Aristheu de Andrade, o poeta que deu nome à menor avenida de Maceió

Avenida Aristeu de Andrade em 1925

A ocupação do Alto do Jacutinga, em Maceió, teve início após a construção do Paiol de Pólvora, erguido ao lado das baterias que protegiam o porto de Jaraguá. Posteriormente esse pequeno prédio foi adaptado para dar lugar à Igreja de São Gonçalo do Amarante.

Chafariz na Avenida Aristeu de Andrade

Mas foi somente a partir de 2 de dezembro de 1851 que o local passou a receber maiores investimentos. Nesta data foi lançada a pedra fundamental para a construção do Farol da Marinha, que viria influenciar até na denominação do bairro, por muitos anos conhecido como Alto do Jacutinga.

Assim, o caminho tortuoso que dava acesso ao Paiol da Pólvora a partir da Praça D. Pedro II, transformou-se na Ladeira da Matriz ou Ladeira do Farol, atual Ladeira da Catedral. A sua continuação, Rua do Paiol, foi Rua de São Gonçalo por um tempo e atualmente é a Rua Osvaldo Sarmento.

Vista aérea da Av. Aristheu de Andrade e do Colégio Batista Alagoano nos anos 50

A partir de 1888, com a transformação do Paiol da Pólvora na Capela por iniciativa da Irmandade de São Gonçalo do Amarante, o largo à sua frente passou a receber festejos e se tornou um dos principais locais de comemoração natalina de Maceió.

O jornal Cruzeiro do Norte, de 27 de janeiro de 1893, confirma que esse largo era utilizado para a realização da festa de São Gonçalo ao anunciar naquela data que “funcionará um quilombo em frente à capela e o brinquedo dos galos”.

Foi o prolongamento da Rua de São Gonçalo, por trás da igreja, que anos depois recebeu a denominação de Rua do Seeger, fazendo referência ao seu morador mais conhecido.

Hans Seeger, vice cônsul alemão em Alagoas em 1903, tinha um escritório de representação na Rua do Comércio e construiu uma casa nesta via, onde depois foi instalado o Colégio Batista Alagoano.

Rua do Seeger foi aportuguesada para Rua do Zeiga (a pronúncia em alemão é bem próxima disso).

Com a morte do poeta Aristheu de Andrade, a rua foi renominada em sua homenagem por determinação da Lei nº 128, de 28 de setembro de 1908: “Fica denominada Rua Aristheu de Andrade a rua que serve de prolongamento à denominada São Gonçalo, no Jacutinga, a começar da capela de S. Gonçalo, ali existente, até o trecho conhecido como — Seeger, ficando o Intendente autorizado a mandar colocar a respectiva placa”.

Quem ofereceu as placas em 25 de agosto de 1909 foi o jornal O Gutenberg.

Em setembro de 1966, a lei que autorizou o asfaltamento daquela via, já se referia a ela como Avenida Aristeu de Andrade.

O poeta Aristheu de Andrade

Poeta Aristheu de Andrade

O poeta e advogado Manoel Aristeu Goulart de Andrade nasceu em Maceió no dia 3 de setembro de 1878, na Rua Nova, atual Rua Barão de Penedo. Era o filho mais velho do agrimensor e engenheiro Manuel Cândido Rocha de Andrade e de Leopoldina Pimentel Goulart de Andrade.

Não se tem informações sobre onde estudou as primeiras letras, mas aos 15 anos de idade matriculou-se no Liceu Alagoano, onde logo se destacou como orador. Lá concluiu o curso preparatório em 1895.

Aos 15 anos já trabalhava no comércio de Maceió. Permaneceu por dois anos na firma Almeida Guimarães & Cia.

No ano seguinte já escrevia nos jornais de Maceió, principalmente O Momento e Correio Mercantil, este lançado em 2 de setembro de 1894.

Foi em O Momento que publicou seus primeiros versos, ainda assinando como Sylpho. Um deles, As Andorinhas, foi dedicado a Misael Accioly na edição de 8 de agosto de 1894:

Com o inverno se vão as andorinhas
E quando o estio vem e o sol ardente
Elas voltam chilreando alegremente
Como um bando gentil de criancinhas.

Enquanto dura o estio, em revoada
O espaço sem fim vão recortando
Mas quando vem o inverno, o alegre bando
Em procura se vai de outra morada.

Assim como as andorinhas, magoada
Se foi minh’alma um dia em revoada
Em busca de douradas ilusões.

Voltou e nada achou: tudo deserto!
Teve desejos de chegar mais perto
Também achou desertos os corações!…

Quando concluiu os preparatórios, foi nomeado para a secretaria da Chefatura de Polícia da capital, onde permaneceu por apenas um ano.

No dia 14 de abril de 1896 embarcou para Salvador com o objetivo de estudar na Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia, mas uma pneumonia obrigou-o a abandonar o curso no mesmo ano.

No dia 15 de outubro de 1896, perdeu o pai, que vinha doente e sofrendo há três anos.

Em 1897, decidiu retomar os estudos superiores, mas desta feita foi para Pernambuco, onde diplomou-se em Direito pela Faculdade do Recife no dia 7 de dezembro de 1901. Na capital pernambucana, colaborou com vários jornais e trabalhou no escritório de advocacia de Adolfo Cirne e Henrique Malet.

Em Recife, com a publicação dos seus trabalhos em vários periódicos, ampliou a sua produção poética. Com esse material, lançou em 1900 seu primeiro livro: O Noivado, pela Tipografia Comercial. Com 69 páginas, foi dedicado à sua noiva e teve boa acolhido pela crítica, recebendo elogios de Medeiros de Albuquerque, Arthur Azevedo, José Veríssimo e Araripe Júnior.

Quando estava prestes a concluir o curso de Direito em Recife, coube-lhe a honra de representar a sua Faculdade numa saudação em homenagem a atriz Lucilia Simões. Quando concluiu o discurso recebeu os aplausos entusiasmados de duas mil pessoas. Até a homenageada se rendeu à sua oratória: foi até ele, beijou-lhe a testa e o chamou de gênio.

Ainda cursava o 5º ano de Direito quando participou das eleições em Alagoas e foi eleito deputado estadual para a legislatura 1901-02.

Dr. Aristheu de Andrade e sua esposa

Dr. Aristheu de Andrade e sua esposa Maria Peixoto de Andrade

Com a criação da 2ª Promotoria Pública da capital, Aristheu de Andrade ocupou o cargo por nomeação do governador Euclides Malta, determinada em portaria do dia 20 de dezembro de 1901.

Em 1903 foi indicado para reger a cadeira de Pedagogia, Educação Cívica e Higiene Escolar do antigo Liceu Alagoano. No ano seguinte pediu transferência para a cadeira de História Geral.

Como jornalista, colaborou em vários periódicos alagoanos, destacadamente no O Gutemberg, onde passou a ser o redator-chefe a partir de 1903, ajudando seu irmão Euzébio de Andrade. O Gutemberg foi fundado em 8 de janeiro de 1881.

Era considerado como um polemista destemido e suas “cartas”, assinadas como Volney ou Martial, provocavam enorme ruído.

Em 25 de maio de 1902 casou-se com Maria Peixoto de Andrade, filha do Coronel José de Sá Peixoto e de Maria Accioly Peixoto, mas não deixou filhos. Foram morar na Rua do Arame, atual Rua Ângelo Neto no Farol.

Quando suicidou-se, na madrugada do sábado, 8 de julho de 1905, tinha apenas 27 anos de idade e exercia interinamente o cargo de Procurador da República em Alagoas e já vinha dando sinais do sofrimento que a depressão lhe causava.

Suas últimas poesias eram carregados de tristeza, com manifesta vontade de abandonar o mundo.

Na sexta-feira, um dia antes do suicídio, confidenciou aos amigos que estava sofrendo fortes dores de cabeça e que atribuía a origem desse mal-estar à água de coco que havia tomado no dia anterior em Jaraguá.

Chegou a procurar a ajuda médica para conter os vômitos. Tomou uns cachetes de quininos e apresentou algumas melhoras. Na noite de sexta-feira, ainda com um pouco de febre, recebeu em sua casa Álvaro Rego, dr. Anísio Jobim, seu cunhado José de Sá, alferes Francisco Bulhões e Hugo Jobim.

Recolheu-se para dormir em seguida, mas às 2 horas da madrugada acordou. Demonstrava animação excessiva, quase em desvario. Entrou em delírio, seu corpo começou a tremer e a apresentar convulsões.

Sua esposa acordou com os tremores e chamou seu irmão José de Sá, que dormia no quarto vizinho. Aplicaram-lhe cataplasmas e lhe deram café. Como ele já havia apresentado antes alguns destes sintomas quando muito nervosos, esperava-se que horas depois o poeta serenasse.

Ficou sob cuidados da família até às 4h30, quando os sintomas retornaram com mais intensidade. José de Sá saiu à procura de socorro e conseguiu mobilizar os doutores e irmãos Álvaro Rego e Alfredo Rego às 5h30, que nada puderam fazer para impedir os efeitos do veneno que Aristheu de Andrade havia ingerido.

Quando atentou contra sua vida, morava no Alto do Jacutinga, na rua que recebeu seu nome.

Após a sua morte, Maria Peixoto de Andrade, que era uma mulher inteligente e culta, foi morar na Alemanha onde fez votos para freira e entrou na ordem das “monjas que não falam“. Era sobrinha do Marechal Floriano Peixoto.

2 Comments on Aristheu de Andrade, o poeta que deu nome à menor avenida de Maceió

  1. Que final triste! Que pena que um personagem de nossa história, pessoa tão culta e inteligente tenha sido vencido pela tão cruel depressão.

  2. Claudio de Mendonça Ribeiro // 3 de outubro de 2023 em 17:58 //

    Concordo inteiramente com o comentário. Muito entristecedor. A esposa dele, Maria Peixoto de Andrade, era sobrinha do Marechal Floriano Peixoto. A minha avó materna, também era parente dele.

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