Albuquerque Lins, o alagoano que governou São Paulo

O Presidente Albuquerque Lins participa, em 1911, do lançamento da pedra fundamental da construção do novo Presídio de São Paulo, que ficaria conhecido como Carandiru
Albuquerque Lins, Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. O MALHO, Ano VI, nº 244, 18 de maio de 1907

Albuquerque Lins, Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. O MALHO, Ano VI, nº 244, 18 de maio de 1907

Por Etevaldo Amorim

À época do Império, alguns paulistas governaram Alagoas: José Joaquim Machado de Oliveira (14/12/1834 a 15/05/1835); Antônio Moreira de Barros (09/09/1867 a 22/05/1868); Antônio Caio da Silva Prado (de 05/09/1887 a 16/04/1888). Mas pouca gente sabe que um alagoano já governou São Paulo. Trata-se de Albuquerque Lins, que esteve à frente da governança do maior estado do País de 1º de maio de 1908 a 1º de maio de 1912.

Manuel Joaquim de Albuquerque Lins nasceu em São Miguel dos Campos (AL) no dia 20 de setembro de 1852. Era filho de Manuel Joaquim de Albuquerque Lins e de Orminda da Rocha e Silva. Seu pai era dono de engenho de açúcar.

Fez seus primeiros estudos em sua cidade e, aos 14 anos, seguiu para Salvador, na Bahia, onde estudou humanidades no Seminário Arquiepiscopal. Cursou teologia, mas não foi ordenado por não ter a idade exigida. Decide completar seus preparatórios em Pernambuco, em 1871. Concluídos esses Exames, já em janeiro de 1873, chega ao Recife para ingressar na Faculdade de Direito[i], recebendo o grau de bacharel em ciências jurídicas e sociais em 1877, em companhia de Rosa e Silva, J. J. Seabra, Leão Velloso, José Paranaguá e outros.

Nesse mesmo ano, volta a Alagoas, sendo nomeado Promotor Público no município de Anadia, onde permaneceu pouco mais de um ano, até transferir-se para a Província de São Paulo, a conselho do Visconde de Sinimbu, que era seu primo. Aí foi Juiz Municipal e de Órfãos de Santos e São Vicente e Juiz de Direito de São Simão e Ribeirão Preto, sendo posteriormente removido, a pedido, para Tatuí.

A Chapa Rui Barbosa/Albuquerque Lins em 1910

A Chapa Rui Barbosa/Albuquerque Lins em 1910

Nomeado, em 1885, Chefe de Polícia do Paraná, não chegou a tomar posse em virtude da queda do Gabinete do Conselheiro Saraiva e o afastamento dos liberais do poder em agosto daquele ano. Pedindo exoneração da magistratura, foi declarado juiz de direito avulso e fixou definitivamente residência na capital paulista, onde se dedicou à advocacia e passou a colaborar na imprensa.

Em 1881, casa-se com a Srtª Helena de Souza Queiróz, filha do Barão Souza Queiroz[ii], de tradicional e rica família Sousa Queirós, de muita influência no Partido Liberal da Província de São Paulo, sendo eleito Deputado Provincial pelo 5° Distrito para a Legislatura 1888-1889, que seria a última do Império.

Em 1889, foi nomeado Presidente da Província do Rio Grande do Norte, pelo Ministério Ouro Preto, mas não chegou a tomar posse.

Foi eleito vereador à Câmara Municipal de São Paulo para o triênio de 1899-1902, ocasião em que presidiu aquela Casa Legislativa.

Em 16 de dezembro de 1901 foi eleito para a vaga de Paulo de Sousa Queirós no Senado Estadual, e tomou posse em 8 de abril de 1902. Renunciou em 2 de maio de 1904, para se tornar Secretário da Fazenda no Governo do Presidente do Estado Jorge Tibiriçá (1/5/1904-1/5/1908), permanecendo até 31 de outubro de 1907. À frente da Secretaria, atuou em defesa da política de valorização do café adotada em face da grande safra cafeeira do período, que abriu uma tremenda crise econômica no estado e muito preocupou o governo.

Como Presidente de São Paulo, graças à sua gestão na área financeira, quando da disputa pela indicação do candidato à sucessão de Jorge Piratininga, venceu o ex-presidente Campos Sales na convenção do PRP. Formada a chapa governista, foi eleito em 1º de março de 1908, tendo como vice Fernando Prestes de Albuquerque, e tomou posse em 1º de maio de 1908, com mandato até 1º de maio de 1912.

Funerais de Albuquerque Lins, vendo-se à frente do cortejo o Dr. Washington Luiz, que viria a ser Presidente da República e o Dr. Carlos de Campos, então Presidente de São Paulo. Foto: Fon-Fon, 16 de janeiro de 1926

Funerais de Albuquerque Lins, vendo-se à frente do cortejo o Dr. Washington Luiz, que viria a ser Presidente da República, e o Dr. Carlos de Campos, então Presidente de São Paulo. Foto: Fon-Fon, 16 de janeiro de 1926

Nas eleições para presidente da República em 1910, foi candidato a vice-presidente na chapa civilista de Rui Barbosa, derrotada pela chapa Hermes da Fonseca-Venceslau Brás. Teve assim perturbados os dois últimos anos de seu governo, quando ocorreu uma tentativa de intervenção federal em São Paulo pela vindita do marechal Hermes, afinal evitada. Ao término de seu governo, transferiu o cargo para o sucessor Francisco de Paula Rodrigues Alves.

Em 8 de fevereiro de 1913 foi eleito senador estadual para o período de 1913 a 1921, e em 29 de abril de 1922 foi reeleito para o período de 1922 a 1930. Foi importante proprietário rural em Limeira e presidente do Banco Popular de São Paulo, depois denominado Banco Provincial de São Paulo.

Faleceu em São Paulo, a 7 de janeiro de 1926, em pleno exercício do mandato de Senador Estadual. Seu sepultamento se deu no dia 8 de janeiro de 1926, às 17:00 horas, saindo da sua residência à Rua da Liberdade, 87[iii].

Deixou fortuna particular calculada em cerca de 10.000 contos de réis. Era sócio de uma casa Comissária de Exportação em Santos, abastado fazendeiro e proprietário de diversos imóveis na Capital Paulista, inclusive o Palacete (com teatro) Santa Helena, na Praça da Sé.

De seu casamento com Helena de Souza Queirós, teve seis filhos: Joaquim, José, Antônio, Carlos, Álvaro, Anna Helena, Helenita e Maria.

Em sua homenagem foi criado, pela Lei nº 1.708, de 27 de dezembro de 1919, o município de Albuquerque Lins, que, em 1926, teve alterada a denominação para Lins.

FONTES:
AMARAL, A. Dicionário; Correio Paulistano (8/1/1926); EGAS, E. Galeria (v.2); Folha da Manhã (8/1/1926); FONSECA, A.; IGNÁCIO, A.; BRISOLLA, C. São Paulo; Municípios e distritos; RIBEIRO, J. Chronologia; RIBEIRO, A. Governantes.
CPDOV – FGV
ABC DAS ALAGOAS, FRANCISCO REYNALDO AMORIM DE BARROS

[i] Diário de Pernambuco, 10 de janeiro de 1873.
[ii] Falecida a 4 de abril de 1936. A Nação, 5 de abril de 1936.
[iii] A Manhã, RJ, 8 de janeiro de 1926, p. 2

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*