Avenida Fernandes Lima, a antiga Estrada do Jacutinga

Av. Fernandes Lima nos anos 80

No início do século XX, as habitações mais periféricas do Alto do Jacutinga, hoje Farol, ficavam ao lado do campo de futebol localizado no fim do Beco do Quiabo, que depois foi Rua dos Lavradores e hoje é a Av. Tomás Espíndola.

Esse campo de futebol também era conhecido como Praça Peperipedra (ou Periperipau). Foi denominado Praça Jonas Montenegro, pela Lei nº 127, de 28 de setembro de 1908. Atualmente é a Praça do Centenário.

Praça do Centenário em 1940

Deste local em direção ao Tabuleiro do Pinto é que se formava a Estrada do Jacutinga, um caminho de terra utilizado principalmente por quem servia-se de animais de montaria como meio de transporte.

A primeira iniciativa na construção de uma estrada de rodagem ocorreu com a publicação no jornal Gutemberg de 10 de dezembro de 1910 da Lei nº 157, assinada no dia anterior pelo intendente da capital.

“Lei nº 157, de 9 de dezembro de 1910

O Bacharel Demócrito Gracindo Intendente do Município de Maceió:
Faço saber que o Conselho Municipal decretou e eu publico a lei seguinte:
Art. 1º – Fica o Intendente autorizado a mandar construir uma estrada de rodagem que partindo da Praça Jonas Montenegro, no Alto do Jacutinga, vá terminar em Bebedouro.
Art. 2º – O Intendente baixará as instruções precisas para a execução deste melhoramento público, para o qual abrirá o crédito necessário.
Art. 3º – Revogam-se as disposições em contrário.
Intendência Municipal de Maceió 9 de dezembro de 1910.
Foi publicada a presente lei nesta Secretaria em 9 de dezembro de 1910.
O Intendente, Demócrito Brandão Gracindo”.

Esta ligação com Bebedouro a partir da Praça Jonas Montenegro foi o embrião da futura Av. Fernandes Lima. Não foi possível precisar o seu traçado, mas é provável que tenha dado origem ao trecho até onde depois foi construído o Quartel do Exército e daí derivado pela Rua Prof. José da Silveira Camerino (antiga Belo Horizonte), passando pelo Sanatório e descendo a Ladeira Passos de Miranda.

Estradas para automóveis

A iniciativa de Demócrito Gracindo, entretanto, não fazia parte ainda da política das vias de transportes terrestres começada em 1914 pelo governador Clodoaldo da Fonseca, que iniciou a construção da Estrada do Jacutinga até Cachoeira, em Rio Largo.

Praça do Centenário

Foi durante o governo de Clodoaldo da Fonseca que também teve início a construção da “estrada de automóveis ligando a cidade de Maceió à Fernão Velho” por Bebedouro.

“Iniciamos a construção de grandes avenidas — anunciava Clodoaldo da Fonseca —, uma ligando Maceió ao Farol, outra ligando a Praça do Hospital ao Trapiche da Barra e à Beira-Mar, contornando todo litoral e construiu-se mais um trecho do Riacho Maceió”.

O governador João Batista Accioly, que sucedeu a Clodoaldo da Fonseca, não poupou esforços para continuar a construção da “estrada de rodagem convenientemente preparada para o trânsito dos modernos veículos”.

Na mensagem de 15 de abril de 1916, Batista Accioly assim detalhava a obra: “A estrada parte da Praça Jonas Montenegro, no Jacutinga, com uma largura de 8 metros e estende-se quase em linha reta até aquele povoado.
Atualmente acham-se preparados e entregues ao trânsito mais de 5.000 metros de estrada, cuidadosamente feitos, além de mais de 8.000 metros de picadas que em breve estarão concluídas”.

Com a conclusão desta obra, a antiga Estrada do Jacutinga passou a ser conhecida como a Estrada do Automóvel.

Guerra Mundial

Av. Fernandes Lima nos anos 60

Em mensagem datada de 15 de abril de 1919, o vice-governador José Paulino de Albuquerque explica como a Primeira Guerra Mundial, conflito que durou de 28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918, interferiu na decisão de se construir estradas de rodagem:

“A guerra europeia, dificultando a importação necessário ao desenvolvimento das nossas vias férreas, trouxe, por esse motivo, uma notável atividade na construção de estradas de rodagem.
O aumento da produção, intensificada pela procura, exigindo, portanto, fácil acesso aos mercados consumidores e exportadores, acelerou a ação dos poderes públicos que patrioticamente, bem compreenderam o valor econômico dessas estradas, demandando os centros da cultura e resolvendo um dos nossos problemas capitais: vias de penetração”.

Em 15 de abril de 1920, o governador Fernandes Lima anunciava que já tinha construído as estradas de São Miguel dos Campos até Coruripe, com 66 km; de São Miguel até Anadia, com 30 km; e 70 km da estrada do norte.

“Também está sendo construída, por um belo movimento de iniciativa particular, a que o governo prometeu o seu franco concurso, uma estrada desta Capital a Flexeiras, centro do município de São Luiz do Quitunde, aproveitando o trecho já construído de Maceió ao Tabuleiro do Pinto, havendo o projeto de ligar, depois, Flexeiras à sede daquele município que também será ligado a Camaragibe”, comemorava o governador.

Av. Fernandes Lima

Foi no início dos anos 20, ainda durante o governo de Fernandes Lima, que o trecho inicial, mais urbano, da Estrada dos Automóveis, ganhou sua atual denominação após receber as obras necessárias para ser considerada uma avenida.

Av. Fernandes Lima

O jornal delmirense Correio da Pedra de 22 de outubro de 1922, assim anunciou o começo das reformas: “MACEIÓ 20 – Pelo engenheiro do Estado, dr. Hollanda Cavalcante, foram iniciadas ontem os trabalhos de levantamento da Avenida Fernandes Lima, no Alto do Farol, tendo caráter festivo”.

A importância desta avenida para Maceió foi sendo ampliada na medida em que novas estradas foram abertas utilizando como primeiro trecho a via que inicialmente ligou a capital à Cachoeira em Rio Largo.

Até 1925, uma viagem ao Pilar ou aos engenhos da região era feita de trem até Satuba e depois a cavalo. A travessia do Rio Mundaú era feita em balsas ou canoas.

Em 1926, no governo Costa Rego, já se acham estabelecidas comunicações entre Maceió e a cidade do Pilar, a meio caminho do percurso total da estrada. Com o detalhe de ser esta “a primeira estrada de Alagoas construída de conformidade com a técnica moderna”.

Neste período, o Departamento de Viação e Obras Públicas passou a exigir dos construtores de estradas o cumprimento de certas normas técnicas. “Evitam-se as curvas de raio mínimo. Dando-se, aí, a largura conveniente na superfície carroçável. Evitam-se também as rampas máximas, não havendo até agora nenhuma superior a 4%. A faixa destocada é de dez metros, com sete aplainados e recalcados pra o trânsito de veículos”.

Em resumo: “Para o trânsito econômico dos veículos automotores, foram adotadas estas bases: rampas, no máximo, de 5%; curvas de 50m de raio, no mínimo; leito suficientemente recalcado”.

Para se ter uma noção da importância dessa estrada, Costa Rego informava, em 1928, que “Pela várzea da Satuba, estão passando, na média, oitenta automóveis por dia, em mais de metade caminhões, empregados no transporte de mercadorias. Cerca de mil sacos de açúcar foram diariamente transportados na última safra, em veículos automóveis, que fizeram concorrência vitoriosa à estrada de ferro, dando ao produtor a certeza de colocar seu produto em Maceió sem os delongas, baldeações e consequentes quebras a que vivia sujeito, e por preço inferior ao que as contingências lhe impunham, para ser, além de tudo, mal servido”.

Aeroporto

Outro equipamento que fez ampliar a importância da Av. Fernandes Lima foi a construção do Aeroporto Costa Rego ao lado da estrada para Satuba, onde hoje está o Departamento de Estradas de Rodagem de Alagoas (DER).

A cessão da área para a sua construção foi oficializada pelo Decreto Estadual nº 1.209, de 30 de junho de 1927, que autorizou a Societé Franco Sud Americaine de Travang Publics a utilizar uma área de 100 hectares de terras devolutas no Tabuleiro do Pinto por 25 anos.

Aeroporto Costa Rego Air France em 30 de maio de 1928

Na mensagem enviada ao Legislativo em 21 de abril de 1928, Costa Rego detalha a localização do terreno. “A área concedida fica à direita do poste correspondente ao quilometro 14 da estrada de rodagem para automóveis de Maceió a Rio Largo [antiga estrada], tem a forma de um quadrado perfeito, com mil metros de cada lado, com frente paralela à mencionada estrada […]”.

No final dos anos 30, a empresa aérea Panair do Brasil solicitou a autorização do governo para construir seu próprio aeroporto no Tabuleiro do Pinto. Assim surgiu o Aeroporto de Maceió, que foi ocupado durante a Segunda Guerra Mundial por forças navais norte-americanas com a instalação, também, de uma base de balões.

Com o objetivo de facilitar o acesso dos seus passageiros às áreas de pouso na Lagoa Mundaú, Vergel do Lago, com hidroaviões, e no Tabuleiro do Pinto, a Panair do Brasil asfaltou em 1942 a Rua Santo Antônio, na Ponta Grossa, e a Av. Fernandes Lima, ambas em parceria com a prefeitura da capital.

Outro equipamento que contribuiu para acelerar a ocupação da Av. Fernandes Lima foi o Quartel do 20º Batalhão de Caçadores, que foi inaugurado em 4 de dezembro de 1944 numa área considerada de sítios, fora da cidade.

Foi ainda na década de 1940 que o Brasil implementou a política de administração de suas rodovias ao dar autonomia técnica e financeira ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER).

Duplicação da Av. Durval de Góes Monteiro no Tabuleiro, em 1972

A partir de então foi constituída a malha rodoviária brasileira. Em Maceió, sua principal estrada de rodagem passou a ser o trecho final da BR-104, uma rodovia federal que nasce em Macau, no Rio Grande do Norte, e atravessa a Paraíba e Pernambuco até chegar à Praça do Centenário em Maceió.

Com a ocupação do Tabuleiro do Martins, mais um trecho urbano da BR-104 recebeu denominação. Com a morte do filho do General Pedro Aurélio de Góis Monteiro em 1939, surgiu a Av. Durval de Góis Monteiro.

A Av. Fernandes Lima foi sendo ocupada em ritmo lento até a década de 1970, quando foi duplicada e o Tabuleiro passou a receber várias industrias e a Cidade Universitária da Universidade Federal de Alagoas.

A partir de então, diversos conjuntos habitacionais foram implantados na área, todos tendo como via de acesso ao centro da capital a Av. Fernandes Lima.

Hoje, com muitos problemas de trânsito, perdeu parte do seu comércio, mas continua sendo a via mais importante da capital.

5 Comments on Avenida Fernandes Lima, a antiga Estrada do Jacutinga

  1. Muito interessante essa parte historica de Maceio’ que eu nao conhecia. So professor de Historia e gostei muito desses fatos. Parabens.

  2. quais foram as fontes para realizar esse relato tao incrivel???

  3. Rosália Fideles de lima // 27 de agosto de 2021 em 07:32 //

    ME ORGULHO EM SABER QUE MEU PAI JOSE DO MONTE LIMA E SEVERINO DOS RAMOS MEU IRMAO, FORAM PROTAGONISTAS DESSA DUPLICACAO DA FERNANDES LIMA EM ,1970.

  4. Rosália Fideles de lima // 27 de agosto de 2021 em 07:39 //

    A fonte desse comentário ,sou eu que vivi tudo isso, e tenho orgulho de saber que meu pai e meu irmão contribuíram pra o desenvolvimento de nossal Maceió

  5. Como é bom encontrar informações sobre meus antepassados!

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