões em Byblos pela época da primavera e a fúria recebida dos bacantes”, sustentava o autor da série de reportagens As Religiões no Rio, em 1904, que analisava principalmente os cultos africanos.

O colunista do jornal alagoano se rende aos argumentos e proclama: “Diante disso a gente se sente contaminado de entusiasmo sugestivo e tem que concordar com o delicioso João do Rio em que os Clubes [cordões em Maceió] são os núcleos irredutíveis da Folia, brotam como um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e barbara da… rua!”.

E conclui: “E como não haverá em Maceió outro Carnaval que não o dos Clubes, nós, eu e os outros que aborrecemos os ranchos carnavalescos, estamos já a cantar-lhes o hino do Triunfo. Na vida vence o mais forte, e o mais forte do nosso Carnaval é o Clube [cordão]; portanto: Viva o Clube!”.

Carnaval centralizado

Palanque armado na Praça dos Martírios nos anos 60

As ruas centrais eram as mais frequentadas pelos foliões de Maceió, principalmente as que eram servidas pelos bondes da Trilhos Urbanas, considerando que durante muito tempo os grupos carnavalescos utilizavam este meio de transportes para percorrer a cidade.

As casas a serem visitadas também contribuíam para determinar o percurso de algumas agremiações. Outras publicavam nos jornais a relação das ruas que seriam percorridas.

O Clube dos Vassourinhas, por exemplo, em 1905 fez publicar a seguinte programação para as suas “visitas” de carnaval: “Dia 5 – Em Maceió, Redação centro da cidade. Dia 6 – Bairro de Jaraguá. Dia 7 – Bairro da Levada e Jacutinga”.

Para o sábado de Zé Pereira de 1908, o Bloco Alagoano, com sede na Rua do Livramento, organizou seu desfile com o seguinte itinerário “Sede, rua Livramento, rua Comércio, rua Palácio Antigo, rua Barão de Anadia, Libertadora Alagoana, Praça Euclides Malta (Desembarque do Deus Momo)”. O regresso se deu pelas seguintes artérias: “Rua Floriano Peixoto, rua Barão de Atalaia, (verduras), rua Palácio Velho, Comércio, Praça dos Martírios, Parte do Apolo, Alegria, sede”.

Mas nem todo o carnaval maceioense acontecia em salões ou em cordões pelas ruas. Alguns polos de carnaval foram criados por iniciativa de empresários. O mais importante deles foi o do Café Colombo.

Inaugurado em 1904, transformou-se na sede da Comissão Central organizadora do carnaval de Maceió e em frente ao seu prédio se erguia um coreto para apresentações musicais. Ficava na esquina da Rua do Comércio com o Beco São José e esse tablado recebeu em 1906, na tarde do domingo, a banda de música da Escola Aprendizes Marinheiros e na segunda-feira a banda da Polícia Militar.

Grupo carnavalesco com o Major Bonifácio, organizador de vários festejos em Bebedouro

Era ponto de encontro dos que brincavam e promoviam o carnaval em Maceió. Por lá andavam Luiz Vasconcelos, Inácio Calmon, Américo Passos, Torquato Cabral, Silva Costa, Joaquim Alvim, Duque de Amorim, Protásio Trigueiros, Rosalvo Ribeiro, Ranulpho Goulart, Bonifácio Silveira, Calheiros Gomes, Alfredo Wucherer e Misael Acioli.

Lá se constituiu, em 1906, a comissão organizadora do carnaval, formada por Alfredo Wulcherer, Américo Passos, Inácio Calmon, Bonifácio Silveira, Álvaro Flores, Duque de Amorim, Silva Costa e Arsênio Araújo, que planejou o carnaval e formou as comissões dos bairros de Jaraguá, Bebedouro, Poço, Levada e Jacutinga (Farol).

Também havia comissões encarregadas das decorações das ruas. A principal — Rua do Comércio — ficava sob o encargo da Comissão Central. As outras ruas decoradas eram as seguintes: 15 de Novembro (do Sol), Boa Vista, Alegria, Macena, Apolo, Livramento, Alecrim, Mercado, Praça do Palácio (Palmares) e Praça D. Pedro II.

Joaquim Alvim foi outro empresário e folião que também armou coreto na Rua do Comércio. Ficava em frente à porta de sua casa de apostas. Joaquim era mais conhecido como o Quincas do Bicho. José Cardoso, proprietário do bazar Avenida Central na Rua Boa Vista nº 87, também erguia coreto em frente a sua loja durante o carnaval.

Em 1909 surgiu a proposta de centralizar o carnaval na recém inaugurada Praça dos Martírios, construindo nela dois coretos. O Major Bonifácio foi um dos defensores da ideia que terminou por acontecer. Quem ornamentou a Praça foi Caetano Costa. As bandas do 33º BC e da Força Policial ficaram encarregadas da animação até meia-noite, “podendo as exmas. famílias mandarem cadeiras para a nova e elegante Praça”.

A Praça, inaugurada em 24 de dezembro de 1908, foi iluminada por energia elétrica. “Esteve feérica a experiência feita ontem (20/02) da iluminação elétrica, especial, da praça dos Martírios, para os três dias de Carnaval”, destacou o Gutenberg. A Praça dos Martírios foi assim o primeiro espaço urbano designado para centralizar o carnaval de Maceió.

Carros Alegóricos

Carros Alegóricos e troças na Av. da Paz no início do século XX. Foto de Luiz Lavenère

Eram atrações importantes dos nossos carnavais e exibiam o poder da sua agremiação.

O Clube dos Feras, em 1906, por exemplo, levou dois para o seu desfile. Bonifácio Silveira trouxe de Bebedouro diversos carros alegóricos, acompanhados por uma guarda de honra caetés. Um deles era o carro do “Gandoleiro do Amor”. Do Poço veio um carro representando o balão Santos Dumont, por iniciativa do dr. F. Calaça Júnior.

Em 1907, o Bloco Alagoano foi um dos destaques do carnaval organizando um grande desfile para a noite do sábado, com início na Rua do Livramento, tendo como atração um carro com uma réplica do avião de Santos Dumont.

No ano seguinte, o mesmo bloco preparou para o sábado de Zé Pereira um desfile com vários carros alegóricos distribuídos na seguinte ordem: “1 – Carro do estandarte. 2 – Guarda de honra. 3 – Música. 4 – Esquadra Branca. 5 – Deus Baco. 6 – Cem Contos. 7 – Deus Momo. 8 – Liga Marítima. 9 – Rainha da Moda. 10 – Pão de Ouro. 11 – Surpresa do Poço. 12 – Jardim da Infância”.

Carnaval, festa popular espontânea

Os Sevilhanos no carnaval de 1926 em Maceió. Revista Fon-Fon

Se os jornais criticaram os carnavais da primeira década do século passado, também registraram que a população sempre tinha uma expectativa muito positiva para estes festejos. Percebe-se ainda que as iniciativas para realizar os bailes ou cortejos sempre foram dos clubes e dos foliões, sem grandes articulações entre eles. Eram festas marcadas pela espontaneidade e muitos foliões improvisavam suas troças nos últimos momentos antes dos desfiles.

Um exemplo de como se brincava o carnaval naquela época era o grupo Prazer e Canção, que fazia passeios de bonde ou visitava as famílias cantando composições especialmente feitas para o carnaval. “Nas casas familiares, onde exibiam as suas canções ao toque de 12 violões, foi bastante aplaudido e considerado a nota do carnaval de 1900”.

O Clube Fênix era tratada nos jornais como glorioso por se conduzir na noite de sábado, “em triunfo pelas ruas de Maceió, por entre luzes e músicas, confetes e serpentinas, para gáudio de toda uma população adoradora do Momo”.

Burrinhas nos antigos carnavais de Maceió

Na noite da segunda-feira de carnaval em 1905, mesmo chovendo muito em Maceió, o jornal Gutenberg destacou que “no Maceioense houve um maxixe de se tirar o chapéu… e solamente”. Na terça-feira à noite, somente o Clube Fênix promoveu baile, sendo registrada a presença de 70 casais.

Após o carnaval de 1907, o Gutenberg avaliou que os eventos carnavalescos na capital “ocorreram animadíssimos nos dois últimos dias e sem incidentes nenhum a lamentar-se nos festejos carnavalescos. Por toda parte clubes ostentando lindos estandartes, cortejos bizarros, chuvas odorantes e combates multicolores de confetes formavam um encanto atraente, uma alegria comunicativa”.

Nas ruas do Comércio e Boa Vista, “inúmeros cavaleiros e vários carros, alegorias e críticas, uma inumerabilidade de mascaráveis sob as variadas formas que a fantasia sugere, tudo isso encantava, e homenageava a adorável divindade do riso e da pilhéria”.

Nos últimos anos da década, o carnaval em Maceió dava sinais de crescimento com o surgimento de novas opções para divertimento, como o ofertado pelo Teatro Polytheama, na Praça Euclides Malta (Sinimbu), que programou bailes para as noites de sábado, domingo e terça-feira de carnaval em 1908, com o objetivo de receber 400 pares nos bailes de máscaras com a animação da banda do 33º Batalhão de Caçadores.

Corso em Maceió na década de 1960

Outra novidade do carnaval de 1908 foi o surgimento do clube Paganinis Alagoanos, “bizarro nas sonoridades”. Tendo à frente Paurílio, utilizava violinos, violoncelos, rabeca, flautas, bandolins e violões, mobilizando a nata dos músicos alagoanos.

Nesse período, parte dos foliões maceioenses tinham o hábito, que perdura até hoje, de deixar Maceió para veranear. Como a cidade era pequena, permitia-se que durante à noite as famílias voltassem à capital para participar do carnaval. Isso está registrado em nota publicada no Gutenberg de 20 de fevereiro de 1909.

A publicação cobrava da empresa Trilhos Urbanos que prolongasse o horário de funcionamento dos bondes durante o carnaval até à meia-noite. Os argumentos utilizados terminam por revelar que “a melhor parte das festas carnavalescas” eram “sempre à noite”, e que durante esse período “ninguém ignora que grande parte da nossa sociedade ainda se acha veraneando nas praias e nos arrabaldes pitorescos…”.

Assim era o carnaval de Maceió na primeira década do século XX.

5 Comments on Carnaval de Maceió na primeira década do século XX

  1. Carlos Alexandre // 6 de janeiro de 2018 em 10:39 //

    Edberto, mais um show de post. Uma pesquisa concentrada na história e o resgaste literal das tradições nas festas de momo em Maceió.

  2. Parabéns ao nosso historiador e resgate de uma das maiores festas popular brasileira. No histórico senti falta das histórias dos blocos de rua no que diz respeito ao meu “Arrasta Velha ” sob o comando do saudoso Djalma do Trombone e seu filho José Augusto o inesquecível Zé Pastinha. Muita coisa para lembrar mas Ticianeli resgata muito bem o nosso movimento carnavalesco. Parabéns mais uma vez amigão.

  3. Maravilhoso viajar nessas histórias de um passado tão recente. É uma verdadeira viagem. Parabéns aos historiadores dessa página. Essas informações
    valem ouro. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏

  4. André José Soares Silva // 7 de fevereiro de 2018 em 16:11 //

    Viva a história do nosso povo alagoano! Parabéns Edberto.

  5. Boa noite estava pesquizando sobre blocos de carnavais e lembrei de um. Que ficava próximo a minha casa. O nome é sofocacim mais ou menos lá pelos anos 95. Vocês teria alguma história dele. Era na ponta grossa. Obrigada

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