Alberto Passos Guimarães, um intelectual autodidata

Em 1947, Alberto Passos Guimarães faz palestra em Maceió na sede do PCB, na Rua do Comércio
Waldemar Cavalcanti, José Auto, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Alberto Passos Guimarães em Maceió no ano de 1933

Valdemar Cavalcanti, José Auto, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Alberto Passos Guimarães em 1933

“Um alagoano nascido em 1908 que nunca frequentou uma faculdade e mal terminou o colégio deixou uma obra rica e que merece ser estudada. Ele escreveu, entre outras coisas, sobre Economia, Estatística e sobre a questão agrária. O nome dele é Alberto Passos Guimarães, um autodidata que lutou pela justiça social”.

Essa foi a descrição que o jornalista Diego Barros fez desse militante do PCB quando da inauguração da Biblioteca Alberto Passos Guimarães, ligada ao Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral).

Filho do comerciante e depois despachante federal Américo Passos Guimarães e de Afra Amorim Guimarães, Alberto Passos Guimarães nasceu em Maceió no dia 16 de abril de 1908. Largou a escola aos 9 anos para ajudar o seu pai, antes mesmo de concluir o Curso Secundário. A partir daí foi autodidata para o resto da vida.

Durante boa parte da sua infância residiu na Rua XV de Novembro, atual Rua do Sol, no casarão que depois veio a ser a sede do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.

Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti, fundadores em 1931 da revista Novidade

Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti, fundadores em 1931 da revista Novidade

Casou-se com Zulmira Taveiros Guimarães, com quem teve dois filhos: Zulma Taveiros Guimarães e Alberto Passos Guimarães Filho.

Herdou do pai, que foi presidente do Clube Fênix Alagoana, o gosto pela convivência social. Em 1930 participava da diretoria do Clube como 2º Secretário.

Em Maceió, trabalhou como comerciante e jornalista. Fez parte da cena intelectual, ao lado de Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Rachel de Queiroz e Valdemar Cavalcanti. Em 1931 fundou, juntamente com este último, a revista Novidade, onde diversos autores publicaram seus textos, entre eles Carlos Paurílio, Aloísio Branco, Willy Lewin, Diégues Júnior e Santa Rosa.

Como forma de lutar pela justiça social, em 1931 Alberto Passos Guimarães iniciou sua militância no PCB. A atuação como jornalista no jornal A Vanguarda Operária é uma evidência da sua ligação com o movimento operário alagoano.

Sua crescente popularidade política pode ser aferida em novembro de 1934, a Gazeta de Alagoas promoveu um plebiscito para conhecer a vontade popular na indicação do governador do estado. A maioria optou por Fernandes Lima, ficando Alberto Passos Guimarães em segundo lugar.

Em maio de 1935 é criada a Aliança Nacional Libertadora em Alagoas. O Diretório Central era composto por Sebastião da Hora, presidente; Ruy Soares Palmeira, vice-presidente; Zeferino Machado, secretário; Odilon Mascarenhas, tesoureiro; Alberto Passos Guimarães, Olympio Sant’Anna e Jacques de Azevedo, na comissão de adesão; e o jornalista Humberto Bastos na direção de publicidade.

Alberto Passos Guimarães dirigiu o IBGE e a Rede Ferroviária

Alberto Passos Guimarães dirigiu o IBGE e a Rede Ferroviária

Com a tentativa golpista dos integralistas em 1937, Getúlio Vargas implanta, em novembro, o regime ditatorial que ficou conhecido como Estado Novo. Inicia-se um novo período de perseguição aos comunistas.

Em Alagoas, vários militantes do PCB são acusados de terem articulado um assalto ao Banco de Maceió e processados com base na Lei de Segurança Nacional. Alberto Passos Guimarães consegue fugir, mas é preso no dia 3 de janeiro de 1939.

No dia 7 de março do mesmo ano os acusados relacionados no Processo nº 512 são julgados pelo Tribunal de Segurança Nacional. Alberto Passos Guimarães é condenado a cinco meses de prisão.

No mesmo processo, ainda são condenados os seguintes militantes comunistas: José Feitosa, a um ano e seis meses de prisão. Manoel Vieira da Silva, Pedro Alves de Oliveira, Octacílio Leite de Araujo, a um ano e três meses de prisão.

Antonio Manoel do Nascimento, Antônio Valentin dos Santos, José do Nascimento, Luiz da Costa Lima e Antônio Vicente Ferreira, condenados a sete meses e quinze dias de prisão. Abel Tenório de Oliveira e João Ferreira Coimbra, a seis meses de prisão.

Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti foram destacados intelectuais em Alagoas

Alberto Passos Guimarães e Valdemar Cavalcanti foram destacados intelectuais em Alagoas

Geraldo Nicodemus, Antônio de Oliveira Valença, Nelson Ayres, José Carlos de Almeida, David Mendonça, Wilson Rodrigues Câmara, Júlio de Almeida Braga, Benedito da Hora e José Américo dos Santos, todos condenados a três meses de prisão.

Francisco Cassiano, Benedito Carlos Rufino, Waldemar Cavalcanti, Sylvio Nolasco, Zadir de Araújo Silva, Afrânio Cavalcanti Mello, André Papini Góes, Olympio Sant’Anna e Herozendo de Souza Vieira e Josino de Sá Cavalcanti, mesmo sendo processados, não foram sentenciados.

No ano seguinte, após esse processo, Alberto Passos Guimarães muda-se para Salvador, fugindo de perseguição política. Na capital baiana rapidamente se integra à vida cultural e intelectual da cidade. No final de 1944, aparece como membro da delegação baiana que participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, realizado em 1945, quando foi indicado para a Comissão de Assuntos Políticos.

No início de 1945 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou inicialmente como representante comercial através de sua pequena firma chamada Organização Brasil Ltda. Sem abandonar a militância política, em março de 1945 participa ativamente das articulações para o lançamento da candidatura a presidente do brigadeiro Eduardo Gomes.

Nos anos 1950 trabalhou no IBGE e no final dos anos 1960 na Rede Ferroviária Federal. Ao se aposentar, convidado por Antônio Houaiss, participou do projeto e redação da Enciclopédia Mirador (do grupo Enciclopédia Britânica do Brasil).

Durante todo este tempo atuou como militante no PCB, destacando-se como intelectual e homem de imprensa do Partido. Trabalhou no jornal Imprensa Popular, no semanário sobre cultura Para Todos (dirigido por Jorge Amado e Oscar Niemeyer) e foi diretor do jornal Hoje, publicação diária que teve vida muito curta nos anos 1960.

Participou na redação de um documento conhecido como Declaração de Março (de 1958) que produziu uma inflexão na política do PCB, que passou a atribuir maior relevância à questão democrática, e à participação no jogo político democrático. Nesse processo teve um papel importante o chamado “Grupo Baiano”, do qual também faziam parte Giocondo Dias e Armênio Guedes.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 24 de dezembro de 1993, deixando um expressivo legado intelectual e uma destacada história de militância política.

Livros mais conhecidos

Inflação e Monopólio no Brasil – Por Que Sobem os Preços? (1962).
Quatro Séculos de Latifúndio (1963, reeditado em 1968).
A Crise Agrária (1978).
As Classes Perigosas: Banditismo Rural e Urbano (1982).

Fontes: Wikipédia; Pesquisa de Luiz Nogueira Barros para o fascículo Memória Cultural de Alagoas, da Gazeta de Alagoas; e artigo da Fundação Dinarco Reis.

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