Capela: a Conceição do Paraíba

Rua Pedro Paulino em Capela
Capela que deu origem ao município em foto de 1919

Capela que deu origem ao município em foto de 1919

A primeira referência histórica sobre o município é de meados do século XVIII, quando foi construída a capela em homenagem a Nossa Senhora da Conceição por iniciativa de Manoel Ferreira Dessa, considerado o fundador do lugar.

Era um pernambucano de Bom Conselho que instalou no lugar um engenho de rapadura. O local seria atualmente a Rua do Engenho Velho.

A capela foi erguida no centro da atual Rua Pedro Paulino, com a frente voltada para o lado sul da cidade. As primeiras moradias do local foram construídas no seu entorno.

Eram poucas. Em 1825, um recenseamento encontrou 39 habitações.

Em 1829, o povoado era sede de um distrito de Atalaia, sendo desmembrado deste e elevado à categoria de vila pelo Decreto nº 52, de julho de 1860, quando teve seu nome mudado para Paraíba.

Rua Pedro Paulino em 1921 com antiga Matriz ainda em construção.

Rua Pedro Paulino em 1921 com antiga Matriz ainda em construção.

Segundo o livro Geografia Alagoana, de Tomás Espíndola, em 1871 Capela era um dos povoados mais prósperos de Atalaia e tinha 370 habitantes distribuídos em 116 casas, além de duas escolas para as primeiras letras.

Em uma dessas escolas, no ano de 1881, lecionava o professor João Francisco da Rocha Rijo.

No dia 9 de outubro de 1887, um jornal da capital noticia que o padre Manoel Corrêa d’Araujo Mello, da povoação de Capela, dias antes havia concedido liberdade a sua escrava de nome Cypriana, dispensando também os serviços dos quatro filhos dela. O clero alagoano foi elogiado pelo Gutenberg.

Foi somente por força do Decreto nº 52, de 16 de outubro de 1890 (data comemorada), baixado pelo governador de Pedro Paulino, que Capela passou a município ao ser desmembrada de Atalaia e elevada à categoria de Vila com a denominação de Paraíba. Foi instalado em 30 de novembro de 1890.

Com a implantação do Ramal de Viçosa da Alagoas Railway, Capela passou a ter condições de escoar principalmente sua produção de açúcar por trens, permitindo maior desenvolvimento para a indústria e o comércio.

Esse ramal, que partia de Lourenço de Albuquerque em Rio Largo, foi inaugurado festivamente no dia 24 de dezembro de 1891 com a presença do governador Barão de Traipu na primeira viagem entre Maceió e Viçosa, passando por Atalaia, Capela e Cajueiro.

A estação de Euclides Malta na primeira década do século XX

Em 12 de maio de 1896, o Congresso Legislativo do Estado de Alagoas aprovou o Projeto nº 9 autorizando o Governo a despender seis contos de réis com a construção de uma cadeia na vila do Paraíba, aproveitando um edifício em construção do Estado. Passou a ser a Lei nº 128, de 29 de maio de 1896, após a sanção do governador, Barão de Traipu.

Até então, a cadeia funcionava num imóvel alugado a João Moreira da Silva Lima.

No final de março de 1896, o Barão de Traipu apresentou relatório sobre a situação da Instrução Pública em Alagoas. Por ele se sabe que no município de Paraíba (sede) eram professores Hermes Vieira Cavalcante e Minervina Zeferina Lina. No povoado Cajueiro a professora era Jovina Possidônia da Glória. Em Arrasto, Leonidia de Farias Ramos; Em Riachão, Maria do Carmo Gitahy Cunha; e em Gameleira, Francisca Hermínia de Barros.

Em 9 de julho de 1896, Cajueiro passou a ser distrito do município de Paraíba e Vivaldo de Araújo Lima foi nomeado seu subcomissário.

Um anúncio de venda publicado no jornal Gutenberg de 28 de janeiro de 1899 revela a existência do Engenho Belém “na villa do Parahyba, distante um kilometro para a estação da via férrea”. Era de propriedade de José Correia da Costa.

A sede do município foi transferida da povoação de Capela para a de Cajueiro com a denominação de Euclides Malta, irmão do governador. Essa alteração se deu por força da lei estadual nº 427, de 10 de junho de 1904, sancionada pelo governador Paulo Malta.

Em 9 de fevereiro de 1905, sabe-se pelo Gutenberg que houve uma reunião ordinária da Sociedade Literária e Recreativa Heliotropia no dia 29 de dezembro do ano anterior e que dela participaram Xavier Moreira, Francisco Guimarães, Wenceslau Junior, Venancio Rosendo, Simplício Olavo Pereira e Benjamim de Almeida.

A nota informa ainda a admissão e exclusão de vários sócios e que a sede social foi visitada 162 vezes por sócios em janeiro. Os não sócios foram 46. Foram, no total, 208 leitores.

A unidade da Guarda Nacional em Euclides Malta no ano de 1907 era 9ª Brigada de Infantaria sob o comando do coronel Manoel Corrêa da Costa.

Torquato Cabral

Manoel Torquato Cabral nasceu em Capela em 26 de fevereiro de 1879, onde aprendeu as primeiras letras. Era filho de Avelino de Araújo Cabral e Luiza de Godoy Cabral, uma família pobre da região.

Ainda muito jovem foi trabalhar na cidade do Pilar em um estabelecimento mercantil. Voltou a Capela para assumir a secretaria da municipalidade, onde permaneceu até fins de 1895.

Ainda em 1895, passou a trabalhar como guarda-livros no escritório da Casa José Alves Aguiar em Maceió.

No ano seguinte, em companhia de José Avelino da Silva e Carlos Broad, fundou a revista literária Alvorada, que teve vida efêmera de apenas alguns meses.

Voltou a trabalhar no Pilar na firma Adelino Silva & C, onde fez parte da redação da revista Vinte de Julho, passando depois a chefe de redação do jornal Vigilante.

Em 1899, a casa onde prestava serviços transferiu-se para Maceió, voltando Torquato a morar na capital.

Passou então a colaborar com O Rebate, O Arrebol, Gutenberg e o Jornal de Debates, onde foi um dos redatores. Assinava também a coluna Santa Missão, divulgando suas crônicas políticas e humorísticas.

Convidado pelo editor Francelino Dantas, assumiu a direção do conceituado Almanack Literário Alagoano. Neste veículo publicou suas primeiras poesias: Covardia, Soletad, Gitana e Kermesse.

Antes de falecer em Maceió no dia 31 de dezembro de 1907, vítima de varíola, era guarda-livros da casa Oliveira, Lima & C., uma das mais importantes do norte do país à época. Presidia a Sociedade Perseverança e Auxílio dos Empregados do Comércio.

Em 1905 foi o organizador da exposição de trabalhos manuais da mulher alagoana em prol do Natal das crianças pobres, com o patrocínio da Perseverança.

Em junho de 1905, no Rio de Janeiro, casou-se com a paraibana Élia (Elita) Gutierrez de Sousa Leite Cabral, filha de Élia Gutierrez de Souza Leite e do major José Teixeira de Souza Leite, que havia dirigido em Maceió a repartição dos Telégrafos.

Torquato Cabral e Elita Sousa são os pais do renomado ator alagoano de Maceió Sadi Sousa Leite Cabral. Nasceu em 10 de setembro de 1906.

José Avelino Cabral também foi acometido de varíola dias depois da morte do irmão Torquato, mas sobreviveu à doença.

No aniversário de um ano da sua morte, o Grêmio Literário e Recreativo Parahybano (de Capela), presidido pelo padre Aurélio Henriques, inaugurou na sede o retrato de Torquato Cabral, um dos fundadores daquela agremiação.

No dia 30 de setembro de 1920 foi lançada a pedra fundamental do Grupo Escolar Torquato Cabral. Nesse mesmo dia foi inaugurada a ponte sobre o rio Paraíba.

A obra foi tocada pelo prefeito João Rocha Accioly com o apoio do governador do Estado.

O Grupo Escolar foi inaugurado no dia 5 de maio de 1924 com a presença do governador Fernandes Lima e de várias autoridades. Após o ato, todos foram para o Teatro 16 de Outubro onde foi oferecido um “lauto banquete”.

Após o discurso do dr. Carlos Ribeiro, aconteceu um baile, que se estendeu até a madrugada do dia seguinte.

Governador Fernandes Lima inaugura em 5 de maio de 1924 o Grupo Escolar Torquato Cabral em Capela, que aparece no fundo da foto. O Cine Teatro 16 de Outubro está logo atrás da multidão

Capela novamente

Com a perda dos poderes da oligarquia dos Maltas em 1912, o governador Clodoaldo da Fonseca devolveu a sede para Paraíba ao assinar o Decreto nº 571, de 30 de julho.

Em 2 de julho de 1919, ao ser elevada à categoria de cidade por força da Lei nº 805, o município voltou a ser denominado Capela.

A Lei nº 855, de 7 de junho de 1920 autorizou o governador a prover o município de juiz de direito e promotor público, o que se verificou por meio de um decreto de 30 de setembro do mesmo ano.

Para acompanhar a conquista da condição de cidade, o bispo D. Manoel Antônio de Oliveira autorizou o padre Marcelino Bancarel a construir a nova Matriz de Capela em 1919.

O local escolhido ficava em frente à antiga capela. Em 1937, teve início a construção da nova igreja Matriz, que foi concluída pelo padre José Monteiro em 7 de dezembro de 1941.

Outra conquista importante para o município foi a inauguração, em 1924, do Grupo Escolar Torquato Cabral, cujas instalações permanecem até a atualidade.

Nesse mesmo período foi inaugurado o Cine Teatro 16 de Outubro, um investimento do comerciante Othilio da Costa Barros. Atualmente sobrevive somente sua fachada. Fica a poucos metros do Grupo Escolar Torquato Cabral.

Cine Teatro 16 de Outubro em Capela, propriedade de Othilio da Costa Barros

Sinal do desenvolvimento do local foi o inicio da moagem na Usina João de Deus em 1929, um investimento do Coronel José Otávio Moreira.

O Mercado Público de Capela, mais conhecido como Mercado do Farinheiro, foi inaugurado em 1934. O prédio começou a ser recuperado em outubro de 2014 para ser transformado em um Centro Cultural, quando fortes chuvas derrubaram suas paredes, ficando de pé apenas a fachada, que foi demolida logo depois por risco de desabamento.

No local foi construído o Centro Cultural Multiuso Leda Valéria. O prédio preservou as características arquitetônicas originais.

Em 1943, o município passou a ser chamado Conceição do Paraíba por conta da devoção que a população dedicava a Nossa Senhora da Conceição e, também, em homenagem ao rio Paraíba, que corta o município.

Apenas em 1949, a cidade voltou a ter, de forma definitiva, a antiga denominação de Capela.

A festa de sua padroeira é comemorada em 8 de dezembro e a festa de São Sebastião no dia 20 de janeiro, ambas consagradas pela tradicional procissão.

Formação Administrativa

Construção da Escola Torquato Cabral em 1919

Construção da Escola Torquato Cabral em 1921

Elevado à categoria de vila com denominação de Capela, pelo decreto estadual nº 52, de 16 de outubro de 1890, desmembrado de Atalaia. Sede na povoação de Capela ou Paraíba. Instalado em 30 de novembro de 1890.

Pela lei estadual nº 427, de 10 de junho de 1904, transfere a sede da povoação de Capela para Cajueiro com a denominação de Euclides Malta.

Pela lei provincial nº 499, de 26 de novembro de 1868, é criado o distrito de Arrasto e anexado ao município de Euclides da Malta.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, a vila de Euclides da Malta ex-Capela é constituída de três distritos: Euclides da Malta, Paraíba e Arrasto.

Pelo decreto estadual nº 571, de 30 de julho de 1912, foram restabelecidos a sede de Capela com a denominação de Paraíba.

Ponte em Capela no ano de 1921

Ponte em Capela no ano de 1921. Foi destruída na cheia de 1948.

Elevado à condição de cidade com a denominação de Paraíba, pela lei estadual nº 805, de 2 de junho de 1919.

Nos quadros de apuração do Recenseamento Geral de 1º de setembro de 1920, o município de Paraíba aparece constituído de três distritos: Paraíba, Cajueiro e Capela.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município já denominado Capela é constituído de dois distritos: Capela e Cajueiro. Em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, o município aparece constituído de 3 distritos: Capela, Cajueiro e Santo Efigênia.

Pelo decreto-lei estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943, o município de Capela passou a denominar-se Conceição da Paraíba.

No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de três distritos: Conceição da Paraíba ex-Capela, Cajueiro e Santa Efigênia.

Praça e Rua Horácio Gomes de Melo em Capela

Praça e Rua Horácio Gomes de Melo em Capela

Pela lei estadual nº 1473, de 17 de setembro de 1949, o município de Conceição da Paraíba volta a denominar-se Capela.

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1950, o município é constituído de três distritos: Capela ex-Conceição da Paraíba, Cajueiro e Santa Efigênia. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1º de julho de 1955.

Pela lei estadual nº 2096, de 22 de maio de 1958, desmembra do município de Capela o distrito de Cajueiro. Elevado à categoria de município.

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1960, o município é constituído de dois distritos: Capela e Santa Efigênia. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

Fontes: IBGE, Livro Terra das Alagoas e diversos jornais.

2 Comments on Capela: a Conceição do Paraíba

  1. ANTONIO sILVA // 1 de janeiro de 2018 em 10:27 //

    Muito RICA ESSA História .

  2. Minha Capela amada!!!!

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