Bloco Vulcão, a história viva dos carnavais de Maceió

Desfile de blocos na Rua do Comércio em 1953

Nos anos da década de 1930, Maceió iniciava o período considerado como a época de ouro do carnaval alagoano. Nos clubes e nas ruas as marchinhas dominavam, mas o frevo pernambucano já se fazia sentir, principalmente executado pelas orquestras dos blocos que percorriam as ruas da cidade.

Blocos Tudo ou Nada, Vulcão e Sai da Frente na Rua do Comércio dos anos 60

O Banho de Mar à Fantasia da Avenida da Paz arrastava multidões para as manhãs dos domingos anteriores ao carnaval. Por lá desfilavam blocos, troças, ranchos e mascarados. Do sábado de Zé Pereira até a terça-feira gorda, a festa se transferia para a Rua do Comércio, incluindo a Praça dos Martírios, onde acontecia também o corso.

Nos bairros, o principal carnaval acontecia em Bebedouro, na ainda Praça Santo Antônio, que viria a ser a Bonifácio Silveira e Coronel Lucena Maranhão.

A segurança da folia era feita por patrulhas das diversas corporações militares de Alagoas. Além da Polícia Militar, soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica acompanhavam a folia para evitar que os grupos de foliões ligados a estas instituições exagerassem no entusiasmo momesco.

Corso no Banho de Mar à Fantasia na Avenida da Paz dos anos 60

Corso no Banho de Mar à Fantasia na Avenida da Paz dos anos 60

Após o carnaval, os militares da Polícia Militar de Alagoas reclamavam por não terem a oportunidade de participar da festa. Foi essa insatisfação que levou, em 1936, um grupo de músicos da Banda da corporação a propor a criação de um bloco que desfilasse após o carnaval para atender os militares que trabalharam durante o evento.

A iniciativa foi liderada por José Francelino Teixeira, Sinfrônio Marinho, José Ernesto, Isaac Galvão Cruz, Alípio Rodrigues e Natanael Azevedo.

Assim nasceu o Bloco Vulcão, que imediatamente recebeu o batismo ao som do hino Vulcão em Chamas, de autoria de um dos seus fundadores, Isaac Galvão. Seu filho, o maestro Jalmeri Galvão, comandou vários carnavais em Alagoas anos depois.

Ouça aqui Vulcão em Chamas, hino do bloco Vulcão em arranjo e execução de José Gomes Brandão, que coordena o Projeto Divulgando Compositores Alagoanos (veja AQUI):

 

Segundo José Amâncio Filho, em seu livro Fatos para uma História da PMAL, o pessoal da Banda do Exército resolveu também criar um bloco e respondeu com o Tromba D’água, mas não durou muito. Posteriormente, já nos anos 50, esse bloco ressurgiu com o nome de Bomba Atômica.

Com a proibição do carnaval no período da Guerra, início dos anos 40, os blocos paralisaram suas atividades. O Vulcão somente voltou a desfilar em 1947, já reconhecido oficialmente como um bloco da PMAL. O então comandante-geral, coronel Osman Lopes, atendendo ao pedido de um grupo de oficiais, designou o coronel Sampaio para coordenar a volta do bloco às ruas.

Domingo de carnaval na Rua do Comércio em 1958

Domingo de carnaval na Rua do Comércio em 1958

Voltou para se consagrar como um dos maiores e melhores blocos daquele período áureo, que se estendeu até meados da década de 1960. Foram vários títulos conquistados. Puxando o cordão, tinha sempre à sua frente foliões como os coronéis Suruagy, Mário Sampaio e Serafim Dutra. Nesta época, seus estandartes eram confeccionados pelo artista e operador cinematográfico Durval Suruagy de Lira.

A concentração do bloco era na Rua Santo Antônio, na Ponta Grossa, em frente à residência do popular Manoel Caixão.

Depois de uma nova ausência dos nossos carnavais, em 1974 o coronel José Maia Fernandes resolveu reacender as chamas do Vulcão e entregou a responsabilidade à equipe da 5ª Secção do Estado Maior Geral.

Por curto tempo o bloco voltou às ruas. Nesse período, Vulcão ganhou de Edécio Lopes o seu novo hino, Toque de Reunir. Foi gravado pela Banda Vulcão com a interpretação de Reginaldo Oliveira.

(Ouça aqui).

Últimos Banhos de Mar à Fantasia no final dos anos 60

Últimos Banhos de Mar à Fantasia no final dos anos 60

Após alguns anos de inatividade, o bloco voltou desfilar no início dos anos 90, quando o ainda tenente José Maxwell Santos era Chefe da Assessoria de Comunicação Social da PMAL. Ele procurou a organização do evento Maceió Fest e conseguiu fazer o bloco participar do que foi o maior carnaval fora de época de Alagoas. Maxwell também criou o Projeto Vem Ver a Banda Tocar.

Em 2003, já incluído na programação do Jaraguá Folia — que organizava desfiles de blocos da quinta-feira até o domingo —, o Vulcão voltou a desfilar novamente no domingo de Banho de Mar à Fantasia, agora na Pajuçara, como idealizou Edécio Lopes em conversa com Edberto Ticianeli.

Bloco Vulcão na Pajuçara em 2015.

Bloco Vulcão na Pajuçara em 2015.

O Jaraguá Folia não conseguiu manter evento sendo realizado em quatro dias, ficando somente com desfiles na sexta-feira na Avenida da Paz e Rua Sá e Albuquerque, mas o Vulcão permaneceu na Pajuçara nos domingos pela manhã, resistindo bravamente e fazendo uma festa cada vez maior.

Vulcão é o bloco alagoano mais antigo ainda em atividade, verdadeira testemunha dos vários momentos dos nossos carnavais. Mantém-se fiel aos seus objetivos, sempre arrastando atrás do seu estandarte os foliões que fazem o carnaval mais seguro do estado, a família da Polícia Militar de Alagoas.

Fontes:
– Fatos para uma História da PMAL, de José Amâncio Filho, 1976.
– Sesquicentenário da Polícia Militar de Alagoas: 1832 – 1982. De Elisabeth de Oliveira Mendonça, 1983.

1 Comentário on Bloco Vulcão, a história viva dos carnavais de Maceió

  1. Nilda Ribeiro // 8 de fevereiro de 2023 em 15:43 //

    Esse é o melhor bloco de carnaval q existe aqui em Maceió. É essa tradição ñ pode morrer.

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