Bancada comunista de 1947 em Alagoas

Luiz Carlos Prestes faz campanha em Maceió para as eleições de 1946. André Papini é o segundo da direita pra a esquerda, de grava preta e bigode fino

Com o fim do Estado Novo, vários partidos foram legalizados e realizadas eleições para presidente da República, deputados federais e senadores ainda em 1945. A escolha dos governadores e dos deputados estaduais (além de prefeitos e vereadores) ocorreu apenas em 19 de janeiro de 1947.

Comício de Prestes em 1946

Comício de Prestes em 1946

O Partido Comunista do Brasil (PCB) foi um dos primeiros a fazer o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e se habilitar para as disputas eleitorais. Essa legalidade dos comunistas, entretanto, não durou muito. Em 7 de maio de 1947, o registro foi cancelado pelo TSE por três votos a dois dos seus ministros.

Na eleição para presidente da República, em 2 de dezembro de 1945, saiu-se vitoriosa a candidatura oposicionista de Eurico Gaspar Dutra (PSD/PTB), que recebeu o apoio de Vargas na última semana da campanha e obteve 3.251.507 votos (55,39%). O candidato da situação, Eduardo Gomes (UDN), ficou em segundo lugar com 2.039.341 votos (34,74%).

Os comunistas lançaram Yedo Fiúza (PCB) que conseguiu 569.818 votos (9,71%). O último colocado foi Mário Rolim Telles (PAN), com 10.001 votos (0,17%).

O resultado da disputa presidencial em Alagoas reproduziu as mesmas posições conquistadas pelos candidatos nacionalmente. Eurico Dutra (PSD/PTB) conseguiu 33.361 votos, Eduardo Gomes (UDN) 24.760 votos, Yedo Fiúza (PCB) 5.048 votos e Rolim Telles (PAN) 4 votos.

Preste em Alagoas na campanha de 1946

Preste em Alagoas na campanha de 1946

Foram apurados 63.692 sufrágios, com 63.173 votos nominais, 315 votos brancos e 204 votos nulos.

Em 19 de janeiro de 1947, o PCB em Alagoas elegeu três deputados estaduais. André Papini Góis (895 votos), José Maria Cavalcanti (506 votos) e Moacir Rodrigues de Andrade (441 votos).

Meses depois, em outubro, estes mandatos foram cassados e, em janeiro de 1948, a brutal perseguição que o governador Silvestre Péricles aplicou aos comunistas em Alagoas fez com que estes três deputados deixassem o Estado.

Logo após o cancelamento do registro do PCB, em 7 de maio de 1947, Silvestre Péricles mandou fechar rapidamente todas as células comunistas no Estado, além de impedir a circulação do jornal “A Voz do Povo”.

Esse clima de instabilidade atingiu a Assembleia Legislativa, levando o presidente interino, deputado Clímaco da Silva, a solicitar imediatamente reforço policial por motivos de segurança. O Jornal de Alagoas de 11 de maio de 1937 noticiou assim o cerco:

Associação Comercial onde funcionava a Assembleia Legislativa em 1947

Associação Comercial onde funcionava a Assembleia Legislativa em 1947

“Ontem, às 14 horas, um caminhão da Força Policial do Estado parou em frente ao prédio da Associação Comercial onde funciona a Assembleia Legislativa, espalhando tropa no local, cercando o edifício.

Armados de fuzis e metralhadoras, os soldados estacionaram no local até às 16:30 horas. Pessoas procuravam afastar-se do local, na suspeita de qualquer ocorrência repentina.

Ia ser realizada uma reunião da comissão constitucional da Assembleia Constituinte, mas alguns deputados ante a presença dos soldados que empunhavam armas como se estivessem preparados para um choque próximo, não chegaram a subir as escadas da Associação.

A população ligava o acontecimento de ontem às recentes prisões de elementos filiados ao Partido Comunista”.

Sede do PCB em Maceió, na Rua do Comércio, onde também funcionava A Voz do Povo

Sede do PCB em Maceió, na Rua do Comércio, onde também funcionava A Voz do Povo

Entrevistado sobre o episódio, o governador Silvestre Péricles declarou: “Se os criminosos, ladrões e assassinos, com fantasias ideológicas ou sem elas, me aborrecerem, o pau canta e não para mais. É o que estou dizendo: se me aborrecerem o pau canta e não para mais”.

A perseguição era tamanha que os três deputados foram presos pela Polícia Militar no dia 25 de outubro. Eles tinham ido a São Luiz do Quitunde com o objetivo de libertar um operário que fora detido naquela cidade.

Os parlamentares iriam impetrar habeas corpus junto ao juiz da comarca, mas foram surpreendidos pela tropa da PM, que os prendeu e os levou para o quartel geral.

Silvestre Péricles ainda apreendeu o jornal O Momento Alagoano, prendeu os editores, os distribuidores e até leitores.

Antes, em abril de 1947, alegando não saber o que era a Juventude Comunista ou o Partido Comunista, quando só a organização juvenil estava proscrita, mandou fechar as células e a sede do Comitê Regional do PCB.

Em resposta a um telegrama de Prestes protestando contra a arbitrariedade, Silvestre Péricles de Góes Monteiro declarou: “Realmente recebi um telegrama do senador Carlos Prestes. Mas não dou atenção a um cínico traidor da pátria. Não quero negócio com escravos de Moscou, que pretendem russificar traiçoeiramente o Brasil. Eu tenho outra espécie de resposta para Prestes e seus asseclas”.

André Papini Góes

André Papini

André Papini

Embora tenha nascido no Engenho São Rafael, em Brejo Grande, Sergipe, a 18 de outubro de 1908, o filho de Manoel da Cunha Góes e Maria Papini era considerado um penedense. Ainda jovem foi trabalhar no comércio de Penedo, onde fundou e dirigiu uma associação de classe.

Com 21 anos, mudou-se para o Rio se Janeiro, onde trabalhou em um banco particular.

Em pouco tempo estava de volta à Alagoas e em Maceió passou a ser auxiliar de gabinete do interventor Hermilo de Freitas Melro, cargo que também ocupou quando da interventoria de Tasso de Oliveira Tinoco.

André Papine e sua esposa Maria Lessa

André Papine e sua esposa Maria Lessa, irmã de Noélia, mãe de Ronaldo Lessa

Em 1932, integrou um batalhão de voluntários da Polícia Militar de Alagoas que foi lutar contra os contrarrevolucionários de São Paulo, que tentavam derrotar Getúlio e a Revolução de 30.

Após participar deste confronto, voltou a Maceió passou a trabalhar  no Departamento Geral de Estatísticas do Estado e, posteriormente, no Departamento de Assistência aos Municípios e no Departamento de Assistência ao Cooperativismo.

Entre 1938 e 1940, secretariou, em Porto Alegre, o Departamento de Estatística do Rio Grande do Sul.

Retornou, em 1943, a Maceió, mas logo depois passou a estudar na Faculdade de Direito do Recife, onde conquistou o bacharelato em 1947.

Formatura de Direito de André Papini

Formatura de Direito de André Papini

Como estudante, participou de congressos nacionais da União Nacional dos Estudantes (UNE) como representante de Alagoas.

Atuando no jornalismo, secretariou o Jornal de Alagoas e, em seguida, passou a ser diretor do A Voz do Povo, jornal do Partido Comunista.

Foi eleito deputado estadual em 19 de janeiro de 1947. Ele, José Maria Cavalcante e Moacir Andrade formavam a bancada do Partido Comunista do Brasil.

Após a cassação, em 1948, Papini passou a viver em Recife onde montou banca de advogado, atuando principalmente em defesa dos operários.

Aprovado em concurso, tornou-se Fiscal do Imposto de Consumo, tendo trabalhado em João Pessoa, Manaus e Maceió, onde foi lotado na Contadoria Seccional do Ministério da Fazenda.

Transferido para o Rio de Janeiro, foi assessor do diretor de rendas internas, do Ministério da Fazenda, cargo que ocupava quando veio a falecer, a 7 de julho de 1966. Tinha 57 anos de idade.

Moacyr Rodrigues de Andrade

Era filho de Manoel Xavier de Andrade e Luiza Rodrigues e casou-se com Lygia da Silva Gusmão em 17 de setembro de 1936, no Rio de Janeiro.

Participou da Revolução de 1930, sendo preso na capital federal.

Em 1947, em Alagoas, foi eleito deputado para a Assembleia Constituinte de 1947 pela legenda do Partido Comunista do Brasil (PCB), obtendo 441 votos.

Após a cassação do seu mandato, constatando que não havia clima político e sequer segurança pessoal para continuar vivendo em Alagoas. Deixou o estado e passou a viver como clandestino no Rio de Janeiro.

Em 1952, foi à União Soviética chefiando uma delegação de nove dirigentes sindicais e militantes do PCB, que participaram do Curso Stálin. Entre eles estavam Hércules Correia dos Reis, Moisés Vinhas, Maria Sallas, Lurdes Benain, Herundina Silva, Rolando Fratte, Geraldo Rodrigues dos Santos e José Lelis da Costa.

Era secretário de Organização do núcleo do PCB de Maceió e tinha 36 anos de idade quando se elegeu deputado estadual em 1947.

José Maria Cavalcanti

Era cabo do Exército no 20º Batalhão de Caçadores de Maceió. Há registros de sua prisão já em 1931.

Participou do levante comunista de 1935 em Recife. Preso, cumpriu pena durante cinco anos em Fernando de Noronha.

José Maria Cavalcanti, deputado estadual pelo PCB em 1947

José Maria Cavalcanti, deputado estadual pelo PCB em 1947

Era da direção estadual do PCB em Alagoas e tinha 36 anos de idade quando foi eleito deputado estadual em 1947.

Após a cassação do mandato, foi deslocado para o Rio de Janeiro, vindo a ser um dos dirigentes do Comitê dos Marítimos ao lado de Luiz Guilhardini.

No V Congresso do PCB, em 1960, Cavalcanti foi eleito para o Comitê Central, ficando em uma das suplências

Em fevereiro de 1962, quando deixaram o PCB dezenas de dirigentes, José Maria Cavalcanti formou no grupo que depois formou o PCdoB, ao lado de Diógenes de Arruda Câmara, João Amazonas, Pedro Pomar, Maurício Grabois, Miguel Batista dos Santos, José Duarte, Ângelo Arroyo e Orlando Piotto.

Fontes: Blog do Majella, Luiz Nogueira Barros (A Solidão dos Espaços Políticos) e sites diversos.

3 Comments on Bancada comunista de 1947 em Alagoas

  1. Nancy Cavalcanti // 11 de setembro de 2015 em 15:55 //

    Sou Neta de José Maria Sales Cavalcanti e fiquei muito feliz em ver essa reportagem. A vida do meu avô, avó, minha mãe e tios não foi fácil… Mas nos orgulha em saber que ele ficou pra história e que revolucionou seu tempo. E a disseminação da informação e história é fundamental!. Obrigado.

  2. Wilson Nonato // 9 de maio de 2018 em 21:09 //

    Eu não sei se estou muito certo, mas não tenho certeza se é o mesmo José Maria que em palestra na sede do PCB na Av. Moreira Lima nos idos de 1987, declarou que foi comerciante no Parque Rio Branco, combateu na resisténcia francesa na ocupação da França pelos nazis. Teve que matar um soldado alemão para tomá-lo a arma. O que o fez com o consequente drama de consciéncia, POIS nunca tinha tirado a vida de um homem, o que o fez obrigado pela guerra.

  3. Fico feliz em poder ler a história do meu bisavô André Papini

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