Anadia, os Campos dos Arrozais de Inhauns

Praça Dr. Campelo de Almeida em Anadia

Em meados do século XVII, o território ocupado pelo atual município de Anadia era um aldeamento indígena com a denominação de Campos do Arrozal de Inhauns, onde existia uma capela consagrada a São João Nepomuceno.

Rua Fernandes Lima em Anadia na década de 1950

Ainda no século XVII, foi encontrada sobre uma pedra na Serra da Morena uma pequena imagem da Virgem da Piedade, possivelmente perdida ou deixada lá por algum fugitivo dos Palmares.

Acreditando ser o achado uma providência divina, os moradores transportaram a imagem para a capela e passaram a adorá-la. Não demorou e São João Nepomuceno cedeu o patronato para N. S. da Piedade.

O povoado foi elevado à categoria de vila em 18 de julho de 1801 com a denominação de Vila Nova de São João de Anadia, em homenagem ao Visconde de Anadia, ministro português que autorizou a criação da vila.

Rua Fernandes Lima e Matriz de N. S. da Piedade em Anadia nos anos 50

Rua Fernandes Lima e Matriz de N. S. da Piedade em Anadia nos anos 50

Em janeiro de 1802, o cônego visitador Joaquim Saldanha Marinho, com a autorização do bispo D. José J. da Cunha Azevedo Coutinho, elevou Anadia à categoria de Curato sob a invocação de N. S. da Piedade do Rio São Miguel e com subordinação eclesiástica à diocese de Maceió.

Não se sabe ao certo qual foi a primeira corrente de desbravamento no território do município. Umas das possibilidades é a de que os primeiros povoadores tenham procedido dos núcleos mais antigos da região, vindo de Madalena (Marechal Deodoro), Bom Sucesso (Porto Calvo) e São Francisco (Penedo). Foram atraídos, segundo Torquato Cabral, “pelos encantos de suas planícies, fecundidade de seu solo e exuberância de seus vergéis“.

Outra possibilidade é a de que os povoadores exploraram o Rio São Miguel e encontraram o aldeamento dos índios. Os rios eram, à época, as principais rotas de desbravamento utilizada pelos colonizadores.

Antigo Mercado Municipal da cidade de Anadia

Antigo Mercado Municipal da cidade de Anadia

O São Miguel foi um dos primeiros rios a ser visitado pelos portugueses, quando a expedição de Américo Vespúcio e Gonçalves Coelho percorreu o litoral nordeste em 1501.

Segundo Nicodemos de Souza Moreira Jobim, em livro “História de Anadia” (1880), naquele ano Anadia tinha 300 casas habitadas, algumas delas de tijolos, e seis sobrados de madeira. Esses imóveis eram distribuídos por oito ruas (Matriz, Rosário, Cotovelo, Alegria, Sangue, Cadeia, Condougas e Ladeira), três travessas (Beco do José Afonso, do Rodrigues e de Antônio José).

As ruas João Gomes e Sertãozinho se prolongavam desde a Cruz do Moleque até o Riacho Tijuco, acompanhando a estrada da Palmeira.

O comércio ofertava tecidos em cinco lojas. Os molhados eram adquiridos em 11 estabelecimentos. Tinha uma padaria, uma máquina à vapor de descaroçar algodão, uma oficina de ourives, uma de fogueteiro, quatro de carpinteiros, quatro de sapateiros e duas marcenarias.

A rua da Matriz e a Praça da Feira começavam a ser arborizadas e cinco pontos particulares de iluminação a gás clareavam as ruas da cidade.

Famílias

Nicodemos Jobim, ao relatar a presença de anadienses na história da província, revela nomes de famílias que habitavam a vila no início do século XVIII.

Cita que em 1813, Antônio José dos Santos atuou contra as desordens existentes na Província após os assassinatos de José Jorge e Manoel Pacheco, marchando para a Ilha Grande. “Quando em 1817 por amor da Independência desapareceram de improviso as bandeiras reais e armas portuguesas era ele ainda, que na frente do Regimento dos Pardos praticava ações de bravura em N. S. do Ó e Engenho Trapiche de Ipojuca”.

Lembra ainda da atuação de Manoel Mendes da Fonseca, em 1819, quando vários “patriotas” estavam nas prisões e ameaçados por “iníquas sentenças da funesta alerda [lenta] de desembargadores”. Mais adiante, esse mesmo militar lançaria um manifesto, que segundo Jobim, foi primeiro “grito de independência“.

Destaca que, em 1824, foi eleita uma junta governativa em Anadia “para iniciar uma administração livre das oscilações portuguesas” e que, em 1839, no episódio da transferência dos cofres de Alagoas (Marechal Deodoro) para Maceió, a reação foi contida por tropas de Anadia comandadas por Raymundo Antonio Dias Moreira, Antonio José Gomes da Cruz e Vicente de Paula Carvalho.

Em 1850, nos últimos combates nas matas de Jacuípe contra os cabanos de Vicente de Paula, em 26 de janeiro, perdeu a vida um anadiense, que haviam partido de Tanque D’arca, então um povoado de Anadia.

A tropa foi formada por 46 praças da Guarda Nacional, alguns índios e paisanos, estava sob o comando do “brigadeiro” José Rodrigues Pitanga. Morreu o capitão Francisco Dias da Costa. Nesse combate se destacaram José dias da Costa, irmão de Francisco, e os soldados Antonio Batista Carneiro e José Pereira de Souza.

Formação Administrativa

Distrito criado com a denominação de Anadia em 2 de janeiro de 1800.

Elevado à categoria de vila com a denominação de Anadia em 19 de julho de 1801. Instalado em 20 de dezembro de 1801.

Pela lei municipal nº 1, de 5 de outubro de 1893, é criado o distrito de Mar Vermelho e anexado ao município de Anadia.

Antiga Cadeia Pública de Anadia

Antiga Cadeia Pública de Anadia

Elevado à condição de cidade com a denominação de Anadia, pela lei estadual nº 86, de 25 de junho de 1895.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído de dois distritos: Anadia e Mar Vermelho.

Nos quadros de apuração do Recenseamento Geral de 1º de setembro de 1920, o município é constituído de três distritos: Anadia, Mar Vermelho e Tanque D’Arca.

Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937.

No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município é constituído de três distritos: Anadia, Mar Vermelho e Tanque D’Arca.

Evento religioso na Rua Fernandes Lima em Anadia

Evento religioso na Rua Fernandes Lima em Anadia

Assim permanecendo em divisão territorial datada 1º de julho de 1950.

Pela lei nº 1712, de 6 de agosto de 1953, é criado o distrito de Canudos , ex-povoado, criado com terras desmembrada do distrito de Tanque D’Arca e anexado ao município de Anadia.

Em divisão territorial datada de 1º de julho de 1955, o município é constituído de quatro distritos: Anadia, Canudos, Mar Vermelho e Tanque D’Arca.

Assim permanecendo em divisão territorial datada 1º de julho de 1960.

A lei estadual nº 2431, de 3 de fevereiro de 1962, desmembrou do município de Anadia o distrito de Mar Vermelho. Elevado à categoria de município.

A lei estadual nº 2507, de 1 de dezembro de 1962, desmembrou do município de Anadia o distrito de Tanque D’Arca. Elevado à categoria de município.

Em divisão territorial datada de 12 de dezembro de 1963, o município é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.

Fonte principal: IBGE

Feira de Anadia na década de 1950

Feira de Anadia na década de 1950

Feira de Anadia na década de 1950

Feira de Anadia na década de 1950

Rua da Palmeira, provavelmente na década de 1940

Rua da Palmeira, provavelmente na década de 1940

Praça Dr. Campelo de Almeida provavelmente no início da década de 1970

Praça Dr. Campelo de Almeida provavelmente no início da década de 1970

Praça Dr. Campelo de Almeida em Anadia

Praça Dr. Campelo de Almeida em Anadia

Praça Dr. Campelo de Almeida em Anadia

Praça Dr. Campelo de Almeida em Anadia

O primeiro automóvel da cidade, provavelmente em 1930 na avenida Dr. Fernamdes Lima

O primeiro automóvel da cidade, provavelmente em 1930 na avenida Dr. Fernandes Lima

Igreja do Rosário em Anadia nos anos 50

Igreja de N. S. da Conceição em Mar Vermelho, quando ainda fazia parte de Anadia nos anos 50

Igreja Nossa Senhora da Conceição

Grupo Escolar em Anadia

Grupo Escolar em Anadia

16 Comments on Anadia, os Campos dos Arrozais de Inhauns

  1. Claudio Rozendo // 9 de novembro de 2015 em 17:26 //

    Boa Tarde,
    Excelentes as matérias que retratam passagens da História de Alagoas, principalmente revelando a dinâmica cotidiana da época em que se passaram alguns fatos.
    Parabéns aos mantenedores do acervo por nos agraciar com fatos relevantes e ricos em detalhes da História de Alagoas que não se acham disponíveis nos livros atuais que versam sobre o assunto.
    Quero apenas fazer uma ressalva na imensa dificuldade de leitura que me causa a tarja preta colocada no corpo dos textos, principalmente as mais recentes.

    Cordialmente,

    Cláudio Rozendo

  2. Thiago Ferreira // 10 de junho de 2017 em 01:08 //

    Será que ainda é possível encontrar uma obra denominada História de Anadia, Maceió, pela SERGASA, 1994, tendo como autor Cícero Rafael? Interessado nas famílias originarias de Anadia.

  3. Andre Luis Vespasiano Ramos // 22 de outubro de 2018 em 18:41 //

    Boa tarde..o professor Possidonio Nicodemos de Sousa Moreira Jobim, que nasceu em Anadia em 1836, era meu trisavo. Acredito ateh que ele foi prefeito de Anadia. Estou fazendo a arvore genealogica da familia e gostaria de saber se existe, em Anadia, algum lugar onde eu possa encontrar a certidao d e batismo ou nascimento dele para que eu possa saber sua filiacao.

    Obrigado pela ajuda!

  4. Yára Pereira da Costa e Silva Neves // 4 de novembro de 2019 em 14:49 //

    Olá, gostaria de entrar em contato com você, Nicodemos Jobim também é meu trisavô. E segundo a filiação de seu filho Hugo Jobim está incompleta no Geni.
    Atenciosamente,
    Yára Neves

  5. Andre Ramos // 4 de novembro de 2019 em 20:00 //

    Oi Yara,
    te mandei uma mensagem via Facebook Messenger. Obrigado pelo contato!

  6. Vanderlei Amorim // 31 de maio de 2021 em 15:44 //

    Estou buscando a origem da família Amorim sei que meu avô morou em Anadia porém não tenho mais detalhes. Caso tenha alguma informação sobre a família Amorim gostaria muito de poder saber mais sobre.

  7. Alguém poderia me ajudar a encontrar na internet a lei n°1712 que criou o distrito de Canudos???

  8. Adriely santos // 8 de julho de 2021 em 13:47 //

    Essa história foi bem útil para o meu trabalho da escola imaculada Conceição

  9. Raphael Bonfim // 24 de julho de 2021 em 14:28 //

    Estou pesquisando a família Bonfim de Anadia.
    Recebi a dica do livro do Nicodemos Jobim, e estou tentando encontrá-lo na internet.

    Caso alguém tenha alguma outra informação útil e puder compartilhar, serei grato.

  10. Abelardo Nunes // 26 de julho de 2021 em 21:05 //

    Gostaria de saber sobre os Nunes e Magalhães do Povoado Brejo Novo em Anadia, pois um antepassado meu chamado José Nunes Pereira de Magalhães faleceu em Anadia no ano de 1860. Estou fazendo a genealogia de meus antepassados e gostaria de saber o nome dos pais dele e a origem do mesmo.

  11. Amei a matéria… meu avô paterno nasceu nessa cidade em 1901… que legal! Obrigada por recuperar essa história!

  12. Gilberta Pereira dos Santos // 23 de janeiro de 2022 em 16:02 //

    Eu gostaria de saber sobre a família Pereira que minha mãe era descendente de português como posso descobrir mais sobre meus familiares!!!

  13. Pedro Tenório de Albuquerque Cavalcante
    Procuro informações sobre a família Tenório que viveram ou vivem nesta região de Anadia. Se tiverem informações de Joaquim Ferralho, nascido em 1841 faleceu em 1920, e sua esposa Francisca Maria da Conceição. Ambos falecidos.

    Favor enviar informação no Cel Whatz 11.940095754
    Prof,Pedro

  14. Angela F Silva // 1 de outubro de 2023 em 00:54 //

    Estou fazendo buscas por antepassados paternos (Oliveira) e maternos (Domingos dos Santos). Sei que por parte de minha mãe a família era grande. Mamãe contava que meu avô casou duas vezes.

  15. Gostaria de informações sobre a família de Rozeno ou Rozendo Quincas de Almeida
    Meu pai nasceu em Anadia , filho de Antônio e Severina e sobrinho de Rozeno

  16. Andre Ramos // 11 de março de 2024 em 14:03 //

    Oi Solange.. Tenho a genealogia como hobby (nao sou profissional).. Alguma relacao com Abraao Quinca(s) de Almeida nascido em 1922 em Caicara, PB e falecido em 1977 no mesmo local?

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